Crime

Jovem judeu é recebido com suásticas por alunos de escola de elite de SP

Gesto antissemita ocorreu na Beacon School, uma das mais caras de São Paulo, conforme divulgado pela coluna Mario Sabino, do portal Metrópoles

Jovem judeu é recebido com suásticas por alunos de escola de elite de SP
Foto: Pixabay

Um estudante de origem judaica de 15 anos foi vítima de bullying e antissemitismo na Beacon School, uma das escolas bilíngues mais caras de São Paulo. Alunos da escola desenharam suásticas e colocaram um hino da juventude hitlerista para tocar com o objetivo de fazer bullying contra a vítima. A punição da escola teria se limitado a dois dias de suspensão para os agressores.

Segundo a advogada Ana Paula Siqueira, presidente da Associação SOS Bullying, única do Brasil voltada ao atendimento para vítimas, a gravidade do ato pode ter consequências jurídicas tanto para a escola quanto para os autores e seus responsáveis.

Caracterizado como perseguição sistemática de uma ou mais pessoas contra uma vítima, o bullying foi incluído no Código Penal brasileiro em janeiro de 2024 e pode render pena de reclusão de até quatro anos aos seus autores.

O assunto também é tema da Lei 13.185/2015, que institui o Programa Nacional de Combate à Perseguição Sistemática (Bullying), e prevê medidas que devem ser adotadas pelas instituições para prevenir a ocorrência de casos.

Segundo relatos, não seria a primeira vez que atos antissemitas ocorrem dentro da Beacon School. “É um caso grave de intolerância racial e religiosa. É preciso oferecer atendimento adequado para a vítima e a escola precisa implantar um programa efetivo de combate ao bullying, que atenda as iniciativas preconizadas por lei”, explica Ana Paula.

A Beacon é uma escola bilíngue voltada aos filhos das classes mais ricas de São Paulo. A mensalidade do período integral é de cerca de 8 mil reais.

A vítima é nova na escola e foi recebida com bullying por seis colegas, que desenharam suásticas para marcar a presença do aluno judeu na classe. Eles também teriam feitos saudações nazistas e colocado hinos hitleristas para tocar na escola.

O jovem relatou o caso aos pais, que exigiram providências. A escola, então, teria suspendido os agressores por dois dias. O aluno agredido não quer mais estudar na Beacon School.

Após a repercussão do caso, a Beacon emitiu uma nota aos pais de alunos, informando que “ao tomarmos conhecimento de um caso de manifestações de apologia nazista no ambiente escolar, a direção da Beacon imediatamente deu início a um processo responsável e cuidadoso de apuração dos fatos. De posse das informações apuradas, consequências foram aplicadas, contemplando sanções e propostas de trabalhos educativos e reparadores”.

Os pais do aluno traumatizado estudam tomar medidas judiciais sobre o caso.

Ana Paula explica que a legislação considera a escola responsável pelo bullying originado no ambiente escolar, mesmo que ele ocorra em redes sociais, por exemplo. “É dever da escola identificar esse tipo de comportamento e impedir o bullying. A violência, de qualquer forma, não pode ser normalizada, especialmente dentro de um ambiente que deveria ser seguro, como a escola”.

Além do bullying, já previsto no código penal art.146A, também temos o racismo, cuja a lei foi alterada em janeiro de 2023:

Art. 20-C. Na interpretação desta Lei, o juiz deve considerar como discriminatória qualquer atitude ou tratamento dado à pessoa ou a grupos minoritários que cause constrangimento, humilhação, vergonha, medo ou exposição indevida, e que usualmente não se dispensaria a outros grupos em razão da cor, etnia, religião ou procedência. (Incluído pela Lei nº 14.532, de 2023)

A situação ocorre em meio ao conflito entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza e após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificar as ações do exército de Israel como genocídio, comparando a situação ao extermínio de judeus na Segunda Guerra.

A Beacon Scholl enviou a seguinte nota à coluna de Mário Sabino, do Metrópoles:

NOTA DE POSICIONAMENTO

São Paulo, 11 de março de 2024

Tão logo tomou conhecimento sobre o episódio de antissemitismo na escola, a Beacon School adotou, imediatamente, uma série de medidas, incluindo o afastamento dos alunos agressores e acolhimento à família afetada.

A Beacon School reitera que repudia veemente toda e qualquer manifestação de ódio e destaca a sua firme posição contra qualquer forma de discriminação, tanto dentro, quanto fora do ambiente escolar, seja ela relacionada à nacionalidade, etnia, religião, raça, gênero ou quaisquer outros aspectos.

A Beacon está investigando cuidadosamente os fatos, para que as sanções sejam aplicadas de forma responsável. Além disso, a escola ampliará o foco, já presente em seu projeto pedagógico, de formação contra qualquer ação discriminatória, envolvendo também as famílias da comunidade escolar e convidando-as a compor um Grupo de Trabalho (GT) com foco em formação de combate ao antissemitismo, a exemplo do que já realiza com o GT antirracista.

A Beacon reitera o compromisso de atuar com celeridade diante de qualquer situação discriminatória, apurando os fatos em detalhe e com firmeza, aplicando as sanções cabíveis, incentivando sempre a reflexão para estimular a aprendizagem com o objetivo de formar cidadãos éticos, conscientes e comprometidos com a construção de uma sociedade mais pacífica e igualitária.

Beacon School