Ditatorial Total

Celular de ex-diretor da PRF revela fotos de armas, ditadores e pasta com fotos do clã Bolsonaro

Imagens encontradas pela PF e CPMI dos Atos Golpistas podem indicar envolvimento de Silvinei Vasques em atos de apoio a Bolsonaro

Silvinei Vasques e Jair Bolsonaro. Reprodução
Silvinei Vasques e Jair Bolsonaro. Reprodução

Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2023 – Imagens de armas, dos ditadores Adolf Hitler e Benito Mussolini, uma pasta exclusiva de fotos com o clã Bolsonaro, análises de horóscopo e áudios com xingamentos. Tudo isso foi encontrado pela Polícia Federal e pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas no celular de Silvinei Vasques, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Jair Bolsonaro.

As revelações foram feitas nesta segunda-feira (16) pela coluna da Malu Gaspar, no jornal O Globo. Silvinei Vasques está preso preventivamente desde agosto, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Ele é suspeito de participação em atos golpistas por conta de episódios protagonizados pela PRF sob seu comando.

Um dos episódios que chamaram a atenção dos investigadores foi a realização de centenas de blitze no dia do segundo turno das eleições, em áreas onde o voto em Lula (PT) tinha sido mais significativo no primeiro turno. Um documento interno da PRF aponta que a corporação escalou mais agentes de folga para trabalhar nas blitze. Os efetivos foram bem maiores principalmente em regiões do Norte e Nordeste, em redutos eleitorais de Lula.

A PF encontrou uma série de áudios recebidos por Silvinei com xingamentos de colegas da PRF que criticavam os bloqueios de rodovia realizados por apoiadores de Jair Bolsonaro logo após o segundo turno das eleições. O episódio ficou marcado pelas críticas à ação da PRF, apontada como complacente com os atos.

Também foram encontradas fotos dos ditadores Adolf Hitler e Benito Mussolini no aparelho. No caso do alemão que encabeçou o regime nazista, a foto o mostra ao lado de Joseph Goebbels, o ministro de propaganda daquele governo. No caso do fascista italiano, a imagem encontrada é a de sua morte, quando o próprio povo italiano o pendurou, ao contrário, em um posto de gasolina.

Ainda ficou registrada uma foto em que Silvinei aparece segurando uma bazuca e outra com um escudo da PRF formado com balas. Essas e outras imagens correlacionadas mostrariam o apreço do ex-chefe da PRF em relação a cultura armamentista.

Por fim, entre as principais revelações está uma pasta exclusivamente criada para salvar as fotos de Silvinei ao lado de membros do clã Bolsonaro, sobretudo Jair e Michelle, durante o 7 de setembro de 2022, quando o então presidente transformou a celebração do Bicentenário da Independência em um verdadeiro comício eleitoral.

De acordo com as investigações, o celular de Silvinei Vasques teria uma função dupla. Além de ser seu aparelho pessoal, também servia para gerenciar uma série de canais de comunicação de apoiadores do ex-presidente. No entanto, conforme decisão do ministro Nunes Marques, do STF, as novas revelações não poderão ser utilizadas no relatório de 900 páginas da CPMI dos Atos Golpistas elaborado pela relatora da Comissão, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).

Um dado curioso é que não foram encontradas mensagens enviadas por Silvinei no aparelho. Para explicar a situação, a CPMI aposta que o ex-chefe da PRF teria o costume de apagar os dados referentes dos seus arquivos. A motivação seria justamente a prevenção a uma possível quebra de sigilo telemático. Mas são apenas suposições dos parlamentares.

A defesa de Silvinei afirma que não tem conhecimento dos conteúdos relevados e aponta que fotos dos ditadores fascistas podem ser resultado do download automático de conteúdos enviados a ele pelo WhatsApp. “Ele nunca manifestou nenhum tipo de preconceito e discriminação. O que os advogados perceberam é que ele tem amigos brancos, negros e pardos”, diz a defesa em nota.

Análise

As revelações sobre o celular de Silvinei Vasques são significativas, pois podem indicar o envolvimento do ex-diretor da PRF em atos de apoio a Jair Bolsonaro. As fotos de armas e dos ditadores fascistas, bem como a pasta exclusiva com fotos do clã Bolsonaro, sugerem que Silvinei tinha simpatia pelo ex-presidente e suas ideias.

O fato de as novas revelações não poderem ser utilizadas no relatório da CPMI dos Atos Golpistas é um revés para as investigações, mas ainda assim elas podem contribuir para o entendimento dos eventos que levaram ao ataque ao Capitólio em 8 de janeiro de 2023.