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STF leva Câmara a cortar salário de Carla Zambelli

Após deixar o país para escapar da prisão, deputada bolsonarista perde salário e verbas parlamentares por ordem de Moraes

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Brasília, Brasil – 5 de junho de 2025 – A Câmara dos Deputados suspendeu nesta quinta-feira (5) o salário e todas as verbas parlamentares da deputada Carla Zambelli (PL-SP), atualmente foragida no exterior.

A medida foi tomada após ordem direta do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que também decretou a prisão preventiva da bolsonarista e seu nome na lista vermelha da Interpol. Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão por crimes ligados à invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A Presidência da Câmara, sob comando de Hugo Motta (Republicanos-PB), confirmou o bloqueio das verbas, que inclui não apenas o salário mensal da deputada, mas também o uso de recursos públicos vinculados ao gabinete. Zambelli, por sua vez, pediu licença por 120 dias, alegando “interesse pessoal”, e já está fora do Brasil.


Bloqueio de verbas é cumprimento direto de ordem do STF

O comunicado da Câmara dos Deputados, publicado na noite desta quinta-feira nas redes oficiais da instituição, afirma que a determinação foi integralmente acatada após o recebimento formal da ordem de Alexandre de Moraes.

“A decisão do STF a respeito da parlamentar foi recebida na quarta-feira (4/6) e o bloqueio de valores nela previsto teve o cumprimento determinado pela Presidência”, informou a Casa.

A decisão foi tratada com cautela, mas sem resistência. O presidente da Câmara, Hugo Motta, é aliado do centrão, bloco que tem evitado confrontar diretamente o STF em temas de alta sensibilidade institucional.

A nota oficial da Câmara, porém, ressalta que, até o momento, a ordem judicial não detalha outras providências além do bloqueio das verbas. Na prática, isso deixa em aberto a implementação de medidas adicionais, como a efetivação da perda de mandato, já prevista na condenação imposta por unanimidade pela Primeira Turma do Supremo.


Licença de Zambelli: manobra para preservar foro e mandato

Horas antes da oficialização do bloqueio, Zambelli enviou dois pedidos de licença ao presidente da Câmara. O primeiro, por sete dias para tratamento de saúde, e o segundo por 120 dias de afastamento por interesse particular, totalizando 127 dias fora do exercício parlamentar.

Durante esse período, assume sua cadeira o suplente Coronel Tadeu (PL-SP), também ligado ao bolsonarismo. A estratégia da parlamentar segue um roteiro conhecido entre investigados por crimes graves: usar o afastamento para manter o foro privilegiado, ao mesmo tempo em que se evita uma eventual cassação por ausência prolongada não justificada.

A manobra, no entanto, não afasta o cerco jurídico. A perda de mandato já está prevista na condenação do STF, que também impôs sanções adicionais à deputada, como o bloqueio de perfis em redes sociais e multas diárias por eventuais postagens de conteúdo criminoso.


Interpol, redes sociais e a nova fase da repressão digital

A inserção de Carla Zambelli na lista de difusão vermelha da Interpol, formalizada pela Polícia Federal, eleva o caso ao patamar internacional. O objetivo agora é localizá-la e pressionar sua extradição, considerando que Zambelli tem dupla cidadania italiana.

Além disso, Moraes ordenou o bloqueio total das redes sociais da parlamentar, incluindo Instagram, Facebook, X (antigo Twitter), TikTok e LinkedIn. Em caso de descumprimento, as plataformas poderão ser multadas em R$ 100 mil por dia.

A medida, já aplicada em outros casos ligados ao extremismo digital, reforça a estratégia do Supremo de sufocar a estrutura comunicacional da extrema direita bolsonarista, especialmente após os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. Moraes também impôs multa de R$ 50 mil por dia para qualquer publicação que reiterar condutas criminosas.


Condenação por invasão ao CNJ marcou fim da linha

A condenação que levou à queda de Zambelli foi unânime: 10 anos de prisão e perda do mandato pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ação classificada como atentado contra instituições da República.

A decisão da Primeira Turma do STF evidenciou a gravidade dos atos cometidos por Zambelli, que extrapolaram o discurso político e configuraram crimes digitais e ataque à soberania dos sistemas judiciais.

A fuga do Brasil após a sentença foi decisiva para a decretação da prisão preventiva, pois revelou “claro intento de obstrução da Justiça”, segundo o despacho de Moraes. A parlamentar partiu do país no início da semana, sem informar destino, mas há indícios de que está na Itália, onde pode tentar barrar uma eventual extradição.


O Carioca Esclarece

Por que o STF determinou o bloqueio do salário de Zambelli?
O STF entende que, uma vez condenada e foragida, Zambelli não pode continuar a receber recursos públicos como parlamentar ativa. O bloqueio impede o uso de verbas para financiar eventual fuga e desestimula estratégias de blindagem institucional.

Ela pode ser cassada mesmo com a licença?
Sim. A licença não impede a efetivação da cassação, já determinada pelo Supremo. A Câmara pode apenas aguardar os trâmites jurídicos finais ou acelerar a perda de mandato, caso haja pressão política suficiente. A manobra da licença não protege contra o cumprimento da pena.

O que significa estar na lista vermelha da Interpol?
Estar na lista de difusão vermelha significa que o nome da deputada passa a constar entre os mais procurados internacionalmente. Caso seja localizada fora do Brasil, autoridades locais podem detê-la com base no pedido de extradição feito pelo governo brasileiro.

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