Estudo feito por urologistas da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), com base no banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde, revelou que a pandemia de covid-19 teve maior impacto sobre cirurgias para tratamento de incontinência urinária por esforço nos estados com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo.
A Região Norte foi a mais impactada, com redução de 72% nas internações, seguida pelas regiões Sul (-69%), Centro-Oeste (-61%), Sudeste (-59%) e Nordeste (-51%). Em 2019, foram realizadas 300 cirurgias de incontinência urinária na Região Norte, no âmbito do SUS, caindo para 97, em 2020, e para 85, em 2021, em dados preliminares.
Dia Mundial Nesta segunda-feira (14), quando se comemora o Dia Mundial da Incontinência Urinária, a entidade alerta sobre a perda involuntária de urina, problema que atinge 45% das mulheres e 15% dos homens acima de 40 anos de idade. A diretora de comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Karin Anzolch, destacou, em entrevista à Agência Brasil, que a covid-19 levou hospitais e serviços a priorizarem o atendimento à doença, postergando, ou mesmo cancelando, cirurgias eletivas.
Tipos O tipo mais comum de incontinência urinária é o de esforço, que ocorre, em geral, quando a pessoa ri, tosse, espirra ou faz algum esforço físico, como levantar peso. Em fases iniciais, o tratamento pode ser complementado com fisioterapia pélvica, podendo até evitar a cirurgia. Já em situações que se tornam mais graves, ou que persistem após o primeiro tratamento, a cirurgia é oferecida com ótimos resultados.
Outro tipo de incontinência urinária é o de urgência. A pessoa tem vontade de urinar, mas a bexiga não dá aviso prévio. “O primeiro aviso já vem acompanhado de um desejo forte de urinar e a pessoa, muitas vezes, acaba perdendo urina antes de chegar ao banheiro”. Neste caso, o tratamento geralmente é clínico, incluindo cuidar o tipo e a quantidade de líquido que a pessoa toma, evitar cafeína que também piora esse tipo de sintoma, e a fisioterapia pode entrar no tratamento. Há ainda medicações orais que regulam a bexiga. Os procedimentos cirúrgicos são a última solução, envolvendo toxina botulínica e implante de um tipo de marca-passo para controlar a bexiga. “Mas sempre nas suas fases iniciais é mais fácil o tratamento, porque a gente tem medidas menos invasivas de tratar as doenças”, observou a diretora da SBU.
“Por isso, é importante o acompanhamento pré-natal”. Em termos de histórico familiar, Karin lembrou que tem mulheres que sofrem desse problema, que a menopausa pode piorar. Problemas de próstata e problemas neurológicos, como doença de Parkinson, esclerose múltipla, acidente vascular cerebral, estão ligados à incontinência urinária.
Alguns medicamentos, como os diuréticos, podem contribuir para esses sintomas, porque aumentam a sensação de urgência para urinar, além de pessoas que fazem atividades físicas de alto impacto. No caso das mulheres, Karin ponderou que elas têm que trabalhar o assoalho pélvico para prevenir esse tipo de ocorrência. “Não é só trabalhar a musculatura externa, mas aprender a trabalhar a musculatura que fecha em baixo o assoalho pélvico, que dá sustentação da bexiga e da uretra”. O presidente da SBU, Alfredo Canalini, salientou que esses recursos servem para tratar ou, pelo menos, diminuir a intensidade da perda, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Conscientização Ao longo do mês de março, a Sociedade Brasileira de Urologia vai alertar a população sobre a importância de se identificar os sintomas e tratar a incontinência urinária. Nas redes sociais (@portaldaurologia), a partir de hoje (14), haverá postagens, lives (transmissões ao vivo) e vídeos com especialistas esclarecendo dúvidas sobre o tema.
Na Rádio SBU, haverá também programas especiais, com vocabulário acessível para o público em geral, inclusive sobre a incontinência urinária em crianças. Segundo Karin Anzolch, ainda há muito desconhecimento e, também, preconceito, em relação ao problema da incontinência urinária. Muitas vezes, uma pessoa que sofre desse incômodo, acaba convivendo com ele por longos anos, porque ignora que existem opções de tratamento ou por vergonha de admitir a questão perante outras pessoas.
A diretora da entidade esclareceu que, para as crianças, o tratamento não é o mesmo que o dos adultos. Por um período, admite-se como normal a falta de controle da criança, ligada ao amadurecimento do sistema neurológico, principalmente quando a perda de urina, ou de fezes, ocorre em períodos noturnos. A partir de uma determinada idade, porém, começa-se a suspeitar que a incontinência precisa de algum tratamento. “Porque a perda urinária acaba sendo bastante limitante para a vida social dessas crianças, que acabam passando por situações de constrangimento, deixando de dormir na casa de algum coleguinha”.
Sabe-se que algumas crianças podem ter esse problema por causa genética. “Incontinência urinária em criança é muito ligada à questão familiar. Se já tem alguém na família que fez xixi na cama, essa criança tem mais chance de ter o problema também”, afirmou Karin. Ressaltou também que, muitas vezes, o hormônio antidiurético que deveria ser produzido à noite não funciona. Entretanto, isso pode ser solucionado com medicamentos simples, com treinamento da bexiga, fisioterapia e alarmes, para a criança aprender a educar a sua bexiga. Problemas na medula ou ligados à formação do trato urinário necessitarão de tratamentos específicos, para cada faixa etária e situação, indicou.
“A incontinência urinária não é uma situação que se trata sempre da mesma forma. Ela deve ser abordada individualizando os tipos, pelas faixas etárias, pelas causas mais comuns, para que seja levado ao controle dessa situação”, disse a especialista.
Qualidade de vida Pesquisa publicada na Europa em 2021, envolvendo quase 17 mil pessoas entre 40 e 74 anos de idade, revelou que muitos pacientes lidam com o problema reduzindo a ingestão de líquidos e usando absorventes; quase dois terços dos pacientes apresentam a incontinência urinária há pelo menos dois anos quando procuram tratamento; cerca de 30% dos pacientes que procuram avaliação médica não recebem tratamento; quase 80% sequer são examinados. “Precisamos mudar esse jogo”, destacou Ailton Fernandes, diretor do Departamento de Disfunção Miccional da Sociedade Brasileira de Urologia.