BRASÍLIA, 4 de junho de 2025 — A deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) passou da ameaça à prática. Condenada por sua participação direta no ataque ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a parlamentar foi alvo de um novo mandado de prisão determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após abandonar o país para escapar da sentença. Na decisão, Moraes afirma que Zambelli repete a estratégia adotada por Eduardo Bolsonaro, seu correligionário e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, ao tentar deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro e buscar apoio internacional contra as instituições democráticas.
A parlamentar, que já havia sido condenada a dez anos de prisão, agora será considerada foragida. Moraes aponta um padrão de atuação articulado entre Zambelli e outros integrantes do bolsonarismo radical que passaram a operar do exterior em campanha contra o Estado Democrático de Direito.
Prisão preventiva por reiterar ameaças
O mandado de prisão preventiva foi expedido com base em novos elementos que indicam a continuidade da prática delituosa, mesmo após a condenação. Zambelli, segundo Moraes, segue praticando crimes contra o funcionamento das instituições democráticas. Em entrevista recente, a deputada voltou a colocar em dúvida a lisura das eleições de 2022, alegando que as urnas eletrônicas “não são confiáveis”, e que pesquisas eleitorais teriam sido “manipuladas”.
Para Moraes, tais falas configuram não apenas um ataque à Justiça Eleitoral, mas também tentativas de deslegitimação permanente do resultado eleitoral, o que fere a ordem democrática. Ele afirma ainda que Zambelli articula ações no exterior para sustentar a retórica golpista da extrema direita, repetindo o “modus operandi” de Eduardo Bolsonaro, que vive nos Estados Unidos e atua abertamente contra ministros do STF.
Exportando a narrativa golpista
Em sua própria defesa, a deputada anunciou que pretende permanecer na Europa com o objetivo de “denunciar a ditadura” no Brasil — uma retórica que espelha o discurso internacionalizado de Eduardo Bolsonaro e de Paulo Figueiredo, neto do último ditador militar do país. Ambos têm atuado como emissários informais da extrema direita brasileira, buscando apoio junto a figuras conservadoras estrangeiras, especialmente nos EUA de Donald Trump.
“A Europa precisa de alguém que fale espanhol, português, inglês e até italiano”, declarou Zambelli em vídeo publicado nas redes sociais. A frase revela uma tentativa calculada de se apresentar como porta-voz internacional da extrema direita brasileira, ampliando o alcance da desinformação institucional e buscando proteção fora do alcance da Justiça brasileira.
Ação criminosa no CNJ e uso de hacker
Zambelli foi condenada pelo STF por invasão ao sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça, em articulação com o hacker Walter Delgatti Neto, o mesmo que ficou conhecido pela violação de mensagens da Lava Jato. Entre os documentos falsos inseridos no CNJ, havia um suposto mandado de prisão contra o próprio ministro Alexandre de Moraes.
A Procuradoria-Geral da República apontou que a deputada comandou e orientou a ação criminosa, e forneceu diretrizes para a inserção de dados fraudulentos no sistema judicial. Trata-se, segundo os autos, de um ataque direto ao funcionamento do Judiciário — e não de mera “opinião política” como alega a defesa de Zambelli.
Apesar da gravidade da condenação, o fato de a decisão ainda estar pendente de recurso permitiu que Zambelli mantivesse seu passaporte e deixasse o Brasil legalmente, o que agora se configura como fuga deliberada.
Um histórico de ilegalidades armadas
A trajetória de Zambelli inclui outros episódios de confronto direto com a legalidade. Em 2022, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, a deputada perseguiu um homem negra e desarmada pelas ruas de São Paulo, empunhando uma pistola, após alegar ter sido provocada politicamente.
Ela é ré por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal, e o episódio se tornou símbolo do clima de intimidação promovido por setores armados do bolsonarismo. A ação gerou repúdio público, mas não impediu sua reeleição. Agora, os desdobramentos criminais dessa e de outras condutas compõem um quadro de reincidência institucional.
O Carioca Esclarece
Por que Zambelli foi presa mesmo com recurso pendente?
A prisão preventiva não decorre apenas da condenação anterior, mas da continuidade da prática de crimes — especialmente ao articular novos ataques ao sistema eleitoral e fomentar a ruptura democrática desde o exterior. Isso caracteriza risco concreto à ordem pública.
Como Zambelli repete a estratégia de Eduardo Bolsonaro?
Ambos usam o exílio como plataforma política, disseminam acusações falsas sobre as instituições brasileiras e buscam apoio de figuras da extrema direita internacional. A tática inclui vitimização, internacionalização da narrativa golpista e ataque coordenado ao STF.
Há risco de Zambelli obter asilo político?
O asilo é uma proteção contra perseguições injustas, o que não se aplica ao caso. Zambelli foi julgada com ampla defesa, por crimes com provas materiais, e não há evidência de perseguição ideológica. Mesmo assim, a direita internacional pode usá-la como símbolo, como já faz com outros condenados pelo 8 de Janeiro.