RIO DE JANEIRO, BRASIL – 4 de junho de 2025 – A Praia de Copacabana, um dos cartões-postais mais emblemáticos do Brasil, perdeu cerca de 10% de sua faixa de areia nos últimos dez anos. A erosão acelerada, impulsionada por mudanças climáticas e intervenções urbanas, já compromete trechos inteiros da orla e preocupa especialistas. Imagens de satélite analisadas por técnicos da Coppe/UFRJ e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente revelam perdas de até 55 metros em certos pontos da costa. A situação, que passa despercebida aos olhos de turistas e moradores distraídos, pode se tornar irreversível caso não sejam tomadas medidas urgentes.
Um colapso lento e contínuo
Os dados mais alarmantes foram registrados na altura da Avenida Princesa Isabel, onde a faixa de areia encolheu de 164 para 109 metros. No trecho próximo à Rua Miguel Lemos, a perda foi ainda mais drástica: de 25 para 4 metros, ou quase 85%. Para o biólogo Pedro Lázaro, a situação é crítica: “A vegetação nativa desapareceu, e a ocupação urbana rígida impede a redistribuição natural da areia. Sem um sistema costeiro flexível, a erosão se intensifica a cada maré alta.”
A erosão em Copacabana é resultado de múltiplos fatores. O nível do mar subiu 4,5% na última década, enquanto eventos extremos como ressacas se tornaram mais frequentes. Além disso, obras de urbanização e contenção ao longo da costa modificaram a dinâmica das correntes e reduziram a capacidade da praia de se autorregenerar. A areia, antes movida naturalmente pelas marés, agora é retida ou deslocada de forma caótica.

Modelo de Miami, urgência no Brasil
Embora o problema esteja se agravando, soluções técnicas já são aplicadas com sucesso em outras cidades costeiras. Desde os anos 1970, Miami Beach, nos Estados Unidos, adota um programa de engorda periódica da faixa de areia, ampliando em até 60 metros as áreas mais afetadas. Experiências semelhantes ocorrem na Gold Coast, na Austrália, onde um sistema integrado de bombas redistribui sedimentos ao longo da costa. Nas Maldivas, barreiras submersas artificiais protegem as praias da ação das ondas, retardando a erosão.

No Brasil, políticas públicas efetivas para adaptação costeira ainda são incipientes. A última intervenção significativa em Copacabana ocorreu há mais de 50 anos, quando a faixa de areia foi artificialmente ampliada em 55 metros. Desde então, o processo de erosão vem se intensificando, e os governos estadual e municipal seguem em ritmo lento na resposta ao fenômeno.

“Copacabana não pode esperar um colapso para agir”, alerta o urbanista Renato Oliveira, da UFRJ. “Estamos diante de um desafio estrutural que exige integração entre ciência, política pública e financiamento robusto.”
Identidade cultural sob ameaça
Mais do que um problema ambiental, a erosão em Copacabana ameaça o próprio imaginário cultural do Rio de Janeiro. A orla não é apenas um espaço de lazer e turismo; ela é símbolo de uma cidade que se construiu em torno da praia como valor social, político e estético. A perda de metros de areia pode parecer técnica, mas seu impacto é profundo: afeta o comércio local, desvaloriza imóveis, reduz a atratividade turística e compromete a mobilidade urbana.
Estudos recentes alertam que, mantida a tendência atual, a Praia de Copacabana poderá perder até 50% de sua largura até 2075. Em cenários mais extremos, partes do calçadão e da infraestrutura costeira – inclusive ciclovias, quiosques e avenidas – podem ser engolidas pelo mar, exigindo obras emergenciais como muralhas ou contenções de concreto, que deformariam irreversivelmente a paisagem.
A erosão também revela a desigualdade da crise climática. Enquanto investimentos em defesa costeira avançam em países ricos, cidades brasileiras como o Rio enfrentam limitações orçamentárias, burocráticas e políticas para proteger seu patrimônio natural.
O Carioca Esclarece
Por que Copacabana está perdendo areia?
A erosão é causada por uma combinação de fatores naturais e humanos: aumento do nível do mar, ressacas mais frequentes, perda da vegetação costeira e construções que alteram o fluxo natural das marés. Sem mobilidade para a areia se redistribuir, a faixa costeira vai sendo consumida.
Outras cidades já enfrentaram esse problema?
Sim. Cidades como Miami Beach e Gold Coast adotam programas permanentes de “engorda de praia” para conter a erosão. Nessas regiões, o aporte regular de areia e infraestrutura planejada ajudaram a preservar as faixas litorâneas por décadas.
O que pode acontecer se nada for feito?
Além da perda física da praia, Copacabana pode ver seu comércio enfraquecido, o turismo decair e imóveis desvalorizarem. Em cenários críticos, o mar pode invadir o calçadão e parte da infraestrutura urbana, exigindo obras emergenciais e caras, como muralhas de contenção.