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Ozempic vira febre com mito do pênis maior

Fóruns relatam aumento peniano com Ozempic, mas médicos negam relação e apontam ilusão causada pela perda de gordura

Ozempic vira alvo de desinformação sobre aumento peniano

Washington, EUA – 9.jun.2025
Um novo delírio coletivo se espalha entre usuários de Ozempic, medicamento à base de semaglutida originalmente destinado ao tratamento do diabetes tipo 2, mas amplamente consumido como inibidor de apetite para emagrecimento rápido. A suposta novidade? Relatos anônimos sobre um inesperado efeito colateral: aumento do pênis. Embora não haja qualquer comprovação científica, a fantasia viralizou nas redes sociais e fóruns como o Reddit, reforçando a já complexa mistura entre farmacologia, autoestima masculina e cultura do corpo.

A origem do mito: Reddit, anonimato e obsessão

No centro da história está um conjunto de depoimentos anônimos. Um dos usuários, ao relatar ter medido seu pênis e constatado “um aumento de 2,5 centímetros”, desencadeou uma onda de postagens semelhantes. Outro afirmou ter “ganhado 3,8 cm”, jurando que o crescimento não estaria apenas relacionado à perda de peso.

Apesar da falta de evidências clínicas ou estudos revisados por pares, o fenômeno ganhou fôlego à medida que mais pessoas relatavam transformações corporais desde o início do tratamento com Ozempic. “Isso não é só gordura. Algo mudou”, escreveu um usuário, sugerindo efeitos hormonais não reportados pela indústria farmacêutica.

Médicos desmentem: semaglutida não altera tecidos penianos

Especialistas consultados por universidades americanas e veículos científicos são categóricos: não há mecanismo fisiológico ou farmacológico que relacione a semaglutida ao crescimento peniano. “O que ocorre é que, com a perda de gordura na região pubiana, parte do pênis que estava ‘enterrada’ torna-se visível”, explica o endocrinologista Jonathan K. Lee, da Harvard Medical School. “É uma ilusão anatômica, não um efeito colateral real.”

Além disso, o volume peniano pode variar por fatores banais como temperatura ambiente, nível de excitação e até o método usado na medição. “Comparar medidas antigas feitas em contextos diferentes pode gerar interpretações equivocadas”, acrescenta o urologista Marco Velasquez, da UCLA.

Cultura de corpo e ansiedade masculina

O chamado “pênis de Ozempic” é, para muitos especialistas em saúde pública e psicologia, um sintoma da pressão estética extrema associada ao uso desses medicamentos. “Estamos vendo uma farmacologização da virilidade”, avalia Sandra Bloom, pesquisadora em gênero e saúde do Instituto Brookings. “É como se o Ozempic prometesse não só magreza, mas também masculinidade reforçada.”

Nos bastidores, esse tipo de narrativa reforça o apelo comercial do remédio. Embora a semaglutida seja vendida sob prescrição, sua popularização nas redes — alimentada por celebridades, influenciadores e fóruns anônimos — transformou o medicamento em um símbolo de performance corporal total: emagrecimento, energia e agora, supostamente, potência sexual.

Uma droga entre a ciência e o fetiche

O fenômeno atual se soma a outros efeitos secundários — alguns reais, outros claramente distorcidos — atribuídos ao Ozempic. Um dos mais divulgados é a chamada “Ozempic face” ou “Ozempic head”, em que usuários relatam que a cabeça parece maior após a rápida perda de gordura facial, o que é parcialmente verdade, mas amplificado pela estética das redes.

“O corpo magro se torna um campo de projeção de fantasias”, diz a socióloga Clara Rincon, autora de “Corpos Químicos: Capitalismo e Estética no Século XXI”. Segundo ela, o pênis de Ozempic não passa de uma metáfora moderna para a masculinidade ansiosa: finja emagrecer, finja crescer, finja potência.


O Carioca Esclarece

O Ozempic pode realmente aumentar o tamanho do pênis?
Não. Segundo endocrinologistas e urologistas, a semaglutida — princípio ativo do Ozempic — não possui qualquer efeito direto sobre tecidos penianos. A impressão de aumento vem da perda de gordura ao redor da base do órgão, o que pode torná-lo parcialmente mais visível.

Por que esses relatos se espalham com tanta força?
As redes sociais amplificam experiências subjetivas, especialmente quando envolvem temas como sexualidade e autoestima. Além disso, o anonimato favorece exageros, criando fenômenos virais que muitas vezes contradizem a ciência. A lógica de “testemunhos pessoais” substitui dados objetivos.

Existe risco em usar Ozempic sem orientação médica?
Sim. Embora aprovado para diabetes e, em alguns casos, para obesidade severa, o uso indiscriminado pode gerar efeitos colaterais como náuseas, desidratação, perda de massa muscular e distúrbios alimentares. A ilusão de que se trata de uma “droga milagrosa” esconde riscos reais à saúde física e mental.

Há paralelo internacional com outros mitos farmacológicos?
Sim. Produtos como Viagra, anabolizantes ou hormônios de crescimento também foram cercados de mitos sobre virilidade e performance. O caso do Ozempic repete esse padrão: um medicamento com uso legítimo é transformado em símbolo de desejo, poder e ansiedade contemporânea.

O que revela esse fenômeno sobre a masculinidade atual?
A obsessão com o “pênis de Ozempic” reflete uma masculinidade vulnerável, pressionada por padrões corporais inalcançáveis. Em vez de discutir saúde real, discute-se performance simbólica, onde o corpo vira palco de inseguranças projetadas e consumidas como mercadoria.

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