Rio de Janeiro, 6 de junho de 2025 – Um território que representa apenas 5,5% da área total do Rio de Janeiro será o campo de testes da nova Divisão de Elite armada da Guarda Municipal, prometida pelo prefeito Eduardo Paes para fevereiro de 2026.
Segundo dados revelados nesta sexta-feira (6) pela Prefeitura, metade dos furtos e roubos de rua da cidade acontece nesse pequeno perímetro central, agora elevado à prioridade máxima do novo modelo de patrulhamento urbano.
O plano de segurança, sustentado por um discurso de “inteligência territorial” e uso intensivo de dados, mira especialmente regiões de alta circulação de pessoas e comércio — como Central do Brasil, Campo de Santana, Uruguaiana, Largo da Carioca, Candelária e a Avenida Mem de Sá, na Lapa. As ações foram desenhadas com base nas chamadas “manchas criminais”, mapeadas pelas delegacias da área central.
Centro do Rio vira laboratório armado
Embora seja uma fração territorial mínima do município, essa região concentra 50% das ocorrências de furto e roubo a transeuntes, segundo registros da 1ª DP (Praça Mauá), 4ª DP (Presidente Vargas) e 5ª DP (Mem de Sá).
Entre janeiro e abril deste ano, essas três delegacias somaram 1.803 registros de roubo de rua — o equivalente a 15 ocorrências por dia. A 5ª DP, que cobre a Central, lidera com 974 casos, seguida pela 1ª DP (546) e 4ª DP (283).
A aposta de Paes, no entanto, não é em repressão investigativa nem em incursões nos territórios dominados por milícias ou facções armadas, onde a violência letal e o tráfico seguem desafiando o poder público.
A estratégia oficial da nova guarda é aumentar a visibilidade do Estado onde o fluxo comercial e turístico exige sensação de ordem — ainda que temporária.
Tecnologia, controle e seletividade
A nova Guarda armada será moldada segundo o modelo de Áreas Integradas de Segurança Pública (AISPs), dividindo a cidade em zonas menores de atuação. Nessas microáreas, chamadas de “zonas quentes”, agentes atuarão em duplas armadas, a pé ou em motos, com câmeras corporais, comunicação criptografada e rastreamento via GPS.
O sistema será orientado por dados do Quadro de Monitoramento Dinâmico (QMD) e inspirado no Compstat, modelo de gestão de performance policial criado em Nova York nos anos 1990, cuja eficácia ainda é debatida por especialistas em segurança urbana.
A performance dos agentes será monitorada em reuniões mensais conduzidas por “líderes territoriais”, responsáveis por avaliar os resultados e decidir eventuais deslocamentos de efetivo.
Patrulhamento armado, mas sem confronto com o tráfico
Apesar de armada, a Divisão de Elite da Guarda Municipal não terá função investigativa, tampouco irá operar em favelas ou áreas sob controle de grupos armados. Sua função se restringe à presença ostensiva em áreas vulneráveis ao crime de rua, como furtos de celular, carteiras e assaltos a pedestres.
A ênfase é clara: trata-se de uma política voltada à percepção de segurança em áreas estratégicas para o capital urbano — regiões onde o abandono do poder público ameaça não apenas moradores, mas também interesses econômicos do turismo e do comércio popular.
A pesquisa do Instituto de Segurança Pública (ISP), em parceria com a FGV e a PNAD/IBGE, mostra que 65% dos cariocas se consideram em risco médio ou alto de sofrer assalto violento nas ruas. É esse sentimento — e seu efeito político — que a nova Guarda pretende enfrentar, ainda que à margem dos principais vetores estruturais da violência.
O Carioca Esclarece
Por que a Guarda Municipal armada vai atuar apenas em 5% da cidade?
Porque esse pequeno território concentra metade dos roubos e furtos de rua registrados, principalmente no Centro, onde há intenso fluxo de pessoas e atividades comerciais. A Prefeitura aposta em “microintervenções” com alta visibilidade, mesmo sem atingir as áreas mais letais da cidade.
Essa nova força de segurança vai combater o tráfico ou as milícias?
Não. A Divisão de Elite da Guarda Municipal não atuará em áreas dominadas por facções ou milicianos, e não tem função investigativa. O foco são crimes patrimoniais leves em zonas com alto valor simbólico e comercial. A violência armada segue sob responsabilidade da Polícia Militar e da Polícia Civil.
Qual o modelo de gestão usado e por que ele é polêmico?
O sistema se baseia no Compstat, modelo criado pela polícia de Nova York, que prioriza dados estatísticos e metas de desempenho para comandantes. Críticos apontam que isso pode levar à militarização da gestão urbana, perseguição seletiva a populações vulneráveis e mascaramento dos dados de violência letal.