Decisão Polêmica

Senado aprova PEC que limita decisões monocráticas do STF

Texto segue para Câmara dos Deputados e pode reduzir poder de ministros

O relator da PEC, Esperidião Amin, e Rodrigo Pacheco na votação da proposta - Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O relator da PEC, Esperidião Amin, e Rodrigo Pacheco na votação da proposta - Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O Senado aprovou nesta quarta-feira (22), em dois turnos, a proposta de emenda à Constituição (PEC) 8/2021, que limita decisões individuais de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Foram 52 votos a favor e 18 contrários, o mesmo placar nos dois turnos. Eram necessários 49 votos para aprovação da PEC. O texto segue agora para a análise da Câmara dos Deputados.

A proposta, desde o início, dividiu os senadores. Alguns defendem que o projeto invade as competências da Suprema Corte. Outros argumentam não ter o propósito de retaliação ao tribunal. Nessa terça-feira (21), o Senado havia aprovado calendário especial para votação da PEC 8/2021, que permitiu a votação em dois turnos no mesmo dia, sem sessões de intervalo.

Decisões monocráticas

As decisões monocráticas são aquelas tomadas por apenas um magistrado. Pela sua natureza, trata-se de uma decisão provisória, uma vez que precisa ser confirmada pelo conjunto dos ministros da Corte.

Pedidos de vista

Os senadores decidiram retirar da proposta trecho que estabelecia prazos para os pedidos de vista, tempo extra para um magistrado analisar um processo. A proposta original restringia os pedidos de vista para serem de caráter coletivo e “limitados a seis meses e, em caso de excepcional renovação, a três meses, sob pena de inclusão automática do processo em pauta, com preferência sobre os demais”.

Atualmente, cada ministro do Judiciário pode pedir vista individualmente, sem prazo específico, o que possibilita sucessivos pedidos por tempo indeterminado.

Emendas

O relator Esperidião Amin (PP-SC) retirou do texto referência a eficácia de lei ou ato normativo com efeitos “erga omnes” (que atinjam todas as pessoas), assim como qualquer ato do presidente da República. Se mantivesse a proibição de decisões monocráticas nesses casos, a suspensão de política públicas ou outros atos do presidente só poderiam ser tomadas pelo plenário dos tribunais, que no caso do STF é formado por 11 ministros.

Foi incluída emenda que permite a participação das advocacias do Senado e da Câmara dos Deputados quando for analisada lei federal, sem prejuízo da manifestação da Advocacia-Geral da União.

Outras medidas previstas na PEC:

  • Em caso de recesso do Judiciário, será permitida concessão de decisão individual para casos de grave urgência ou risco de dano irreparável. O caso terá de analisado pelo tribunal no prazo de 30 dias após a retomada dos trabalhos, ou a decisão perderá efeito.
  • Processos no STF que tratem de tramitação e propostas legislativas, impacto em políticas públicas, criação de despesas para qualquer Poder também terão de seguir as mesmas regras da PEC.
  • Sobre decisões cautelares acerca de inconstitucionalidade de lei, o mérito deve ser julgado em até seis meses. Após esse período, terá prioridade na pauta em relação aos demais processos.

Análise

A aprovação da PEC é uma vitória para o governo Bolsonaro, que desde o início defendeu a medida como uma forma de reduzir o poder do STF. A proposta ainda precisa ser aprovada pela Câmara dos Deputados, mas é considerada provável que seja aprovada.

A aprovação da PEC pode ter um impacto significativo no funcionamento do STF. A medida pode reduzir o número de decisões monocráticas, que são frequentemente polêmicas. Além disso, a PEC pode dificultar a suspensão de leis ou atos do presidente da República, que são medidas frequentemente utilizadas pelo STF.

A aprovação da PEC também é uma vitória para os críticos do STF, que argumentam que o tribunal tem usurpado o poder do Legislativo e do Executivo. A medida pode ser considerada um sinal de que o governo Bolsonaro está disposto a enfrentar o STF e limitar seu poder.