Ex-chefes do Shin Bet instam Biden contra Netanyahu, admitem ‘supremacismo judaico’

Dois ex-diretores do Shin Bet, agência de inteligência interna de Israel, instaram o presidente americano, Joe Biden, a não legitimar o extremismo, a xenofobia e o “golpismo” do gabinete em Tel Aviv, ao convidar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu à Casa Branca. Ami Ayalon – que serviu entre 1995 e 2000 – advertiu que receber Netanyahu equivale a “legitimar o golpe chefiado por seu governo ao enfraquecer o sistema de justiça e impor, portanto, um regime autoritário”. “Esperamos que o presidente dos Estados Unidos deixe claro que nossa aliança demanda manter a identidade israelense no espírito da Declaração da Independência [sic]”, alegou Ayalon. O documento de 1948 coincide com a Nakba – em árabe, “catástrofe” –, isto é, a limpeza étnica de 750 mil palestinos de suas terras ancestrais, ao proclamar em seu lugar um Estado “judaico e democrático”. Governos israelenses de todos os espectros políticos tentaram em vão equilibrar o caráter supremacista judaico do Estado colonial com uma imagem de democracia. Pesquisadores apontam que manter “valores democráticos” contradiz diametralmente a manutenção de um regime etnonacionalista, incluindo colonização, supremacismo e apartheid. LEIA: As palavras de Ben-Gvir expõem a verdadeira natureza do sionismo Yuval Diskin – que serviu de 2005 a 2011 – ecoou seu antecessor, ao pedir à Casa Branca que impeça a tramitação da reforma. “Netanyahu causa danos gravíssimos aos laços estratégicos entre Estados Unidos e Israel, assim como aos interesses americanos no Oriente Médio”. Segundo Diskin, o premiê põe em risco o establishment de segurança e justiça em causa própria, para escapar de processos penais por corrupção e propina. Diskin descreveu o governo como “ilegítimo”, composto por “extremistas de direita, racistas e supremacistas judeus”, que buscam a anexação ilegal da Cisjordânia. Conforme seu alerta, Israel pode se tornar um “fardo estratégico” à Casa Branca. Biden até então evitou convidar Netanyahu publicamente, ao sinalizar descontentamento com a conduta de Israel. O premiê instruiu oficiais e diplomatas, salvo o embaixador, Ron Dermer, a não realizar encontros fora da capital. Recentemente, Netanyahu afirmou receber um convite do presidente americano à Casa Branca – porém, sem confirmação. O premiê deve visitar seu maior aliado neste mês de setembro, caso não haja uma escalada nas próximas semanas. Israel é tomado por protestos desde janeiro, quando o governo anunciou seus planos de reforma judicial, que deve retirar poderes da Suprema Corte em favor do executivo. Analistas alertam para riscos de relações públicas e investimento ao Estado de Israel. LEIA: ‘Denunciar o apartheid não é antissemita, é realidade’, reitera pesquisador do Holocausto