“Amar é para os fortes”: Tati Tibúrcio revive a dor da perda do filho em série do Prime Video

Série baseada em álbum e filme de Marcelo D2 foi lançada na última sexta-feira, 17

“Amar é para os fortes”: Tati Tibúrcio revive a dor da perda do filho em série do Prime Video
Amar é para os fortes - Reprodução

Atualmente no ar em Terra e Paixão, Tatiana Tibúrcio emocionou o país interpretando visceralmente a dor de Mirtes Santana ao perder seu filho Miguel por um descaso da patroa, que colocou o menino sozinho em um elevador enquanto a funcionária saía por alguns minutos. Para quem não se lembra, o caso teve grande repercussão na mídia, gerou debate e estendeu-se pelas artes: além do episódio de Falas Negras protagonizado por Tati, virou tema da música “2 de junho” da Adriana Calcanhotto (interpretada também por Maria Bethânia).

Desta vez, na série Amar é para os fortes, lançada na última sexta-feira (17), no Prime Video, Tati vive Rita, uma mãe que tem seu filho caçula confundido e assassinado pela polícia justamente no dia das mães e ainda precisa vê-lo sendo tratado como bandido. Paralelamente e utilizando de todos os meios possíveis ao seu alcance, Rita e seu filho mais velho, Paulo/Sinistro (Breno Ferreira), lutam por justiça e pela memória de Sushi (João Tibúrcio), seu filho/irmão, enfrentando a polícia, o sistema e a família de Edna (Mariana Nunes) disposta a tudo por amor ao seu filho.

Em meio à luta, discute-se o racismo que cria uma guerra às drogas enquanto combate (e mata) pobres e o papel da polícia nisso, mas também se pontua sobre o racismo que coloca preto para matar outro preto. Ou mais grave: põe um jovem preto para matar outro menino preto. Devido a isso, com o perdão do spoiler, Rita, quando encara Rodrigo Júnior/Digão (Maicon Rodrigues), o assassino do filho, repete entre incrédula e desconsolada: “mas é só um menino”.

Sobre isso, é interessante comentar sobre este personagem que foge do lugar comum. Digão é negro, comete erros, mesmo se arrependendo, tenta se safar e se complica mais, ou seja, acaba muito bem localizado ali em uma zona cinza. E tem mais elementos. Ele disparou, é verdade, mas sob influência/pressão de um colega branco. Sua origem também é diferente daquela normalmente associada a personagens racializados: Digão vem de uma família com tradição policial (desde a avó), é estruturada, amorosa e correta (até precisar ajudá-lo pelo menos). 

Na série, é possível ver uma tentativa de não demonizar a polícia como um todo (vemos policiais corretos, corretos até se verem ameaçados e incorretos– todos muito humanos) e talvez um pouco menos, mas há a tentativa de não romantizar os moradores da favela: há quem se envolva com ilícitos, sim, mas a esmagadora maioria só quer viver em paz.

Para não dizer que só há drama, também é retratada a relação intrincada entre luta, arte e amor, entre outros personagens, através do casal Paulo e Bela (Liza Del Dala) que se aproximam pela arte, se identificam na luta e se unem pelo amor, protagonizando as maiores cenas de romance da série. 

Pontuo ainda o quão encantador é ver o papel representado pela solidariedade entre os membros da comunidade e pela coordenação do grupo de amigos para fazer pressão e buscar respostas. Em um cenário de opressão, em que quem deveria proteger não só prende ou mata, como também ameaça, é muito bom ver o reforço do discurso na prática de que a lealdade deve ser maior que o medo, de que estão juntos uns pelos outros ou como diria a música de outro rapper “tudo, tudo, tudo que nóis têm é nóis”. 

Em um cenário tão calcado na realidade, não espanta que seja retratado outro componente importante para a construção das pessoas e de sua complexidade: a religiosidade. É possível ver a diversidade religiosa nas expressões da religião de matriz afro e evangélica, neste caso especificamente, os efeitos da moral evangélica na família composta por Edna (Mariana Nunes), Rodrigo (Bukassa Kabengele) e Digão (Maicon Rodrigues).

Clara Moneke, revelação incontestável da novela Vai na fé e facilmente uma das mais gratas revelações do ano, tem um papel ligeiramente discreto, mas Peixe, sua personagem, tem cenas ótimas como o ato no beco em que declama um poema com os companheiros. É mais uma pérola a brilhar junto a um elenco entregue, que conta com Mariana Nunes, Vilma Melo (Marilúcia, amiga de Rita) e a própria Tatiana Tibúrcio. 

A trilha sonora como é de se esperar conta com as músicas do rapper Marcelo D2, mas não só: entre outras preciosidades da música, temos Douglas Germano, Juçara Marçal, Virginia Rodrigues colaborando para a construção da história e no preenchimento de um cenário já profundamente musical.

Amar é para os fortes está disponível no Prime Video, tem 7 episódios e oferece uma história forte, envolvente e, de lambuja, algumas cenas muito inspiradas e bonitas. 

OUTRAS SÉRIES PARA VOCÊ CURTIR NO MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA (e nos outros também)

Cangaço Novo (2023)

Série queridinha da crítica, Cangaço Novo acompanha Ubaldo Vaqueiro em sua ida para o Ceará atrás de uma herança, a relação turbulenta com as irmãs, especialmente Dinorah, e as ações do grupo que pratica assaltos na região portando armas e muita coragem.

Cidade dos homens (2002)

Série que marcou época e deu ao mundo a dupla Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha). Alguns episódios podem ser conferidos na Globoplay. Em 2007, foi adaptado também para o cinema

Encantado’s (2022)

Quanta confusão e diversão podem caber em um mercado que faz as vezes de barracão de escola de samba? A série não responde, mas diverte como poucas. Disponível na Globoplay, 

Manhãs de setembro (2021)

Produzida pelo Prime Vídeo, a série é protagonizada por Liniker, que vive Cassandra, uma mulher trans que deseja trabalhar como cover de Vanusa e precisa lidar com a aparição de sua ex-namorada e um suposto filho. Em fevereiro de 2023, foi anunciado que a trama viraria filme.