Brasília, 1º de junho de 2025 — Em um discurso direto, sem rodeios nem eufemismos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou neste sábado que, se a esquerda não priorizar as eleições para o Senado Federal em 2026, a extrema-direita terá carta branca para “avacalhar o Supremo Tribunal Federal (STF)” e desmantelar a frágil institucionalidade democrática brasileira. A fala, proferida durante o 16º Congresso Nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), em Brasília, é um chamado de guerra contra a ofensiva bolsonarista em curso — no Legislativo, nas redes e nas trincheiras transnacionais da desinformação.
“Se não garantirmos maioria no Senado, esses caras vão fazer uma muvuca nesse país”, disse Lula, apontando diretamente para o espectro bolsonarista que continua a corroer as bases republicanas com discursos golpistas, ataques ao Judiciário e articulações subterrâneas com apoio internacional.
Senado como trincheira da democracia
A crítica central de Lula se volta para o Senado, cuja composição futura pode determinar a estabilidade — ou o colapso — das instituições. Cabe à Casa Alta julgar pedidos de impeachment de ministros do STF, um instrumento que vem sendo cogitado por setores bolsonaristas com o objetivo explícito de intimidar ou destituir ministros como Alexandre de Moraes, que têm enfrentado as redes de ódio e desinformação articuladas pela extrema-direita.
“Temos que preservar as instituições que defendem a democracia”, reforçou o presidente, em uma crítica velada, mas firme, à indiferença de parte do campo progressista diante da disputa legislativa. A advertência tem peso: em 2026, dois terços do Senado estarão em jogo, o que representa a maior oportunidade da década para reorganizar o equilíbrio de forças no Congresso Nacional.
Um projeto que ultrapassa fronteiras
O bolsonarismo, como Lula bem pontuou, não se limita ao território nacional. Ele se alimenta de alianças transnacionais, especialmente com setores da extrema-direita dos Estados Unidos, onde próceres do bolsonarismo como Allan dos Santos e Paulo Figueiredo Filho têm articulado ofensivas contra a Justiça brasileira sob o manto protetor de uma retórica supostamente liberal.
O caso mais emblemático é o da recusa do Departamento de Justiça dos Estados Unidos em executar ordens do STF, como o bloqueio de contas na plataforma Rumble e o mandado de prisão contra Allan dos Santos. Para Lula, essa negativa demonstra uma postura hipócrita de um governo que interfere globalmente, mas desrespeita decisões judiciais legítimas de países democráticos.
“Nunca critiquei a Justiça deles, mesmo quando fazem barbaridades e entram em guerras. Então por que eles querem criticar a nossa Justiça?”, questionou o presidente, lançando luz sobre o duplo padrão que rege as relações entre Brasil e EUA.
STF sob cerco: a urgência do agora
A ofensiva contra o STF não é mera retórica. O tribunal está prestes a concluir uma ação penal contra Jair Bolsonaro, acusado de articular uma minuta golpista após sua derrota em 2022. Testemunhas já confirmaram encontros com comandantes militares para discutir a reversão do resultado eleitoral. Uma eventual guinada bolsonarista no Senado pode significar o sepultamento definitivo dessa e de outras investigações cruciais para a preservação do Estado Democrático de Direito.
Não à toa, o presidente sugeriu que partidos de esquerda abram mão de candidaturas estaduais em certos casos para fortalecer a bancada no Senado e na Câmara dos Deputados. A fala expõe a lógica política do próximo ciclo eleitoral: trata-se de uma batalha estratégica, não apenas simbólica.
“Às vezes, os melhores quadros precisam ser direcionados para isso”, explicou Lula, propondo uma reorganização do tabuleiro político em nome da resistência democrática.
O bolsonarismo não morreu
É um erro crasso presumir que o bolsonarismo foi derrotado nas urnas. Ele segue operante, com tentáculos na Polícia Militar, no Judiciário de primeira instância, nas igrejas neopentecostais, nas grandes plataformas digitais e, sobretudo, na estrutura legislativa federal. O risco, como alertou Lula, é que ele volte ao centro do poder pelo voto, para então atacar a Constituição pelas vias “legais” que já está construindo.
O Senado, nesse contexto, se torna uma espécie de linha de frente na luta pela democracia brasileira. E Lula, com todas as palavras, parece ter compreendido que o jogo em 2026 não será apenas sobre presidências estaduais, mas sobre a própria sobrevivência institucional do Brasil.
Enquanto a mídia corporativa hesita em nomear o perigo, o presidente aponta o dedo e dá nome aos bois. E faz bem: o bolsonarismo não é apenas um espectro. É uma engrenagem viva, disposta a destruir tudo o que não puder controlar.