Entrevista

‘Tarsila, a Brasileira’: ‘É a realização de um sonho’, diz Cláudia Raia

Espetáculo fica em cartaz no Vivo Rio, em um único fim de semana

Cláudia Raia entra em Cartaz no Rio de Janeiro - Foto: Divulgação / Paschoal Rodriguez
Cláudia Raia entra em Cartaz no Rio de Janeiro - Foto: Divulgação / Paschoal Rodriguez

Cláudia Raia volta aos holofotes teatrais com a estreia de seu mais recente espetáculo, o musical “Tarsila, a Brasileira”. A peça conta a história de Tarsila do Amaral, uma das maiores pintoras da história do Brasil, e tem Raia como a grande protagonista. Após uma longa temporada em São Paulo, o espetáculo será exibido durante um único final de semana no Vivo Rio, com apenas cinco sessões, que acontecem nos dias 31 de maio, sexta-feira, às 21h; e nos dias 1 e 2 de junho, sábado e domingo, às 16h e 20h.

Claudia Raia, caracterizada como Tarsila do Amaral  - Foto: Divulgação / Paschoal Rodriguez
Claudia Raia, caracterizada como Tarsila do Amaral – Foto: Divulgação / Paschoal Rodriguez

Em uma entrevista concedida a este jornalista, Cláudia compartilhou sobre seu retorno aos palcos após o nascimento de seu filho mais novo, Luca.

O processo de preparação para dar vida a Tarsila foi um mergulho profundo, como a atriz contou. Baseando-se em extensa pesquisa, incluindo acesso a familiares, fotos e cartas trocadas entre Tarsila e Chico Xavier, Cláudia Raia destacou a importância do figurino e visagismo na transformação. A preparação de corpo, conduzida por Alonso Barros, coreógrafo e diretor de movimento, foi essencial para capturar a essência da pintora.

Claudia Raia, caracterizada como Tarsila do Amaral  - Foto: Divulgação / Paschoal Rodriguez
Claudia Raia, caracterizada como Tarsila do Amaral – Foto: Divulgação / Paschoal Rodriguez

“A preparação de corpo que fiz com o Alonso Barros, nosso coreógrafo e diretor de movimento, me ajudou a entrar nesse registro do corpo dela: um corpo mais baixo, com os ombros mais baixos, o olho mais baixo. Foram muitos detalhes e contei com muitos profissionais para chegar na Tarsila que o público vai ver no palco”, revela Cláudia.

Claudia Raia, caracterizada como Tarsila do Amaral  - Foto: Divulgação / Paschoal Rodriguez
Claudia Raia, caracterizada como Tarsila do Amaral – Foto: Divulgação / Paschoal Rodriguez

A atriz elogiou o trabalho árduo da equipe envolvida no projeto, que se estendeu por três anos. Entre ensaios intensivos e dedicação ininterrupta, Raia compartilhou sua felicidade ao ver o espetáculo finalmente ganhar vida nos palcos. Mesmo nos raros momentos fora dos ensaios, Cláudia aproveita o tempo com Luca, seu filho, que ocasionalmente visita os ensaios, proporcionando momentos preciosos durante as tardes.

“Tarsila foi uma mulher à frente do seu tempo. Em uma época em que ninguém falava sobre trisal, ela viveu um relacionamento assim com Oswald de Andrade e Pagu.”

“Está sendo um retorno muito feliz! Ver ‘Tarsila, A Brasileira’ ser montado é a realização de um sonho. Estamos trabalhando há três anos neste espetáculo (…) O tempo que tenho fora dos ensaios aproveito com o Luca. Ele também visita a gente nos ensaios, porque é o único jeito de a gente vê-lo durante a tarde”, revela a atriz.

Questionada sobre o aspecto da vida de Tarsila que mais a tocou, a atriz destacou a relação entre a pintora e Chico Xavier. Para Raia, o médium desempenhou um papel crucial na recuperação emocional de Tarsila após as perdas irreparáveis de sua filha e neta.

“Não tenho como negar que a relação dela com Chico Xavier foi algo que me tocou muito profundamente. Ele foi uma pessoa muito importante para ajuda-la a se reerguer depois da morte da filha e da neta dela. Foram perdas muito grandes e irreparáveis na vida dela”, conta.

A relevância de Tarsila na cultura brasileira contemporânea foi destacada por Claudia Raia. A exposição no MOMA, em Nova York, e o contínuo fascínio pela obra “Abaporu” evidenciam o impacto duradouro do modernismo de Tarsila. Raia ressaltou como a artista lançou as bases para uma expressão cultural brasileira única, valorizando as manifestações culturais e incentivando uma reflexão crítica sobre a sociedade.

“Tarsila do Amaral se mantém muito relevante. Prova disso é a exposição no MOMA, em Nova York, com as obras dela, o fascínio que o Abaporu exerce até hoje (…) Até hoje vemos a importância dessa ideia da valorização do nosso, de pensar criticamente a nossa sociedade e de colocar essas reflexões nas telas, nos livros, nas esculturas, nas obras”, falou a atriz.

Ao discutir a contribuição de Tarsila para a emancipação da mulher brasileira, Claudia enfatizou a postura à frente de seu tempo. Tarsila desafiou convenções ao viver um trisal com Oswald de Andrade e a escritora Patrícia Galvão (conhecida como Pagu), além de se casar com Luís Martins, 22 anos mais jovem. Raia destacou a importância de seguir o exemplo de Tarsila e não se conformar com os papéis pré-determinados. “Tarsila era realmente uma mulher muito fiel a si mesma e isso é sempre um exemplo para nós, para não nos conformarmos com os papéis que querem reservar a nós”.

Claudia Raia em cena - Foto: Foto: Iude Richele
Claudia Raia em cena – Foto: Foto: Iude Richele

“Eu acredito que ela ia gostar da peça. Além de fazermos com muito carinho, estamos trabalhando com a família dela para contar essa história e mostrar esse lado B da vida dela. São muitas histórias que o público não conhece”.

Quanto à representação da obra de Tarsila em um musical, Claudia acredita que a pintora aprovaria o espetáculo, dado o carinho e a colaboração da família de Tarsila. A atriz expressou sua empolgação ao revelar “esse lado B da vida dela”, apresentando ao público histórias menos conhecidas. “Eu acredito que ela ia gostar da peça (…) São muitas histórias que o público não conhece”.

Claudia Raia observou como a obra de Tarsila reflete a interseção entre arte e política. Viver em uma época de transformações sociais e políticas nas décadas de 20 e 30, Tarsila incorporou essas mudanças em sua arte, como evidenciado no quadro “Operários”, que abordava as fábricas e os trabalhadores urbanos.

“Acho natural esse movimento. O artista se alimenta muito do que observa, do que ver ao redor. Com ela, que era uma pessoa tão sensível e observadora, não foi diferente”, enfatizou a atriz.