sexta-feira, junho 6, 2025
26.8 C
Rio de Janeiro
InícioPolítica“Sou atacado por não aceitar o golpe”, diz ex-comandante ao STF
Consequências do Golpe

“Sou atacado por não aceitar o golpe”, diz ex-comandante ao STF

Rio de Janeiro, 3 de junho de 2025 – Em depoimento explosivo ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior, escancarou o que muitos setores da sociedade já sabiam: o Brasil esteve à beira de um golpe militar orquestrado por Jair Bolsonaro após sua derrota nas eleições de 2022.

O relato, feito à Primeira Turma do STF nesta quarta-feira, confirma que o então presidente não só articulou uma ruptura institucional, como foi explicitamente advertido de que poderia ser preso caso avançasse nesse caminho.

A farsa da GLO e a ameaça de prisão

O brigadeiro confirmou que as reuniões no Palácio da Alvorada, entre os dias 11 e 14 de novembro de 2022, não eram meras consultas sobre instrumentos constitucionais, como Bolsonaro alegava. Tratava-se, segundo Baptista Junior, de uma tentativa deliberada de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva — eleito democraticamente com mais de 60 milhões de votos. As conversas sobre Garantia da Lei e da Ordem (GLO), estado de defesa ou estado de sítio não passavam de cortinas de fumaça.

A declaração mais contundente do depoimento veio ao confirmar o relato do ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, que teria dito a Bolsonaro, com toda a serenidade militar, que o prenderia caso insistisse na aventura golpista. “Se o senhor tiver que fazer isso, vou acabar lhe prendendo”, disse Freire Gomes segundo Baptista Junior. Um aviso direto que sepultou qualquer ilusão de consenso dentro das Forças Armadas.

Militares perseguidos por bolsonaristas

O depoimento também expôs o ambiente tóxico que se instalou nas redes sociais, onde militares que não aderiram ao plano antidemocrático foram alvos de campanhas de difamação. Baptista Junior relatou que até hoje é atacado por bolsonaristas no X (antigo Twitter), sendo chamado de “melancia” — termo usado por extremistas para acusar militares de serem “verdes por fora e vermelhos por dentro”. A acusação revela a lógica binária e delirante do bolsonarismo digital, que confunde lealdade à Constituição com traição ideológica.

“Os ataques vinham como ‘traidor da pátria’, ‘não é patriota’. São essas coisas que estão acontecendo até hoje. São muitos ataques”, lamentou o ex-comandante, revelando o custo pessoal de se opor a uma tentativa de golpe.

Alvorada, o bunker da conspiração

Segundo o brigadeiro, o clima nos encontros promovidos por Bolsonaro no Palácio da Alvorada era de inquietação crescente. Inicialmente travestidas de conversas institucionais, as reuniões se transformaram em um centro de conspiração. O próprio Baptista Junior afirmou que, a partir de certo ponto, percebeu que o real objetivo era sabotar a posse de Lula: “Eu comecei a achar que o objetivo de qualquer medida dessa, de exceção, era, sim, para não haver a assunção pelo presidente que foi eleito”.

Ele foi categórico ao comunicar ao ex-presidente que não haveria atalho possível: “Aconteça o que acontecer, no dia 1º de janeiro o senhor não será presidente”. A frase é um divisor de águas — dita não por um opositor político, mas por um alto oficial das Forças Armadas — e deixa claro o nível de tensão institucional que marcou aquele período sombrio da história brasileira.

STF, Forças Armadas e a memória do golpe

O depoimento de Baptista Junior fortalece a narrativa que o STF tenta consolidar diante da omissão e da cumplicidade que marcaram parte das estruturas do Estado. A postura do brigadeiro e do general Freire Gomes contrasta com o silêncio cúmplice de outros oficiais que preferiram se esconder atrás da ambiguidade ou da covardia funcional.

O Brasil vive, mais uma vez, o desafio de lidar com os fantasmas do autoritarismo. A tentativa de golpe de 2022 precisa ser nomeada, investigada e punida com a contundência que o momento exige. A impunidade de 1964 não pode se repetir. A democracia não se sustenta com meias verdades nem pactos de silêncio.

A fala de Baptista Junior não é apenas um testemunho — é uma convocação. Um alerta sobre os riscos que ainda rondam o país enquanto figuras como Jair Bolsonaro continuam mobilizando ressentimentos, desinformação e radicalismo militarizado.

O papel das instituições e da sociedade civil

Enquanto o Supremo Tribunal Federal avança com investigações sobre os ataques às instituições democráticas, cabe à sociedade manter a vigilância ativa. A democracia brasileira sobreviveu à tempestade bolsonarista não por sorte, mas por resistência institucional — ainda que parcial — e pressão popular.

Que o depoimento de Baptista Junior sirva para reforçar o compromisso do país com a verdade histórica. O Brasil não pode mais tratar tentativas de golpe como mal-entendidos políticos. O bolsonarismo tentou subverter a vontade popular — e parte das Forças Armadas disse não. Essa memória precisa ser preservada, documentada e ensinada.

Relacionadas

STF sela destino de Carla Zambelli, mesmo com fuga para Itália

Deputada bolsonarista perde apoio na Corte e caminha para cassação, prisão e fim do foro privilegiado

Lula recebe título de Doutor Honoris Causa na universidade símbolo do Maio de 68

Na Paris 8, presidente brasileiro exalta a educação como instrumento de emancipação e anuncia universidade indígena

Lula acusa elite por atraso do Brasil

Em Paris, presidente critica papel das elites e diz que país naturalizou a pobreza como destino inevitável

André Mendonça vota para proibir remoção ou suspensão de perfis nas redes sociais

Ministro quer impedir redes de suspenderem perfis mesmo com indícios de robôs ou falsidade, defendendo artigo criticado por Barroso

Torre Eiffel fica verde e amarela em homenagem a Lula

Monumento símbolo da França se ilumina com verde e amarelo durante visita oficial de Lula; presidente brasileiro pressiona Macron por acordo comercial

STF leva Câmara a cortar salário de Carla Zambelli

Após deixar o país para escapar da prisão, deputada bolsonarista perde salário e verbas parlamentares por ordem de Moraes

Carla Zambelli pede licença de 120 dias na Câmara após fugir do Brasil

Condenada a 10 anos, deputada é alvo de mandado de prisão do STF e entra na lista vermelha da Interpol

Câmara mineira veta medalha Tancredo Neves a Nikolas Ferreira: ‘não deu honra aos votos que recebeu’

Após pressão popular, vereadores de São João del-Rei barram medalha e título honorário ao deputado bolsonarista

Jair Bolsonaro: “não tenho nada a ver com a Carla Zambelli”

Ex-presidente depõe à PF, nega vínculo com Zambelli e tenta blindar Eduardo em meio ao cerco judicial

Carla Zambelli desembarcou na Itália horas antes da Interpol agir

Deputada bolsonarista cruzou fronteiras e chegou à Europa antes da difusão vermelha. Moraes já havia decretado prisão preventiva.

Confira outros assuntos:

Mais Lidas

Parimatch Cassino online