Debate presidencial e verdades inconvenientes

O primeiro debate presidencial patrocinado por UOL, Band, Cultura e Folha conseguiu a proeza de juntar no mesmo evento Lula e Bolsonaro. E tal fato é algo relevantíssimo para a defesa do próprio processo democrático.

O primeiro debate presidencial patrocinado por UOL, Band, Cultura e Folha conseguiu a proeza de juntar no mesmo evento Lula e Bolsonaro. E tal fato é algo relevantíssimo para a defesa do próprio processo democrático.

Não havia escapatória para ambos, pois o lugar vazio de um serviria de palco para o outro, além de alavancar a projeção dos demais. Difícil seria ambos não comparecerem, pois a desconfiança da presença de um deles, na última hora, derrubaria o outro.

Sorte dos eleitores e do Brasil.

Lula e Bolsonaro puderam ser comparados com Simone Tebet, Ciro Gomes, Soraya Thronicke e Felipe D’Avila. E a comparação foi de água para vinho.

O que se viu foi o esperado: Tebet incisiva, com a já conhecida autoridade em sua oratória; Ciro Gomes, com um robusto plano de trabalho, conhecimento e repetindo a boa abordagem da sabatina do Jornal Nacional; Lula jogando na defensiva contra a notória corrupção do governo petista, e Bolsonaro com sua péssima oratória, além todas as mazelas de seu governo negacionista, antivacina,  conspiracionista, do sigilo de cem anos e suas contradições e inconsistências.

No bloco no qual as perguntas eram efetuadas entre candidatos, ficou evidente que Ciro, Simone, Soraya e Felipe trocavam perguntas para conseguirem o espaço que os meios de comunicação nunca lhes deram na proporção dada a Lula e Bolsonaro.

Simone ocupou-se de Bolsonaro, reforçou sua vivência como professora de Direito Administrativo e Senadora; Ciro expôs algumas nuances de seu plano; Soraya defendeu o imposto único de Marcos Cintra e Felipe focou na privatização total dos bens do Estado.

Um debate que ficará marcado por verdades inconvenientes. Verdades as quais os dois líderes de pesquisas tentam escamotear a todo tempo: Lula não tem qualquer defesa contra a corrupção cavalar da gestão PT, o desastre econômico do segundo mandato de Dilma, e Bolsonaro misógino, agressivo, que terceiriza responsabilidades, distorce fatos, números e descontextualiza discursos para justificar mentiras.

Sabemos que liderança e comando se exercem em mares bravios, e cargo de presidente não tem como garantia navegar apenas em mar calmo. O mundo não é calmo, e ninguém precisa de comandantes de embarcação somente para mares calmos. Não nos esqueçamos que a China não cresce mais na intensidade dos anos 2000, e que há trilhões de dólares circulando no mundo fruto da emissão monetária da pandemia sem a respectiva riqueza como base geradora. Daí que a recessão de ajuste virá em breve.

Porém, reiteramos, foi muito saudável a oportunidade de experimentar por pouco tempo como seria um confronto de ideias de gestão pública, de mais ou menos estado na administração, estratégias de governo, dentre outros aspectos, se pudéssemos contar apenas com as idéias de Simone Tebet, Ciro Gomes, Soraya Thronicke e Felipe D’Avila.

Seria algo possível, isto se o Poder Judiciário, especialmente, tivesse feito a sua parte. E não deixemos de relembrar a odienta campanha mentirosa de 2018, a PGR e a centena de processos de impeachment os quais encontram-se convenientes engavetados na Presidência da Câmara dos Deputados.

O que nos resta é contar que nestes próximos e derradeiros dias, os meios de comunicação percebam, ao final, que devem dar espaço em seu noticiário e comentários aos demais candidatos, pois a superexposição de Bolsonaro e Lula é também responsabilidade da mídia.

Cássio Faeddo. Advogado. Mestre em Direitos Fundamentais. Especialista em Ciências Sociais – USCS. MBA em Relações Internacionais – FGV/SP