A ocupação Povo Maravilha, que acaba de se consolidar em terreno até então abandonado de 1.800m2 no coração do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, recebeu nesta segunda-feira, 2/6, a visita do secretário municipal de Habitação, Diego Zeidan, e do subprefeito do Centro, Alberto Szafran. Ambos afirmaram o seu total apoio ao movimento organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Cerca de 200 famílias permanecem acampadas no imóvel que pertence atualmente à Cia Docas do Rio de Janeiro (PortosRio), empresa federal. A deputada estadual Renata Souza participou da reunião das autoridades com as lideranças da ocupação e do MTST e frisou a importância da continuidade da luta até que haja uma resposta de efetiva garantia por parte do governo de que o terreno será destinado a moradias dignas para as famílias.
A ocupação Povo Maravilha nasce no contexto de um déficit de mais de 400 mil moradias na Região Metropolitana, segundo dados da Fundação João Pinheiro, com base em dados do IBGE e do CadÚnico. “Não tenho dúvidas da capacidade desse movimento na luta por moradia. Existe um déficit muito grande de habitação nessa região central da cidade, que passou por um longo processo de esvaziamento. Nosso projeto é justamente reorganizar, recuperar imóveis antigos e trazer pro Centro o Minha Casa, Minha Vida, de forma a ampliar a oferta de moradias de interesse social”, afirmou Zeidan.
Neste domingo (⅙), a Via Binário do Porto foi fechada por viaturas da Seop (Guarda Municipal) e chegou a haver a ameaça de uma ação para expulsar as famílias, mas a ação foi desmobilizada. O subprefeito Szafran se comprometeu com um processo de negociação sem uso de violência pela Prefeitura. “A Prefeitura se dispõe a ser parceira da ocupação. Violência não é um caminho”, afirmou, e concluiu: “Sabemos que o interesse dessas famílias é por moradia digna, um direito que sempre lhes foi negado”. O subprefeito pôs à disposição da ocupação os serviços municipais de Assistência Social.
A deputada estadual Renata Souza acolheu com otimismo a visita das autoridades municipais. “É muito importante essa visita porque que a Prefeitura tem condições de providenciar a moradia digna que essas famílias precisam. Estamos em diálogo com o Município, com a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), com o Ministério das Cidades e com a Presidência da República. É responsabilidade de todas esferas do poder público se comprometer em resolver essa demanda de famílias de baixa renda que hoje vivem em locais insalubres e de risco e têm que escolher se vão comer ou morar com o pouco que conseguem no subemprego e benefícios públicos. Essas famílias só vão sair daqui depois da garantia de que terão as suas moradias”, afirmou Renata Souza, que vai organizar um chá de bebê na ocupação, onde há várias gestantes e também bebês. Crianças receberam as autoridades com cartazes em que desenharam casas e escreveram “Essa é a nossa casa”. Uma das ocupantes do terreno, oriunda de uma comunidade em Honório Gurgel, Zona Norte, Alice Fernanda, 40 anos, mãe de oito filhos, o mais velho de 24 e o caçula de 4 anos, e avó de quatro netos, dirigiu-se às autoridades e desabafou: “A Prefeitura tem que ter mais carinho com gente como nós. Não escolhemos morar do lado de valões e no meio de tiroteios. Quero que meus filhos cresçam com dignidade e acesso aos seus direitos, como educação e segurança”.