Nome Astolfo Bozzônio Rodrigues, usado para ameaçar lésbicas de estupro corretivo, é velho conhecido da web

Ameaças e identidades estão atreladas ao blog "Tio Astolfo, investigado desde 2014, pelo menos

A vereadora Mônica Benício, Psol), viúva da vereadora Marielle Franco, e as deputadas Daiana Santos (PCdoB-RS) e Rosa Amorim (PT), denunciaram ameaças de estupro corretivo como forma de “cura lésbica”.

Além das três denunciantes de hoje, No últo domingo (20), a vereadora de Belo Horizonte (MG)  Iza Lourença (PSOL) lançou nota denunciando ameaças de estupro corretivo que vem sofrendo desde a última semana.

As ameaças são feitas por e-mail e o autor se identifica como Astolfo Bozzônio Rodrigues. Na queixa-crime, a vereadora explica não saber se essa é uma identidade real, e ressalta que há uma conta vinculada a esse nome na rede social X (antigo Twitter), com publicações homofóbicas.

Nossa reportagem apurou que o nome usado para assinar os e-mails já está circulando na web há anos e sempre com os mesmos preceitos, ameaçando lésbicas, difundidos ideias que choquem a sociedade e propagando terrorismo psicológico na web.

Em suas primeiras aparições a identidade assinava os conteúdos de um blog conhecido como Tio Astolfo. um blog jorge criado por um homem que se identificava inicialmente pelo pseudônimo “Doutor Astolfo Bozzônio Rodriguez”, um Ph.D em Psicologia Social por Harvard e que dizia morar na Rússia, que posteriormente se identificou falsamente como Robson Otto Aguiar (um blogueiro do interior do Mato Grosso). Outros dois indivíduos, Cauê Felchar e Babyface, também foram atrelados ao blog. Mais tarde, descobriu-se que os criadores do blog eram usuários do Dogolachan.

O blog surgiu em 2014 e saiu do ar em 2017 após sangria pela mídia, além de ser alvo de 34.300 denúncias e 311 links denunciados.

O conteúdo seguia o mesmo modus operandi dos outros blogs jorges: o falso Silvio Koerich (2011-12), Homem de Bem (2013), Cauê Felchar: Uma Opinião Polêmica (2015), Reis do Camarote (2015-16), Filosofia do Estupro (2017), Natureza Feminina (2017), Rio de Nojeira (2017-18) e Vulgo Joust (2022).

jorge é uma expressão utilizada em fóruns da web para se referir a um certo tipo de troll e attention whore que gosta de espalhar o caos forçando ideias repudiadas pela maioria das pessoas da sociedade, como racismo, misoginia, estupro, pedofilia, entre outras coisas. O termo advém de um meme em que um garoto chileno chamado Jorge queria ser hardcore… mas sua mãe não deixava!

O blog Tio Astolfo, levou o cracker brasileiro Marcelo Valle Silveira Mello para prisão nas operações Intolerância e Bravata da Polícia Federal por crimes tais como racismo, ameaças terroristas, divulgação de pornografia infantil, incitar a violência contra negros, homossexuais, mulheres, nordestinos e judeus, pregar o abuso sexual contra crianças e planejar o assassinato de alunos do curso de Ciências Sociais da Universidade de Brasília (UnB).

Marcelo cumpre pena na Penitenciária Federal de Campo Grande e deverá passar por avaliação neuropsicológica, segundo determinação da 14ª Vara Federal de Curitiba. Em 2009, se tornou a primeira pessoa a ser condenada por racismo na internet no Brasil.

Por volta de 2005, Mello criou comunidades no Orkut e fez amizades e contatos com homens misóginos e racistas de extrema-direita, tornando-se uma liderança em tais grupos. Em 2009 tornou-se o primeiro condenado no Brasil por racismo no universo digital. Ele costumava fazer campanha contra as cotas raciais e publicava conteúdo racista na internet, deixando evidente seu ódio a negros. Neste período ele cursava letras, com ênfase em japonês, na Universidade de Brasília (UnB).

Em 2011, já como um cracker respeitado no submundo da internet, Mello se mudou para Curitiba, onde passou a cursar Direito na PUCPR. Em um dos sites que administrava, o “Silvio Koerich” (uma paródia de outro site de mesmo nome, que era um pseudônimo do criador), internautas comemoraram a ação do atirador Wellington Menezes de Oliveira no Massacre de Realengo. Menezes atirou nas meninas para matar e nos meninos para ferir, o que foi exaltado na página de Mello, onde Menezes era tratado como “herói”.[10]

O site saiu do ar quando a Polícia Civil começou a realizar diligências de busca e apreensão para investigar o atentado de Realengo, mas voltou em agosto de 2011, quando passou a defender a legalização do estupro e da pedofilia, além do “estupro corretivo” para lésbicas. A página exibia publicações com títulos como “seja homem: mate uma mulher hoje”, anunciou um atentado no prédio de Ciências Sociais da UnB para “matar vadias e esquerdistas” e oferecia recompensa a quem matasse o então deputado Jean Wyllys, homossexual declarado, e Lola Aronovich, autora de um blog feminista e professora na Universidade Federal do Ceará.

Recrutamento de extremistas

Marcelo recrutava extremistas dispostos a promover um massacre a estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Investigadores da Polícia Federal descobriram que Marcelo planejava os últimos detalhes do ataque aos estudantes. Em várias mensagens divulgadas na internet, Marcelo convocava seguidores a pegar em armas. Os alvos seriam os alunos do curso de Ciências Sociais. As ameaças levaram os agentes a deflagrarem a Operação Intolerância, que também colocou atrás das grades Emerson Eduardo Rodrigues. “Pelo que se desenhava, eles estavam procurando pessoas habilitadas a morrer por essa causa doentia”, afirmou o delegado responsável pelas investigações, chefe do Núcleo de Repressão a Crimes Cibernéticos (NRCC), unidade de elite da Polícia Federal no Paraná.

Operação Bravata

Após um ano e seis meses detido no Paraná, ganhou o direito de cumprir pena em liberdade. Mello então voltou a criar páginas criminosas na internet. Entre elas, o blog “Tio Astolfo” (que fazia apologia ao estupro de mulheres) e o “Dogolachan”, onde utilizava os apelidos como “Psy” e “Batoré” e que só é acessível pela rede Tor. Ele também mantinha um perfil no Twitter com seu nome e foto, onde escrevia ameaças. Em 2015, uma equipe do programa Profissão Repórter, da Rede Globo, tentou entrevistar Mello, porém ele se recusou a responder perguntas. Em 10 de maio de 2018, Mello foi preso novamente durante a “Operação Bravata” da PF. Marcelo é acusado ainda de criar os blogs “Realidade”, “Homens de Bem”, “Reis do Camarote”, “PUAHate”, “Filosofia do Estupro” e “Rio de Nojeira”.

Mello recebeu pena de 41 anos, 6 meses e 20 dias de prisão por racismo, coação, associação criminosa, incitação ao cometimento de crimes, divulgação de imagens de pornografia infantil e terrorismo cometidos na internet. A decisão do juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, também o condena a pagar 1 milhão de reais como reparação de danos e 678 dias-multa (no valor de um décimo do salário mínimo vigente em dezembro de 2016). O valor da reparação de danos, segundo o despacho, será destinado a programas de combate aos crimes cibernéticos e programas educativos da área. O magistrado considera “inequívoca” a periculosidade de Marcelo. “Solto, ele pode ser uma verdadeira ameaça à ordem social. Não só na condição de autor de delitos como na divulgação de imagens de pornografia infantil e racismo, mas também como grande incentivador de cometimento de crimes ainda mais graves por parte de terceiros, como homicídios, feminicídios e terrorismo.”

Ao fixar a reparação de danos de R$ 1 milhão e ao pagamento de 678 dias-multa (no valor de um décimo do salário mínimo vigente em dezembro de 2016), o juiz afirmou que, mesmo já tendo sido condenado uma vez, “o réu não só voltou a praticar delitos da mesma natureza (racismo e divulgação de imagens de pedofilia) como outros até piores do que aqueles objeto da condenação anterior, demonstrando que a pena corporal não é suficiente