Mal-estar a caminho

Moraes convoca Bolsonaro para depor no STF

Segundo fontes, ex-presidente planeja nova internação às vésperas da audiência que escancara a farsa golpista de 2022

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

2 de junho de 2025, Brasília (DF) — A poucos dias do início oficial dos interrogatórios no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tentativa de golpe de Estado de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) parece se preparar não para responder, mas para fugir — mais uma vez — pelas portas de um hospital. Alexandre de Moraes, ministro relator do inquérito, marcou para segunda-feira, 9 de junho, o primeiro depoimento presencial no processo que investiga a trama golpista frustrada que buscava manter Bolsonaro no poder. E, como em outras ocasiões em que a Justiça se aproximou demais, o ex-capitão ameaça adoecer.

A liturgia do adiamento

Fontes próximas ao clã bolsonarista ventilam que o ex-presidente deve se internar no dia 8 de junho, véspera da audiência com Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens e delator premiado. A escolha do timing não é coincidência: já virou tradição. Em momentos de crise, Bolsonaro apela para a dramaturgia hospitalar. A cada investida judicial, um leito reservado, um diagnóstico nebuloso e uma desculpa esfarelada de vitimização. A doença, ali, nunca é só fisiológica — é uma alegoria política.

Golpe, farsas e bisturis

A encenação já não surpreende. Em Brasília, ninguém mais compra o enredo do mártir acamado. A estratégia — repetida à exaustão desde os tempos da facada de 2018 — consiste em converter o corpo debilitado em álibi jurídico. Os diagnósticos variam: dores abdominais, refluxos existenciais, arritmias ideológicas. Mas o objetivo é um só: adiar o inevitável confronto com a verdade. O problema é que, agora, a farsa enfrenta o script implacável da Justiça.

Cid estreia no palco da verdade

O depoimento de Mauro Cid inaugura a semana de acareações no STF. Delator confesso e já condenado, Cid deve detalhar o núcleo da conspiração que planejou desacreditar o processo eleitoral, usar militares para intervir no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e manter Jair Bolsonaro no poder à força. Será o primeiro movimento de uma série de depoimentos que podem escancarar a cadeia de comando do golpe — e Bolsonaro é, inevitavelmente, o elo final dessa corrente de covardia.

Do repouso estratégico à implosão política

Não há mais margem para dúvidas: o ex-presidente é o principal beneficiário — e possível autor intelectual — de um plano de ruptura institucional que se valeu da desinformação, da cumplicidade militar e do cinismo jurídico. Diante da iminência de seu interrogatório, a reincidência hospitalar se torna confissão tácita. A cada maca ocupada, Bolsonaro diz: “não posso responder, mas também não posso negar”. A encenação hospitalar se converte, portanto, em estratégia de defesa desesperada.

UTIs seletivas e pudores clínicos

Entre as exigências logísticas para a internação figuram bizarrices dignas de um roteiro de tragicomédia: uma UTI sem oficiais de Justiça, café da manhã com leite condensado e ausência absoluta de médicos inquisidores. Brasília está fora de cogitação — porque ali mora a sede do Judiciário, e o ex-presidente parece alérgico a perguntas com base legal. A vaga perfeita, dizem, pode surgir em São Paulo, onde clínicas privadas mantêm o sigilo como política de Estado.

A comédia de um fim anunciado

Bolsonaro transformou sua biografia em um roteiro farsesco de autocomiseração institucionalizada. Do Planalto à UTI, das lives à maca, o ex-presidente foge da responsabilidade como quem escapa de um espelho. O problema é que, desta vez, o teatro tem plateia e os aplausos se tornaram vaias. A Justiça assiste, anota e prepara seu veredito.

Fuga ou confronto: o Brasil à espera

É improvável que o truque da internação funcione por muito tempo. Alexandre de Moraes já determinou que as audiências se estendam até 13 de junho, caso necessário. E a sociedade brasileira — exausta da impunidade de seus farsantes — observa com atenção. Porque não há remédio que cure a democracia ferida. E não há repouso suficiente para um país que sangrou ao som de tanques imaginários e discursos de ódio.

A pergunta que resta não é se Bolsonaro vai depor — mas até quando conseguirá fingir que não deve.

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