Impacto educacional

Greves nas Universidades: a melhor forma de reivindicar?

Análise critica sobre o papel das greves na educação superior brasileira.

Greves universitárias impactam negativamente os estudantes, interrompendo aulas e prejudicando a educação.
Greves universitárias impactam negativamente os estudantes, interrompendo aulas e prejudicando a educação. - Foto: AG. Brasil

A Educação é, e sempre foi, o caminho mais assertivo para o crescimento de uma nação. Principalmente quando se pensa em um crescer sustentável e isonômico, privilegiando méritos e não relacionamentos. Inegável o estreito e indissolúvel laço que une conhecimento à Democracia, por meio do qual as oscilações sociais são possíveis e perfeitamente integráveis a um sistema cada vez mais opressor e individualista. E, por isso, alinho-me ao entendimento de que os serviços de natureza educacional são essenciais, imprescindíveis, aliás, para a sociedade. 

Historicamente, entretanto, os gestores brasileiros vieram, paulatinamente, negligenciando a Educação em todas as suas vertentes. O descaso com esse importante pilar de qualquer sociedade se reflete nas estruturas das universidades e escolas em geral, bem como na defasagem dos salários dos docentes, cada vez mais distantes dos maiores vencimentos do funcionalismo púbico. Essa comparação fica bastante evidente quando se faz um recorte, lado a lado, do estipêndio mensal de um auditor fiscal e de um professor. A diferença, em Reais, expõe a predileção do Estado por um em detrimento ao outro. 

Além disso, o magistério vem sofrendo com uma defasagem salarial que, certamente, dificulta ainda mais a vida dos professores, já que os índices de atualização econômica de todos os setores progridem consideravelmente. E, diante desse cenário, exsurgem as justas reivindicações do professorado, as quais passam pelas famosas greves, como as que passam algumas universidades federais neste momento. 

Reiterando minha posição sobre privilegiar sempre a Educação e também na linha de que o professor deve ser respeitado e tratado como ator principal de todo o processo pedagógico, lanço uma reflexão sobre o ato da greve. Seria esse o melhor caminho para a reinvindicação? Definitivamente, entendo que não. 


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A lógica da greve e, até mesmo sua previsão jurídica, no texto Constitucional, orbita no sentido de pressionar o empregador – seja ele público ou privado – a acatar as reinvindicações dos trabalhadores. Mas o Direito de Greve jamais deve ser oponível em detrimento da população destinatária direta dos serviços prestados pelo funcionário grevista. Principalmente quando se tratam de serviços públicos e essenciais como as aulas nas universidades federais. As greves, como estão ocorrendo, são lesivas aos estudantes, os quais estão sem aula, vagando pelos mais diversos campi universitários, enquanto os professores não lecionam mas continuam suas atividades acadêmicas – que lhe geram frutos essencialmente individuais –, não suportando nenhum tipo de consequência com a paralisação da atividade letiva. 

Como se sabe, o ato de lecionar é apenas uma das vertentes da docência em ensino superior. Atividades de pesquisa, por exemplo, que geram frutos diretos e individuais aos acadêmicos, não fazem parte dos movimentos grevistas, depositando-se todo o prejuízo do ato de pressão ao governo sobre os alunos que, sem escolha, acabam se vendo obrigados a suportar todo esse ônus. 

Aliás, toda greve universitária se encerra em uma incoerência ideológica bastante evidente, ao meu ver. Aqueles que lutam por reajustes e isonomia salarial com outras posições dentro do serviço público acabam impondo ao corpo discente uma escala de inferioridade aos seus colegas, alunos da iniciativa privada. Fazer recair a pressão sobre os alunos, entendo que, definitivamente, não seja a melhor forma de reivindicar pelos justos aumentos pleiteados pelos professores. 

Talvez seria mais democrático suspender as atividades de pesquisa e extensão, por exemplo. Ou ainda, promover um escalonamento de professores para não comprometer o crescimento e a aprendizagem dos alunos que, em última (e primeira) análise, são (ou deveriam ser) os destinatários principais de todo o processo educativo.

Longe de ser uma questão fechada, lanço uma reflexão que entendo ser importante para os rumos da Educação Superior no Brasil. Os alunos dos sistemas públicos certamente são os grandes cientistas do nosso futuro, aqueles que promoverão as transformações que esperamos para nosso país. Acho que merecem um pouco mais de cuidado por parte de todos, a começar pelos seus primeiros tutores: todos nós que abraçamos a missão de lecionar.