Efeito Castro

Corpos expostos em Praça na Penha mostram massacre oculto na megaoperação do Rio

JR Vital
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Moradores encontram mais corpos no dia seguinte de operação mais letal do Rio / Crédito: Raull Santiago-Redes sociais

Moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, levaram ao menos 55 corpos para a Praça São Lucas, na madrugada desta quarta-feira (29), um dia após a megaoperação policial mais letal da história do estado. O governo do Rio de Janeiro havia informado que 60 suspeitos e 4 policiais morreram durante a ação nas comunidades da Penha e do Alemão, mas o secretário da PM, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, admitiu que os novos corpos não constam no balanço oficial — o que pode elevar o total de mortos para mais de 100 pessoas.

A maior chacina da história recente do Rio

O episódio, que já é tratado por entidades de direitos humanos como um massacre, escancara o grau de violência e descontrole estatal nas operações de segurança pública no Rio. Moradores relatam que os corpos encontrados em áreas de mata da Serra da Misericórdia, conhecida como Vacaria, estavam em estado de abandono após intensos confrontos entre forças policiais e grupos armados.

O ativista Raull Santiago, morador do Complexo do Alemão, descreveu a cena como “brutal e violenta num nível desconhecido”, comparando a operação às chacinas históricas do estado. “Em 36 anos de favela, nunca vi nada parecido”, declarou.

Enquanto o governo do estado sustenta a versão de confronto legítimo, familiares e organizações sociais denunciam execuções sumárias e ocultação de cadáveres. A Defensoria Pública e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) anunciaram que vão acompanhar as perícias e exigir a identificação das vítimas.

“A magnitude da operação e a discrepância entre o número de mortos e de armas apreendidas indicam forte desproporcionalidade no uso da força”, afirmou uma nota da Rede de Observatórios da Segurança.


H2: Contradições no balanço oficial

Na terça-feira (28), o governo Cláudio Castro anunciou em coletiva que 60 criminosos foram mortos em uma ação “bem-sucedida” contra o tráfico. No entanto, com a descoberta dos novos corpos, a narrativa oficial ruiu. O próprio coronel Nogueira, chefe da PM, confirmou que os 55 corpos levados pelos moradores “não constam na contabilidade oficial”.

Se confirmada a ligação entre os mortos e a operação, o número total ultrapassará 100 vítimas fatais, um recorde trágico mesmo para os padrões de violência do Rio. O caso já mobiliza parlamentares e organizações internacionais. A Anistia Internacional e a Human Rights Watch pedem investigação independente e proteção para testemunhas.

A Polícia Civil informou que o reconhecimento dos corpos será realizado no prédio do Detran, ao lado do Instituto Médico-Legal (IML), com acesso restrito ao Ministério Público e às autoridades responsáveis pela perícia.

“Essas mortes não podem ser tratadas como números. São vidas perdidas num Estado que insiste em políticas de confronto fracassadas”, disse a socióloga Julita Lemgruber, ex-diretora do sistema penitenciário do RJ.


Impactos sociais e políticos do Massacre Na Penha

O Massacre Na Penha reacende o debate sobre o modelo de segurança pública adotado pelo estado, baseado em incursões de larga escala em áreas pobres, quase sempre com saldo de mortos e sem responsabilização. A operação, que o governo classificou como “estratégica”, gerou revolta popular e repúdio político.

Deputados da bancada fluminense na Câmara dos Deputados anunciaram pedidos de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Comissão de Direitos Humanos. Já o Ministro Alexandre de Moraes determinou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste em 24 horas sobre o episódio.

Além do impacto imediato, o caso compromete a imagem internacional do Brasil em fóruns de direitos humanos e pode gerar sanções diplomáticas. Em um contexto de crise econômica e social, o massacre expõe a ausência de uma política efetiva de segurança cidadã e a persistência da militarização das periferias.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.