Brasília, Brasil – 4 de junho de 2025 – A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão preventiva da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada por crimes digitais e falsidade ideológica.
Além disso, o procurador-geral Paulo Gonet exigiu a inclusão da parlamentar na lista vermelha da Interpol, o bloqueio de seus bens e a apreensão de seu passaporte. A medida ocorre um dia após a própria Zambelli confirmar que deixou o Brasil rumo à Itália, onde pretende escapar da Justiça brasileira usando sua cidadania italiana.
O caso será julgado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação no STF, que já condenou Zambelli a 10 anos de prisão em regime fechado. A bolsonarista, no entanto, não esperou o desfecho: atravessou as fronteiras e foi para a Europa, onde tenta blindar-se contra a extradição.
Fuga calculada e desafio direto à Justiça brasileira
Em entrevista à Rádio Auriverde, transmitida pelo YouTube, Zambelli confirmou sua fuga. “Saí do Brasil na terça-feira e estou decidida a morar no interior da Itália”, declarou. De posse de dupla cidadania, ela deixou claro seu objetivo: usar a nacionalidade italiana como escudo para escapar da prisão.
Mais do que uma tentativa de se livrar da pena, a deputada partiu para o ataque. Em tom desafiador, afirmou à CNN Brasil que nenhuma autoridade brasileira conseguirá removê-la do território italiano. “Podem colocar a Interpol atrás de mim, não vão me tirar da Itália. Sou cidadã italiana. A não ser que a Justiça italiana me prenda, ninguém me toca. E aí, não vai ser o Moraes, vai ser a Justiça italiana”, provocou.
Condenação unânime no STF e cassação de mandato
Zambelli foi condenada em 14 de maio junto ao hacker Walter Delgatti Neto. Ambos foram responsabilizados por invasão de sistemas e falsidade ideológica. A decisão foi unânime entre os ministros da Primeira Turma do STF. No caso da deputada, a Corte determinou ainda a perda do mandato parlamentar por oito anos, com base na Lei da Ficha Limpa.
O julgamento foi conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, que há meses é alvo das hostilidades da ala bolsonarista. A prisão preventiva solicitada agora pela PGR, segundo Paulo Gonet, visa garantir a aplicação da lei e impedir novas tentativas de evasão.
“Trata-se de uma medida cautelar, não de antecipação da pena”, explicou o procurador-geral, antecipando a estratégia de defesa de Zambelli, que já se posiciona como vítima de perseguição política.
Interpol, extradição e os limites da cidadania europeia
O pedido de inclusão de Zambelli na difusão vermelha da Interpol insere o caso numa disputa internacional. Embora o Brasil e a Itália tenham acordo de cooperação policial, a extradição de cidadãos italianos costuma enfrentar obstáculos jurídicos e diplomáticos. Zambelli aposta nisso para se manter fora do alcance da Justiça brasileira.
Na prática, a difusão vermelha funciona como um alerta global, solicitando a prisão de uma pessoa para fins de extradição. No entanto, cabe às autoridades italianas decidir se cumprem o pedido — o que envolve critérios técnicos, políticos e até diplomáticos. A depender da interpretação, a Itália pode se recusar a entregar uma de suas cidadãs, especialmente se houver alegação de perseguição política.
O jogo político por trás da fuga
A debandada de Zambelli não é um caso isolado: reflete o aprofundamento da crise institucional entre o bolsonarismo e o Supremo Tribunal Federal. A deputada, uma das aliadas mais fiéis de Jair Bolsonaro, sempre esteve na linha de frente dos ataques ao sistema judiciário e ao processo democrático. Sua fuga simboliza um gesto político: o de transformar sua condenação em bandeira de “martírio” e tentar internacionalizar a narrativa de perseguição.
Resta saber se a estratégia dará certo. O STF e a PGR já deixaram claro que não recuarão. O cerco jurídico avança, e a pressão internacional pode aumentar. Mas Zambelli joga com o tempo — e com a proteção europeia.
O Carioca Esclarece
Zambelli pode mesmo escapar da prisão só por ter cidadania italiana?
Não necessariamente. Apesar da cidadania, a Itália pode, sim, extraditar Zambelli se considerar que os crimes têm natureza penal comum e que não há perseguição política. Mas o processo é lento e envolve decisões políticas.
O que é a difusão vermelha da Interpol?
É um alerta internacional para localizar e prender uma pessoa procurada, com base em pedido de um país-membro. Não é um mandado de prisão automático, mas serve como base para cooperação entre as polícias.
Por que a PGR pediu bloqueio de bens?
Para garantir a reparação dos danos causados pelos crimes e evitar que Zambelli use recursos para dificultar o cumprimento da pena. Também é uma forma de impedir que ela se sustente financeiramente no exterior com dinheiro de origem duvidosa.