Tráfico

Maconha apreendida com primo de Nikolas Ferreira é chamada de “essa é da braba”

Tabletes da droga estavam com primo de Nikolas Ferreira, em operação em Uberlândia; rótulo evidencia ostentação do crime organizado

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Uberlândia (MG), 1º de junho de 2025 — Uma remessa de 30 kg de maconha rotulada como “essa é da braba” foi apreendida pela Polícia Federal em Uberlândia, Minas Gerais, em 23 de maio. A droga estava sendo transportada no porta-malas de um Toyota Etios por Glaycon Raniere de Oliveira, de 28 anos, identificado como primo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). A operação expôs uma nova estética no narcotráfico: o marketing direto da ilegalidade.

Etiquetagem como marca da violência
O detalhe que chamou a atenção dos agentes da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Minas Gerais (FICCO-MG) foi o adesivo colado em cada tablete de maconha: a frase “essa é da braba”, grafada de forma ostensiva, com objetivo evidente de afirmar a “qualidade” do entorpecente. Não é a primeira vez que o tráfico apela à comunicação visual como forma de mercado: em 2022, em Anápolis (GO), uma apreensão revelou tabletes decorados com a imagem de Jair Bolsonaro — mais uma vez misturando política, crime e marketing de guerra.

Uberlândia, Pitangui e o rastro da droga
Glaycon alegou à polícia ser motorista de aplicativo e disse que fazia apenas o transporte, sem saber exatamente o que levava. Segundo seu depoimento, a droga teria sido retirada de uma padaria e seria levada para Nova Serrana (MG). Os tabletes, no entanto, estavam expostos e sem qualquer disfarce — o que, para os investigadores, contradiz a versão de “inocência logística”. Um segundo homem que o acompanhava foi liberado após o flagrante.

A operação não se limitou ao flagrante em Uberlândia. Durante o curso das investigações, haxixe e crack foram localizados em um imóvel em Pitangui (MG), onde uma mulher de 26 anos foi detida. A Polícia Federal investiga se há conexão entre os dois pontos, reforçando a suspeita de rede articulada na distribuição de drogas em Minas Gerais.

Família e política no entorno do caso
Embora o parentesco com Nikolas Ferreira tenha chamado atenção, não há até o momento qualquer indício ou prova de envolvimento direto do deputado com a ação criminosa. A prisão de Glaycon Raniere, no entanto, acende alertas sobre a presença do crime organizado no interior mineiro, especialmente em cidades de interesse político e eleitoral.

Glaycon é filho de Eneas Fernandes, candidato a prefeito de Nova Serrana (MG) pelo PL. Até agora, Eneas não foi alvo da investigação e não se manifestou sobre o caso. A ausência de pronunciamento público contrasta com a repercussão da prisão nas redes sociais, onde adversários políticos exploraram o episódio para lançar suspeitas — mesmo sem provas.

A resposta política e a sombra da desinformação
O deputado André Janones (Avante) foi um dos primeiros a comentar a prisão nas redes. Em uma publicação, afirmou: “Ao contrário do que eles fazem comigo, não serei baixo e leviano como eles. É importante mencionar que até o momento não existe nenhuma prova cabal que ligue Nikolas Ferreira ao narcotráfico. Mas as investigações seguem e a qualquer momento novas revelações virão à tona.”

A fala de Janones toca num ponto crucial do debate público: o uso político de prisões relacionadas a familiares de figuras públicas, especialmente em tempos de guerra de narrativas e manipulação nas redes. A estratégia de rotular drogas com frases chamativas ou rostos políticos não é novidade, mas ganha nova camada de cinismo em um país onde o tráfico e a política se entrelaçam perigosamente, mesmo quando não há conexão direta comprovada.

Criminalidade performática
O nome da droga — “essa é da braba” — é mais do que um artifício de marketing. É um recado. Uma provocação gráfica que escancara como o tráfico se converteu em espetáculo, com estética própria, slogans de impacto e desprezo calculado pelas instituições. A banalização do crime como estilo de vida nas periferias e redes sociais não nasce no vácuo: é cultivada pela falência do Estado, pelo abandono territorial e por uma política de segurança baseada em chacinas e encarceramento em massa.

Minas Gerais no mapa do tráfico interno
A apreensão em Uberlândia e os desdobramentos em Pitangui e Nova Serrana confirmam a posição estratégica de Minas Gerais como rota de redistribuição de drogas entre o Centro-Oeste e o Sudeste. Cidades médias, com menos visibilidade e maior vulnerabilidade institucional, tornam-se pontos ideais para armazenamento e transporte — muitas vezes com apoio ou omissão de estruturas locais de poder.

O caso envolvendo Glaycon Raniere de Oliveira mostra que o narcotráfico, em sua versão atualizada e escancarada, não se contenta mais com o submundo. Ele quer ser reconhecido, nomeado, e até estampado. Mesmo quando não há provas de ligações com figuras políticas, a contaminação simbólica já é, por si só, um dado alarmante.

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