Balanço

2023, um ano e tanto

Tudo somado, entre mortos, feridos, substituídos e defenestrados, foi um ano positivo. Ou não?

(Foto: Miguel Paiva)
(Foto: Miguel Paiva)

Um ano que começa com uma tentativa de golpe promete. E foi o que aconteceu. Diante dos nossos olhos incrédulos assistimos àquelas cenas boquiabertos. Estávamos assistindo de camarote, pelas redes sociais e pela TV uma zona organizada para se transformar numa situação incontrolável e dai justificar o golpe.  

Este era o golpe que se armava. E o ano foi em frente quase sempre seguindo o rastro desta tentativa infame. O STF se uniu apesar do André Mendonça e do Kássio Marques (que agora se aproxima de Lula), o congresso envergonhado teve que tomar uma atitude apesar de discreta, a população perplexa assumiu mais ainda a divisão e Lula pode enfim se afirmar como estadista. Mas foi e continua sendo um ano difícil. Temos momentos de esperança, de crença no futuro e outros de total desilusão diante da estupidez e total falta de inteligência e sensibilidade da turma que saiu do governo.  

Saiu, mas deixou um rastro enorme. Um entulho quase irremovível que aos poucos vai mostrando o quanto atrapalha o Brasil. Atrapalha, mas não impede o país de crescer. Verdade que o esforço que fazemos aqui embaixo é grande. Como jornalistas nos indignamos, tentamos mostrar as mentiras e as verdades, revelamos as falcatruas e corremos atrás dos fatos que possam ajudar essa turma e entender o que apoiavam. Tarefa difícil. Mas fizemos e continuamos a fazer. Lula viajou, trabalhou, discursou, tentou acordos, conseguiu alguns, fracassou em outros e sobretudo, fez política, muita política que voltamos a respeitar, não todos, mas alguns.

A política voltou ao cenário não mais demonizada como antes. A cultura tenta se reerguer e fugir da fama de mamata organizada, restabelece seus projetos, tenta se candidatar ao pouco dinheiro que voltou a circular. Os projetos aparecem e através deles nos damos conta do universo incalculável deste país, da diversidade, das diversas culturas que devem se manifestar. E falando em gêneros se manifestando voltamos a respeitar os indígenas, os quilombolas e os negros. Valorizamos de modo mais justo as regiões brasileiras e tentamos ser um Brasil só de várias culturas e línguas.

Os trabalhadores buscam sobreviver diante do massacre que se armou contra eles. Os sindicatos foram extintos, a lei trabalhista empurrou mais para baixo o já baixo nível de sobrevivência da classe. Negociações paralelas e individuais são tão injustas e perigosas como a negação do sistema de cotas que, aliás, volta a se firmar.

Aliás, a palavra volta talvez seja a mais usada nesta retomada. E ainda bem porque além de reconstruir o que foi destruído nos anos passados e foi muito, temos que voltar ao caminho que estávamos trilhando antes do pesadelo. Leis foram aprovadas que não nos deixam muito felizes, outras leis nos deixaram mais felizes e com o STF a cuidar da constituição podemos até exigir do governo, com o justo olhar para a política, um pouco mais de atitude. Mas tudo somado, entre mortos, feridos, substituídos e defenestrados, foi um ano positivo. Ou não?