Interrogatórios policiais se multiplicam em Cuba por protestos do dia 15

Havana, 11 nov (EFE).- Com intimações policiais, interrogatórios e outros métodos, as autoridades de Cuba estão tentando impedir que críticos se juntem à marcha de 15 de novembro, que já foi vetada pelo governo, denunciaram ativistas e organizações nesta quinta-feira.

“Não creio que tenha havido um ativista que não tenha sido batido na porta com uma intimação policial, uma ameaça, chantagem ou uma sugestão de que ele ou ela vá em viagem. Em cada caso particular eles procuraram uma maneira de persuadi-lo a não sair no 15N”, declarou a ativista Carolina Barrero à Agência Efe.

Conhecida por suas críticas abertas ao governo, a curadora e historiadora de arte afirma que ela está sob prisão domiciliar há mais de 200 dias, com agentes do Departamento de Segurança do Estado (DSE, a agência de inteligência e contraespionagem) colocados 24 horas por dia do lado de fora de sua porta para impedi-la de sair às ruas.

As prisões domiciliares de ativistas aumentaram nos últimos meses, especialmente após o protesto de 11 de julho, o maior em décadas.

De acordo com a consultoria jurídica Cubalex, uma forte campanha de dissuasão está ocorrendo diante da marcha pacífica proposta para a próxima segunda-feira pelos opositores, que anunciaram sua intenção de sair às ruas apesar de o governo declará-la ilegal.

“As principais queixas que recebemos são sobre citações policiais e interrogatórios de pessoas que disseram publicamente que vão participar do 15N, especialmente aqueles que assinaram a carta de apoio público, que estão sendo sistematicamente perturbados”, afirmou à Efe a diretora da Cubalex, sediada em Miami, Laritza Diversent.

INTERROGATÓRIOS.

A Efe reuniu testemunhos diretos de pelo menos duas pessoas que foram convocadas e questionadas por agentes da DSE em relação a sua possível participação na marcha. Dezenas foram relatadas em redes sociais, muitas delas com fotografias da convocação da polícia.

Um desses casos é o de uma estudante de 22 anos que passou uma semana na prisão em julho passado por se juntar aos protestos que ocorreram em Havana.

“Eles me perguntaram porque participei do 11 de junho, se me considero um contrarrevolucionário, se não concordo com o governo, se conheço Yunior (líder do grupo Archipiélago e um dos idealizadores do 15N), ou se acho que a manifestação do dia 15 está certa”, relatou a jovem à Efe.

A estudante contou que, após interrogá-la, o oficial a obrigou a assinar um documento no qual ela se comprometia a não participar da manifestação na próxima segunda-feira. Em todo caso, ela confessa que não o faria por medo de represálias.

“Nos interrogatórios, o mais típico é a ameaça de que eles serão processados se saírem; também o aviso de não se associarem a pessoas que são familiares dos organizadores ou que declararam publicamente que vão participar, ativistas, defensores, etc.”, reportou Diversent.

No outro caso de que a Efe tomou conhecimento diretamente, o de um homem de meia-idade que havia assinado uma carta de apoio ao 15N, ele declarou que durante o interrogatório em uma delegacia de polícia distrital foi ameaçado de acusação e prisão caso ele se junte ao protesto.

ATOS DE REPÚDIO E DEMISSÕES.

A Cubalex também documentou pelo menos três casos de atos de repúdio por parte de grupos de simpatizantes do governo cubano, que intimidam dissidentes, geralmente em sua casa.

O principal idealizador da manifestação da próxima segunda, Yunior García Aguilera, ouviu gritos e ameaças de pessoas em sua própria casa em 1º de novembro, e uma semana antes um animal morto foi deixado à porta de sua casa. Nem o autor nem o propósito da ação foram divulgados.

Outros ativistas e cidadãos que se opõem ao sistema que existe em Cuba há seis décadas relataram na internet que foram recentemente expulsos de seus empregos em instituições estatais, incluindo o ator Edel Carrero, o professor universitário David Martínez e o médico Manuel Guerra, entre outros.

GOVERNO APONTA PARA OS EUA.

O governo tem insistido nas últimas semanas em desacreditar a marcha de 15 de novembro com uma intensa campanha na mídia estatal – a única mídia oficialmente permitida em Cuba, embora existam alguns portais de notícias online tolerados – e nas redes sociais.

As autoridades afirmam que a marcha tem objetivos “subversivos” e busca a “mudança de regime” em Cuba e alegam que seus organizadores são agentes a serviço da CIA e de outras organizações americanas.

Em última análise, acusa o governo de Joe Biden de ser o verdadeiro instigador dos protestos por subsidiar organizações que fornecem conselhos ou apoio a dissidentes, bem como por manter as sanções econômicas que eles acreditam ter exacerbado a atual situação de escassez e desabastecimento.

Os protestos de 15 de novembro vêm em um momento delicado para os bolsos e paciência dos cubanos, que mal conseguem comprar produtos na moeda local (CUP). As poucas mercadorias disponíveis nas lojas são vendidas em moeda estrangeira – não disponíveis para uma grande parte da população – a preços muito altos e com longas filas de espera. EFE