Lipedema: parece excesso de peso, mas não é!

Dra. Thais Mussi, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEMP), explica o que diferencia o lipedema do excesso de peso.

Lipedema costuma ser confundido com quadros de obesidade, varize e linfedema, mas seu enfrentamento requer tratamento específico — Foto: iStock
Lipedema costuma ser confundido com quadros de obesidade, varize e linfedema, mas seu enfrentamento requer tratamento específico — Foto: iStock

“Se você nota suas pernas mais grossas, seus glúteos e tornozelos maiores, como se estivessem inchados, e acredita que isso é fruto de um possível exagero na alimentação, quem sabe até um sinal de obesidade… Calma lá! Pode ser que você tenha lipedema”.

Esse é o alerta da médica endocrinologista e metabologista Dra. Thais Mussi. A confusão é frequente, especialmente no Brasil, onde é estimado que provavelmente cerca de 5 milhões de mulheres têm a doença, mas nem desconfiam disso.

Importante entender por qual motivo isso acontece, mas, antes, o que é o lipedema?

“Lipedema é uma doença progressiva, que gera um grande acúmulo de gordura nos membros inferiores, como pernas, glúteos, joelhos e coxas. Além do acúmulo de gordura, pessoas que convivem com o lipedema costumam perceber inchaço, assim como dor quando toca os locais afetados e, também, ao caminhar”, explica Dra. Thais.

A doença é muito comum em mulheres e nenhum especialista ainda descobriu o motivo por detrás desse quadro. “O que se sabe é que o surgimento do lipedema pode ter relação com alterações genéticas, metabólicas, hormonais e inflamatórias”, esclarece.

Como é comum que as pessoas confundam o lipedema com obesidade, acaba sendo normal que várias tentativas de emagrecimento sejam feitas, o que frustra, já que isso não funciona. Não é tratando a doença como obesidade que a pessoa se verá livre do lipedema.

“O primeiro passo é ter em mente que existem graus da doença e é fundamental para o tratamento entender em qual a paciente está”, adverte a médica.

  • Primeiro grau – a pele continua com um aspecto normal, mas é percebido inchaço durante as atividades do dia a dia, com uma melhora assim que a pessoa descansa.
  • Segundo grau – a superfície da pele é irregular e é possível perceber com facilidade o surgimento de sulcos, como a celulite, por exemplo.
  • Terceiro grau – a pele ganha um aspecto áspero e endurecido e se percebem deformidades, o que é resultado de um acúmulo grande de gordura.
  • Quarto e último grau – além do acúmulo de gordura, há um grande acúmulo de líquidos nos locais, causando lipolinfedema.

“Eu tenho lipedema… Como é o tratamento? Existe uma cura?”

São perguntas frequentes no consultório da Dra. Thaís. “Podemos dizer que os estudos sobre o lipedema ainda são recentes, então, não temos uma cura. Claro, existe tratamento, como, por exemplo, a cirurgia para lipedema. Neste procedimento é feita a retirada do excesso de gordura através da aspiração, o procedimento é realizado por cirurgião plástico ou vascular. Após o procedimento é preciso que o paciente seja monitorado.” Explica.

Ou seja, após uma cirurgia, ainda será preciso prestar atenção na alimentação, tentando identificar os alimentos que são inflamatórios para o corpo e que podem ser gatilhos para a doença. E não somente se atentar à questão alimentar, mas verificar o uso de anticoncepcional e avaliar o perfil hormonal, já que muitas apresentam diabetes, SOP e doenças autoimune, como tireoidite de hashimoto.

“É o que eu sempre falo, e acredito que vale destaque aqui: não adianta tratar o lipedema, se o paciente não contar com uma avaliação hormonal adequada, se não for sanada uma possível inflamação crônica e se não controlar diabetes ou qualquer outra doença”, exemplifica a médica.

Isso significa que é preciso um preparo investigativo para que seja iniciado o tratamento do lipedema e que se avalie individualmente cada paciente. Alguns procedimentos podem melhorar os sintomas.

A médica explica que por se tratar de uma doença inflamatória, as vezes o que inflama uma pessoa não inflama a outra. “O bom senso é evitar carne vermelha, lactose, açúcar refinado, farinha branca, álcool, glúten e alimentos ultraprocessados. O que melhora são alimentos o mais natural possível, como exemplo, adotar como estilo de vida a dieta plant based, e o uso de temperos anti-inflamatórios como açafrão da terra, que é um ótimo aliado.” Finaliza a especialista.

Além disso, exercícios de baixo impacto, de preferência na água, melhora muito a condição.

A drenagem linfática, escovação a seco, meias compressivas e plataforma vibratória podem ser excelentes aliados!

Importante lembrar que cada caso é um caso, e nada substitui o acompanhamento médico.


Dra. Thais Mussi
Dra. Thais Mussi

DRA. THAIS MUSSI -Crm 27542-PR 118942-SP RQE 373

  • Formada em medicina para Universidade do Vale do Itajaí (Univali);
  • Residência em clínica médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo;
  • Residência em endocrinologia e metabologia pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo;
  • Membro titulado da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e
  • Membro do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV);
  • Pós-graduação em Nutróloga pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN);
  • Médica integrante da C.A.S.A Sophie Deram- centro de aconselhamento em saúde alimentar
  • Especializacao em Mindfull Eating
  • Participação em diversos congressos internacionais voltados a Obesidade e Síndrome metabólica