Um documento da Polícia Militar obtido pela Folha de S.Paulo revela que o plano da operação policial realizada em 28 de outubro nos complexos do Alemão e da Penha, que resultou na maior chacina da história do Rio com 121 mortos, já havia sido comprometido horas antes do seu início oficial. Por volta da 1h da manhã, quatro horas antes da incursão, agentes já se deparavam com confrontos armados.
Segundo o registro, cerca de 20 homens em motocicletas, pertencentes ao Comando Vermelho (CV) e oriundos do Espírito Santo, foram vistos saindo do Complexo do Alemão. Ao perceberem uma viatura, eles abriram fogo contra os policiais, gerando troca de tiros que se estendeu até as proximidades da estação de Bonsucesso. Dois dos suspeitos acabaram baleados e morreram posteriormente no Hospital Salgado Filho.
Os policiais encontraram com os feridos armas de guerra, como um fuzil Taurus T4 calibre 5.56, uma pistola Glock 9mm e até três granadas caseiras. Os próprios suspeitos admitiram que fugiam da operação policial, alertados pelo vazamento das informações à facção.
Mesmo diante desses confrontos prévios e da falha na surpresa estratégica, a operação começou seu curso oficial por volta das 6h da manhã, mobilizando aproximadamente 2.500 policiais civis e militares com o objetivo declarado de conter a expansão do tráfico e capturar lideranças criminosas.
Esse histórico deixa claro que a violência no entorno dos complexos já estava em ebulição horas antes da ação, reforçando a narrativa de um cenário conflagrado e difícil para o controle das autoridades. Além disso, morados relataram que dezenas de corpos foram recolhidos por familiares e levados a uma praça no Complexo da Penha, pressão que levou o governo do estado a revisar os números oficiais para 121 mortos, incluindo quatro policiais.
A operação encontra resistência crítica tanto pelo número elevado de mortos quanto pela forma como as informações oficiais foram sendo ajustadas ao longo do tempo, com denúncias de ocultação e questionamento da legitimidade total da ação.
