Ciência Pioneira prevê investir meio bilhão em dez anos em pesquisas inovadoras

Iniciativa em conjunto com Instituto D'Or faz parceria com entidade de ganhadora do Nobel

Ciência Pioneira prevê investir meio bilhão em dez anos em pesquisas inovadoras
Reprodução

Incentivar e apoiar talentos com espírito inovador a perseguir questões científicas com potencial disruptivo. Essa é a missão da Ciência Pioneira, iniciativa independente de apoio à ciência de fronteira criada em parceria com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. Sem fins lucrativos, o projeto vai investir mais de R$ 500 milhões em pesquisas de ponta nos próximos dez anos.
 

Fundada e financiada pela família Moll, controladora do Grupo D’Or, a iniciativa tem como foco o investimento em linhas de estudo promissoras e pouco exploradas na interface entre as ciências biomédicas e de saúde e as ciências exatas. Por meio de parcerias estratégicas com instituições no Brasil e no exterior, o foco é estimular a ciência de fronteira (ou “maverick”), pesquisas com grande potencial de impacto.

“Queremos engajar a sociedade, a iniciativa privada e filantrópica e contribuir para desenvolver a ciência de fronteira no Brasil. O que podemos fazer como financiadores sempre será limitado. Mas nossas ações têm o poder de catalisar mudanças maiores, que podem se propagar na cultura e nos sistemas de ciência em todo o mundo. Todos nos beneficiaremos de um mundo em que os cientistas possam explorar, com rigor científico, suas ideias mais ousadas”, afirma Jorge Moll Neto, médico e neurocientista cognitivo e um dos idealizadores da Ciência Pioneira.
 

Parceria com Jennifer Doudna, ganhadora do Prêmio Nobel
 

Em pouco mais de um ano de criação, a Ciência Pioneira já soma parcerias de impacto em busca desse objetivo. Entre os acordos em operação está a cooperação com o Innovative Genomics Institute (IGI), organização fundada pela ganhadora do Prêmio Nobel de Química 2020 Jennifer Doudna e vinculada à Universidade da Califórnia BerkeleyA parceria, que tem duração inicial de seis anos, prevê intercâmbio de pesquisadores e encontros para discussões de novas frentes de pesquisa clínica. Serão investidos US$ 4 milhões (cerca de R$ 20 milhões) no projeto, que inclui montar laboratórios de pesquisa em edição gênica para desenvolver tratamentos para doenças de base genética e câncer.

A Ciência Pioneira receberá pesquisadores e executivos do IGI no Rio de Janeiro, de 17 a 21 de outubro. 

Eles vão participar de seminários e debates com pesquisadores brasileiros no IDOR e visitar hospitais da Rede D’Or. Além de integrantes da equipe do IGI, estarão os pós-docs brasileiros Thyago Leal Calvo e Bruno Solano, apoiados pela iniciativa, que desde o início do ano estão atuando e sendo treinados no IGI, na Califórnia.
 

O IGI é líder nos estudos com a técnica de edição genética CRISPR, desenvolvida por Doudna com a microbiologista francesa Emmanuelle Charpentier. O método permite editar com precisão o DNA de microorganismos, plantas e animais e rendeu às pesquisadoras o Nobel de Química em 2020. Desde então, tem sido alvo de estudos para aplicação no tratamento de doenças humanas e em outras áreas – daí o interesse da Ciência Pioneira em impulsionar pesquisas com o método no Brasil. “A ideia é ter um leque de pesquisadores aprendendo a técnica para retornar ao Brasil e desenvolver estes métodos no país”, diz Calvo, PhD em biologia molecular e genômica.
 

Brasileiros no IGI pesquisam doença de Alzheimer e anemia falciforme
 

Calvo busca maneiras de frear o avanço da doença de Alzheimer, que reduz a função cognitiva e a memória. “A doença de Alzheimer é muito complexa, e justamente por isso não há ainda tratamentos muito eficazes. Há alguns recursos farmacológicos para melhorar alguns sintomas, mas é uma doença progressiva. Estamos apostando em abordagens inovadoras que julgamos ser mais promissoras”, afirma.
 

O outro pesquisador na parceria com o IGI é Bruno Solano, médico especialista em terapia celular vinculado ao IDOR e à Fiocruz. Seu projeto estuda alternativas para diminuir custos do uso de terapia gênica para o tratamento da anemia falciforme, doença genética que leva a complicações graves e com alta prevalência na população negra.
 

“É um grande problema de saúde no Brasil, especialmente na Bahia, onde a taxa é bem elevada, de 1 para cada 650 nascidos vivos. Por muitos anos, não se olhou para ela. Com a terapia gênica, surgiram possibilidades de tratamento em que você retira as células-tronco do paciente, faz essa edição gênica com a técnica do CRISPR no laboratório e depois transplanta de volta para corrigir o defeito genético que provoca a doença. O problema é que essas terapias podem chegar a US$ 2 milhões por paciente. Nosso objetivo é desenvolver alternativas mais acessíveis e de menor custo”, afirma.
 

Além do trabalho sendo realizado no IGI, os laboratórios do IDOR em São Paulo e Salvador também participarão dos estudos. A Ciência Pioneira já concretizou acordos com universidades e centros de pesquisas. Entre eles, estão Weizmann Institute of Science (Israel), Quantum Biology Tech Lab-UCLA (EUA), Usona Institute (EUA), Stanford University (EUA), King’s College London (Inglaterra), Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil).