Oriente Médio

Conflito no Oriente Médio: Entenda o que motivou o ataque do Irã contra Israel e as acusações na ONU

Especialista em Relações Internacionais do CEUB enxerga ataque como retaliação. Brasil tem papel de mediador nas relações diplomáticas

Conflito no Oriente Médio: Entenda o que motivou o ataque do Irã contra Israel e as acusações na ONU
Foto: Reprodução

O recente ataque do Irã contra Israel, que repercutiu na Assembleia Geral das Nações Unidas, tende a mudar na dinâmica do Oriente Médio, podendo resultar no aumento dos conflitos na região. Danilo Porfírio, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (CEUB), entende que, no jogo de poder do Oriente Médio, qualquer movimento diferente é interpretado como fraqueza. Na leitura do especialista, o Irã deu sinais de que não aceitará arbitrariedades de Israel.
 

“Esta resposta, segundo o discurso dos líderes iranianos, baseia-se no artigo 51 da Carta da Organização da ONU, que legitima a noção de autodefesa e proteção da autonomia e soberania dos povos”, destaca. De acordo com Porfírio, o Irã adotou postura de resposta firme, porém não excessivamente intensa, com o objetivo de demonstrar seu exercício de soberania e autodefesa. Ele considera a abordagem um modo de evitar uma retaliação maior de Israel e envolvimento direto norte-americano.
 

Em vez disso, o professor afirma que eles optam por lançar em massa drones e mísseis, cientes de que serão alvos do sistema de proteção antimísseis Iron Dome. “O propósito foi demonstrar força, deixando claro que não busca uma escalada do conflito. Também envia uma mensagem aos americanos, destacando que agiram em resposta defensiva em relação a Israel”.
 

O especialista do CEUB lembra que o regime iraniano não desfruta de unanimidade entre sua própria população, com diversas insurgências ou manifestações questionando o regime dos Aiatolás dentro do próprio território iraniano, citando o exemplo da Revolução Verde, quando universitários e mulheres lideraram movimentos em resposta à repressão do regime. Segundo o professor, ao longo do governo de Ahmadinejad, turbulências questionaram a legitimidade do regime, embora não seja estritamente teocrático.
 

“O Irã é uma potência militar regional que possui sua própria indústria de armamentos e ainda é apoiada pela indústria russa e chinesa.” Entretanto, Danilo avalia se o Irã seria capaz de confrontar as forças israelenses, que são tecnologicamente avançadas e têm acesso a recursos bélicos de alta qualidade e quantidade, fornecidos pelos EUA. “Apesar de não oficializado, é sabido que Israel possui armas nucleares. Portanto, um dos motivos para o receio em relação às ações do Irã é a possibilidade de não ser capaz de enfrentar diretamente as forças israelenses, o que resultaria em perdas significativas para o Irã”, alerta.
 

Conflito na ONU

Sobre a assembleia da ONU, Porfírio afirma que a troca de acusações entre Israel no palco político internacional tende a ter pouca repercussão real, pois qualquer resolução proposta contra o Irã ou Israel seria ignorada por ambas as partes, dada a história de desobediência às resoluções da ONU por essas potências regionais. “A probabilidade de uma resolução ser aprovada é mínima, já que se houver uma contra o Irã, a Rússia certamente vetará, e se for contra Israel, os Estados Unidos vetarão. Esse cenário se repete, o que eu chamaria de rotina da tragédia”.
 

O docente do CEUB explica que o conflito entre Israel e Irã é um verdadeiro embate de interesses entre dois blocos distintos. De um lado, o bloco ascendente composto por China e Rússia, e do outro, o bloco ocidental liderado pelos Estados Unidos: “Esse é o cenário onde podemos perceber claramente os contornos de uma nova ordem geopolítica em desenvolvimento”.
 

No caso do posicionamento diplomático acerca do conflito, Danilo considera que ao se abster de escolher lados, o Brasil busca promover o cessar da violência. Ele afirma que as potências envolvidas no conflito, inclusive as de escala global, muitas vezes não possuem a imparcialidade necessária para mediar de forma eficaz. Assim, cabe a países como Brasil, África do Sul, Índia e até mesmo à União Europeia assumir o papel facilitador. “É precisamente aqui que a moderação da diplomacia brasileira encontra sua justificativa de mediadores, buscando uma solução que leve à acomodação das partes envolvidas”, completa o professor.