Estado Letal

Chacina no Rio: ativistas denunciam extermínio e relocação de corpos em operação mais letal da história

Ativistas e moradores do Complexo da Penha denunciam brutalidade das forças de segurança após retirada de mais de 60 corpos; organizações e ONU cobram responsabilização e fim da política de extermínio.

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Antônio Carlos Costa, presidente da ONG Rio de Paz, pediu a responsabilização do governador Cláudio Castro pela tragédia. Foto: antoniocarloscosta/Instagram

Na sequência da maior operação policial já realizada no Rio de Janeiro, considerada a mais letal da história do estado, moradores do Complexo da Penha retiraram mais de 60 corpos de uma área de mata um dia após os confrontos. O ativista Raul Santiago, morador do Morro do Alemão, usou transmissões ao vivo para denunciar o que classificou como uma “chacina” e um “massacre” promovidos pelo Estado.

Santiago lamentou profundamente a brutalidade evidenciada no episódio, destacando a desigualdade social que marca a realidade das favelas da cidade maravilhosa. Ele declarou que, apesar da exposição cotidiana à violência, os acontecimentos daquela noite são insuportáveis e ilustram a face cruel da política de segurança.

Enquanto o governo estadual confirma oficialmente 64 mortes, incluindo quatro policiais, moradores contabilizam pelo menos outros 70 corpos retirados das matas do Complexo da Penha e do Alemão. Uma contagem que, se confirmada sem duplicidades, pode elevar a cifra total de mortos para mais de 130 vítimas.

O presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, esteve presente durante a retirada dos corpos e cobrou a responsabilização do governador Cláudio Castro pelo episódio, que denunciou como mais um capítulo da política de segurança pública que destrói vidas nas comunidades pobres e negras do Rio.

Denúncias de organizações e movimentos

Quase 30 entidades de direitos humanos divulgaram nota conjunta classificando a operação como uma “matança produzida pelo Estado brasileiro”, responsabilizando diretamente o governo estadual e seu titular por promover o confronto e a morte sistematizados em favelas, tratadas como campos de guerra.

O documento repudia a política de segurança atual por aprofundar o abismo social e perpetuar a violência institucional, e reivindica mudanças profundas, como desmilitarização das abordagens policiais, políticas sociais estruturantes, educação em tempo integral, saneamento, habitação e geração de emprego.

A Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj) definiu a ação como genocida, ressaltando que os moradores dessas comunidades são tratados como cidadãos de segunda categoria, vítimas constantes de violações de direitos básicos.

© Tomaz Silva/Agência Brasil
© Tomaz Silva/Agência Brasil

Reações internacionais e pedido de investigação

A Organização das Nações Unidas (ONU) manifestou horror com a operação, por meio do Escritório de Direitos Humanos, exigindo o cumprimento das normas internacionais de direitos humanos e investigações rigorosas sobre as mortes.

O diretor da Human Rights Watch no Brasil, César Muñoz, também condenou a ação e defendeu que cada morte seja investigada para garantir transparência e responsabilização.

Contexto político e segurança pública

O episódio reacende o debate sobre a eficácia e os limites da política de segurança no país. O governo federal pressiona o Congresso pela votação urgente da PEC da Segurança Pública, que prevê endurecimento no combate ao crime organizado, incluindo medidas controvertidas como restrição da progressão de regime e anonimato para juízes que processam líderes criminais.

O governador Cláudio Castro, por sua vez, defende a operação, alegando que foi planejada e autorizada pelas autoridades competentes e que o combate ao crime deve ser firme – postura que enfrenta críticas duras da sociedade civil e especialistas.

Com informações da ABr e Agências

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.