Conheça a ativista Vitória Pinheiro, jovem negra e trans escolhida como referência pela ONU

               Com forte trajetória no ativismo, a pesquisadora amazonense Vitória Pinheiro, de 25 anos, foi nomeada ponto focal da Organização das Nações Unidas para 2022. A jovem, que é negra, trans e natural da periferia de Manaus, foi a única brasileira selecionada para o posto. Ela terá a missão de representar internacionalmente crianças e jovens, participando da Constituinte de Crianças e Juventudes em Comunidades Sustentáveis – mecanismo formal das Nações Unidas.
Vitória atua como diretora-executiva da Palmares, organização de juventude que fundou para buscar soluções que avancem em justiça social e políticas públicas para as juventudes de periferia de todo país.
Ao Brasil de Fato, Vitória afirmou que não pensava em ser ativista, mas que isso aconteceu, principalmente por causa do contexto em que estava inserida. “Sou de um bairro de periferia, que é marcado por situações de pobreza e violência. Quando eu era criança, meus pais diziam que eu não podia mais brincar porque estava muito perigoso. Eu via isso e, quando vi, eu já estava envolvida com os grupos que atuavam na minha comunidade”, contou.
Para ela, o ativismo deveria ser ensinado nas escolas, além de ser um compromisso de todo cidadão. “O ativista é uma pessoa interessada e que se articula para que uma mudança social aconteça. E ela pode ser lida de várias formas. Por exemplo, não permitir o aumento abusivo do transporte público. Participar politicamente é ser ativista”, disse a jovem.
Nascida e crescida no Zumbi dos Palmares, bairro de periferia, Vitória atua na intersecção dos direitos humanos, mobilização ambiental e tecnologias, tendo sido uma das jovens a representar o Brasil na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-26) realizada em Glasgow, Escócia, em 2021. Na ONU, ela diz que terá um papel muito importante para os jovens e crianças mais pobres.
“Eu tenho o intuito de fortalecer a presença e a ação das crianças e da juventude, principalmente nas periferias. A minha missão é facilitar esse engajamento. Meu papel como ponto focal é coordenar o engajamento de grupos coletivos e organizações de base a terem suas visões e perspectivas representadas nestes espaços de tomada de decisão”, explicou Vitória.
“Uma mudança, mesmo que pequena, pode ser possível”
Para a ativista, o governo brasileiro não investe em políticas sociais e algo precisa ser feito para mudar essa realidade. A ponte para essa mudança, segundo ela, podem ser os jovens. 
“Eu fico pensando como a juventude pode participar ativamente das decisões tomadas no nosso país. Isso é algo que me incomoda muito. O que eu posso fazer? A grande mudança que observo é o ímpeto pela mudança da nova geração. Eu acho que isso é o que me leva ao ativismo e o que me faz continuar. Uma mudança, mesmo que pequena, pode ser possível e ela virá a partir das periferias e grupos vulneráveis”, disse.
A ativista critica os gastos bilionários do Brasil com gratificações e pensões para o Judiciário e os militares. “Esse dinheiro poderia estar sendo investido em políticas sociais, dentro da esfera do governo, que estariam gerando muito mais impacto e justiça social às comunidades. Além de uma redistribuição economia, que no nosso contexto é muito necessária”, finaliza.
            Edição: Felipe Mendes