Ex-presidente colombiano critica governos de empresários: "Um fiasco"

Madri, 11 nov (EFE).- O ex-presidente da Colômbia Ernesto Samper declarou à Agência Efe nesta quinta-feira que a América Latina está caminhando para o fim dos governos de empresários porque, em sua visão, eles têm fracassado.

“A região está passando por uma revisão política devido à pandemia e ao esgotamento dos governos conservadores que não conseguiram garantir a igualdade, mas também não conseguiram administrar a produção. Eles têm sido um fiasco por causa de sua incapacidade”, declarou Samper na Faculdade de Política e Sociologia da Universidade Complutense de Madri (UCM).

O ex-secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) acrescentou que os governos dos empresários da América Latina “estavam envolvidos em esquemas de corrupção nacionais e internacionais”, em uma clara alusão ao aparecimento dos presidentes Sebastián Piñera (Chile) e Guillermo Lasso (Equador) na investigação “Pandora’s Papers” que supostamente os envolveu em irregularidades fiscais.

Na visão de Samper um grande erro foi cometido ao entender que os presidentes que anteriormente ou durante seu mandato estiveram ligados a atividades comerciais e empresariais eram mais eficazes e honestos do que os demais.

A mudança geracional na política latino-americana é apenas uma das questões sobre as quais o ex-chefe de governo da Colômbia, que presidiu o país entre 1994 e 1998, reflete em “Grito latino-americano”, um livro que ele apresentou hoje na universidade de Madri.

A obra é um compêndio de ensaios que Samper começou a escrever em 2014 e acaba de publicar. No livro, ele também analisa as possibilidades de chegar a um modelo alternativo de desenvolvimento na região, estimulado pelo impacto da pandemia.

“O futuro é agora, a mudança climática chegou, e já existem lacunas preocupantes de gênero, salário, etnia e digital, já que metade dos latino-americanos não estão conectados à internet”, destacou.

“A América Latina só tem uma oportunidade se for capaz de abraçar uma agenda progressiva”, considerou Samper, após argumentar que as mobilizações de massa de 2019 no Chile e de 2021 na Colômbia são um reflexo do que definiu como “déficit de governança”.

Para o ex-embaixador colombiano na Espanha, a expansão do uso da internet e das redes sociais na América Latina levou a uma nova consciência cidadã e representa “um grito social” de natureza vingativa que “questiona os sistemas políticos e sua capacidade” de provocar a mudança que a região necessita.

“É necessário desmantelar o presidencialismo como sistema de governo na região e substituí-lo por sistemas parlamentares que poderiam se assemelhar ao modelo da Quinta República Francesa, com um chefe de Estado eleito por maioria simples e chefes de governo concordados pelo parlamento”, sugeriu o ex-presidente como solução para as dificuldades da governabilidade na América Latina. EFE

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