segunda-feira, junho 9, 2025
22.9 C
Rio de Janeiro
InícioDireitos HumanosMPF cobra reparação do Banco do Brasil por apoio à escravidão

MPF cobra reparação do Banco do Brasil por apoio à escravidão

Rio de Janeiro – O Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro reforçou a cobrança para que o Banco do Brasil adote ações concretas de reparação à população afrodescendente.

A exigência surge em função do apoio da instituição financeira à escravidão no Brasil durante o século XIX, conforme apontado por um estudo conduzido por 14 pesquisadores de universidades brasileiras e americanas.

A cobrança foi tema de uma audiência pública realizada na última terça-feira (22), comandada pelo procurador regional dos Direitos do Cidadão Julio José Araujo Junior, com representantes do Banco do Brasil, do Ministério da Igualdade Racial e do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A instituição já reconheceu publicamente seu envolvimento com o comércio de escravizados e emitiu um pedido formal de desculpas em novembro de 2023.


Ligação do Banco do Brasil com o comércio de escravizados

A investigação sobre o vínculo do Banco do Brasil com a escravidão foi revelada por um estudo que demonstrou como o banco estatal se beneficiou diretamente da dinâmica do tráfico de africanos escravizados.

O estudo afirma que havia “vínculos diretos entre traficantes e o capital investido no Banco do Brasil”, além do uso de crédito lastreado na posse de pessoas escravizadas, o que prevaleceu durante a primeira metade do século XIX.

Apesar do pedido de desculpas, o MPF solicitou ao BB e ao Ministério da Igualdade Racial (MIR) que fossem estabelecidos recursos e medidas específicas para reparação.

Segundo o procurador Julio Araujo, até o momento, as respostas das autoridades não apresentaram propostas concretas.

“A gente ainda não teve indicações claras dessas medidas”, criticou Araujo durante a audiência.


Discussões sobre reparação à população negra

O Banco do Brasil já implementa algumas iniciativas voltadas para a igualdade racial, mas o MPF e organizações da sociedade civil defendem que essas ações precisam ser ampliadas e aceleradas.

Para o procurador dos Direitos do Cidadão Jaime Mitropoulos, “medidas simbólicas não são suficientes”. Ele argumenta que a instituição deve propor ações de reparação que possam ser concretizadas em conjunto com a sociedade.


Participação da sociedade civil organizada

Em dezembro de 2023, o MPF abriu uma consulta pública para que a sociedade civil sugerisse propostas de reparação.

Mais de 500 propostas foram recebidas de 37 entidades, como o Movimento Negro Unificado (MNU) e a Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). Entre as propostas estão a criação de um fundo de reparação e o investimento em territórios quilombolas e iniciativas de desenvolvimento de empreendimentos negros.

A ativista e estudante de ciências sociais Brenna Vilanova, representando o MNU do Distrito Federal, destacou a importância de que “todas as sugestões dos movimentos negros sejam implementadas e acompanhadas”.


Ações previstas pelo Banco do Brasil

O Banco do Brasil, representado pelo consultor jurídico João Alves e pela gerente de Relações Institucionais Nivia Silveira da Mota, informou que lançará um conjunto de ações relacionadas à reparação no dia 4 de dezembro de 2024. Contudo, eles explicaram que algumas das propostas sugeridas pela sociedade civil, como o pagamento de renda básica, estão fora da alçada do banco e dependem de orçamento autorizado pelo Congresso Nacional.

A primeira mulher negra a presidir o BB, Tarciana Medeiros, está à frente da implementação dessas ações, enquanto dez diretorias do banco participam da elaboração do plano de reparação.


LEIA TAMBÉM


Perguntas Frequentes sobre a cobrança de reparação pelo Banco do Brasil

Por que o Banco do Brasil está sendo cobrado por reparações?
Estudos revelaram o envolvimento direto do Banco do Brasil no comércio de escravizados no século XIX, o que motivou o MPF a exigir medidas de reparação à população negra.

Quais são as propostas de reparação solicitadas?
Entre as sugestões, estão a criação de um fundo de reparação, investimentos em territórios quilombolas e a promoção de igualdade racial através de programas sociais.

O que o Banco do Brasil já fez até agora?
O Banco do Brasil emitiu um pedido formal de desculpas e anunciou para dezembro de 2024 um conjunto de ações relacionadas à reparação. Contudo, parte das demandas está fora de sua alçada, como o pagamento de renda básica.


Relacionadas

Câmara aprova Dia Marielle Franco para homenagear defensores de direitos humanos

Data será marco oficial da luta por direitos humanos no Brasil, sete anos após o assassinato político que ainda clama por justiça

Ciganos cobram inclusão no Censo e políticas públicas

Invisibilizados há séculos, povos ciganos exigem contagem populacional, combate ao racismo e acesso real a direitos básicos no Brasil.

Dilma Rousseff recebe anistia e R$ 100 mil por tortura

Comissão de Anistia aprova reparação à ex-presidenta por crimes da ditadura; decisão histórica reforça luta por memória e justiça

Discriminação racial: Brasil ainda escolhe quem merece respeito

Pesquisa apoiada pelo Ministério da Igualdade Racial escancara o racismo cotidiano e revela como mulheres pretas seguem no topo da vulnerabilidade social.

Violência contra mulheres no Brasil tem aumento alarmante

Número de agressões contra mulheres explode 24% em um ano, mesmo com homicídios gerais parados no tempo.

Comissão de Anistia finaliza 97% dos pedidos desde 2001

Mais de 39 mil pessoas já tiveram seus pedidos deferidos, incluindo ex-vereadores, militares e funcionários públicos

Governo Lula identifica 49 centros de tortura na ditadura; Cinco são no Rio de Janeiro

Nova publicação, divulgada na semana em que o golpe de 1964 completa 61 anos, reúne e documenta lugares de memória da repressão no país, demonstrando a importância da preservação da trajetória brasileira rumo à democracia

Estado pede desculpas pela negligência com ossadas de Perus

Governo brasileiro reconhece falhas na identificação das ossadas da vala clandestina, em cerimônia no Cemitério Dom Bosco.

Sindicatos repudiam ataques virtuais a jornalistas que cobriram atos golpistas

Gabriela Biló e Thaísa Oliveira são alvos de desinformação após cobertura de atos golpistas; sindicatos denunciam calúnias.

Mesmo com ADPF, Complexo da Maré teve 42 operações e 20 mortos em 2024

Ações policiais causaram suspensão de aulas e impacto em serviços de saúde

Confira outros assuntos:

Mais Lidas

Parimatch Cassino online