sexta-feira, junho 6, 2025
24.4 C
Rio de Janeiro
InícioRio de JaneiroVivi Noronha, mulher de Poze, é alvo de operação contra lavagem de dinheiro do CV

Vivi Noronha, mulher de Poze, é alvo de operação contra lavagem de dinheiro do CV

A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou nesta terça-feira (3) uma operação para desarticular a engrenagem financeira do Comando Vermelho, que teria movimentado mais de R$ 250 milhões em dinheiro do tráfico de drogas e compra de armas de uso restrito.

A ofensiva, que atinge diretamente figuras públicas e operadores do mercado informal, expõe os mecanismos de inserção dos capitais criminosos na economia formal — e seu vínculo com eventos populares, empresas de fachada e influenciadores digitais.

Mulher de MC Poze é alvo de investigação

No centro do escândalo está Viviane Noronha, conhecida como Vivi Noronha, companheira do cantor MC Poze do Rodo. Segundo os investigadores, Vivi recebeu valores oriundos do tráfico por meio de transações disfarçadas via pessoas físicas e jurídicas usadas como “laranjas”. Sua empresa é apontada como peça no quebra-cabeça que camuflava a origem ilícita dos recursos para reinvesti-los em eventos, imóveis e publicidade nas redes sociais.

A apuração mostra como a estética do sucesso nas plataformas digitais pode ocultar engrenagens de poder oriundas da criminalidade organizada — e como o capital simbólico de influenciadores é instrumentalizado para higienizar práticas ilícitas. A ostentação, antes criticada, ganha papel funcional na dinâmica do crime.

Do baile ao banco: como o tráfico lava sua grana

A investigação revela que uma produtora de eventos atuava como intermediária dos fluxos financeiros, organizando bailes funk em comunidades dominadas pelo Comando Vermelho. Um dos principais eventos era o chamado Baile da Escolinha, realizado no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, que servia como vitrine de poder territorial e ponto de venda de entorpecentes.

Em frente ao local do baile, funcionava um restaurante de fachada, apontado como polo logístico de escoamento do dinheiro. A Polícia Civil afirma que o estabelecimento disfarçava movimentações suspeitas com vendas fictícias e operações fantasmas, cumprindo a função simbólica de afirmar a presença econômica do CV na paisagem urbana.

FBI entra no jogo

O caso ultrapassa as fronteiras brasileiras. Entre os alvos está um operador do sistema financeiro informal, já monitorado por autoridades internacionais e procurado pelo FBI, sob suspeita de lavar dinheiro também para a organização terrorista Al-Qaeda. A atuação dele funcionava como elo entre os esquemas do Comando Vermelho e circuitos ilegais no exterior, indicando que o tráfico carioca opera dentro de uma lógica transnacional de crimes financeiros.

Esse cruzamento de agendas criminosas levanta uma pergunta incômoda: quantas camadas do nosso cotidiano estão contaminadas — direta ou indiretamente — por estruturas financeiras sustentadas pela violência? E quem lucra, fora das favelas, com a estabilidade desse sistema?

Morto no domingo, traficante segue peça-chave

A operação foi desencadeada dois dias após a morte de Fhillip Gregório da Silva, o Professor, apontado como cérebro por trás do esquema de lavagem. Morto no último domingo (1º), durante ação policial no Complexo do Alemão, Professor idealizou o Baile da Escolinha e montou um sistema de empresas de fachada que operavam com agilidade e aparência de legalidade.

Mesmo após sua morte, sua figura permanece central no inquérito. Segundo os investigadores, ele articulava estruturas de fachada, recrutava influenciadores e operava com uma compreensão refinada das brechas jurídicas e fiscais da economia brasileira.

Ligações diretas com chefões do tráfico

As investigações apontam ainda para depósitos realizados por um segurança pessoal de Edgar Alves de Andrade, o Doca, líder do Comando Vermelho no Complexo do Alemão. Além disso, os rastros financeiros incluem movimentações feitas pelo operador ligado ao FBI. Ao todo, 35 contas bancárias foram congeladas por ordem judicial, com bloqueio imediato de ativos suspeitos.

O CV como máquina de influência e negócios

A operação desta terça-feira é conduzida por agentes da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e do Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD). Novas diligências devem ocorrer ao longo da semana.

Ao investigar a teia do Comando Vermelho, a polícia não desarticula apenas um esquema de tráfico. Expõe uma lógica de reprodução do poder territorial e simbólico que se apoia na conivência de parte do mercado formal, na inoperância crônica das estruturas públicas de fiscalização e na glamourização acrítica da estética do crime. Trata-se de uma engrenagem que alimenta a desigualdade enquanto se disfarça de entretenimento.

Relacionadas

Ex-prefeito de Belford Roxo, Dennis Dauttmam, morre aos 62 anos

Dennis deu entrada no hospital no último sábado (31), depois de ser transferido do Prontonil, em Nova Iguaçu.

Ex-prefeito da Baixada é internado em estado gravíssimo

Com pneumonia severa e entubado no CTI, político de Belford Roxo revive escândalos e falhas de gestão no noticiário fluminense

Polícia investiga se franquia de picanha virou lavanderia do CV

Investigações apontam que traficante morto no Alemão usava rede de restaurantes e eventos culturais para lavar milhões do Comando Vermelho

Praia de Copacabana perde areia e ameaça colapsar

Faixa de areia encolhe 10% em uma década, e erosão já põe em risco turismo, moradia e identidade cultural

Câmara aprova Guarda armada no Rio de Janeiro

Projeto de Paes cria força com armas de fogo e contratações temporárias; oposição denuncia militarização e precarização.

PL e PSOL se unem contra Guarda armada de Eduardo Paes

Em aliança improvável, bolsonaristas e PSOListas tentam barrar militarização da Guarda no Rio

CNJ aposenta Marcelo Bretas por manipular Lava Jato

Juiz foi condenado por interferir nas eleições de 2018 e usar a toga como instrumento político-partidário no Rio.

Elias Jabbour destaca papel estratégico da China e do BRICS+ durante seminário internacional no Rio de Janeiro

O presidente do Instituto Pereira Passos (IPP), Elias Jabbour, participou da abertura do seminário...

CNJ julga Bretas e pode “puni-lo” com aposentadoria e salário de R$ 61 mil

Ex-juiz da Lava Jato no Rio é alvo de denúncias graves, mas pode sair com salário de até R$ 61 mil por mês

Eduardo Paes exonerou secretários para aprovar armas para GM

Prefeito do Rio demite aliados para garantir votos e tenta atropelar oposição ao projeto que autoriza armamento da Guarda Municipal

Confira outros assuntos:

Mais Lidas

Parimatch Cassino online