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Lula é ovacionado em Paris e recebe lenço palestino

Presidente é acolhido com keffiyeh por apoiadores e inicia agenda com Macron em clima de prestígio político

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Paris, França – 4 de junho de 2025 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Paris nesta quarta-feira para uma visita de Estado marcada por gestos simbólicos e reafirmação de seu prestígio internacional.

Logo após sua chegada ao hotel Intercontinental Le Grand, no centro da capital francesa, Lula foi saudado por um grupo de apoiadores que lhe entregou um keffiyeh, lenço palestino tradicional, usado em atos de solidariedade à causa palestina. O presidente colocou o lenço sobre os ombros, acenando e cumprimentando os manifestantes sob gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.

O gesto – aparentemente simples – não passou despercebido em um contexto em que a guerra em Gaza e o reconhecimento do Estado palestino voltam ao centro da diplomacia global, com países europeus como Irlanda, Noruega e Espanha adotando medidas unilaterais de reconhecimento. Lula, crítico da ocupação israelense e defensor da criação de um Estado palestino, tem adotado nos fóruns multilaterais uma postura que o distancia da ambiguidade diplomática de outras potências ocidentais.

Um estadista em movimento

A presença de Lula em Paris vai além do simbolismo visual. Sua agenda inclui reuniões de alto nível, homenagens acadêmicas e iniciativas de política ambiental e econômica. Ao lado da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, conhecida como Janja, Lula comanda uma comitiva de 19 pessoas, entre elas sete ministros de Estado e parlamentares de destaque, em um giro estratégico por capitais europeias.

O primeiro compromisso oficial será com o presidente francês Emmanuel Macron, em um encontro no Palácio do Eliseu. Ambos devem fazer declarações conjuntas à imprensa e participar de um almoço diplomático. A reunião é vista como um passo no fortalecimento do eixo Paris-Brasília no G20 e em pautas como a reforma do sistema financeiro internacional e a transição energética.

A França abre suas instituições a Lula

Na quinta-feira, Lula será recebido em sessão especial pela Académie Française, uma das instituições mais tradicionais da cultura francesa, fundada em 1635. O gesto é considerado excepcional: líderes estrangeiros raramente são convidados para eventos privados da academia, que guarda a língua e os valores intelectuais do país.

Mais tarde, no Hôtel de Ville, sede da prefeitura de Paris, Lula se encontrará com a prefeita Anne Hidalgo, com quem inaugurará uma placa simbólica na “floresta urbana” da cidade — projeto ecológico que dialoga com as propostas brasileiras para o enfrentamento das mudanças climáticas e a preservação da Amazônia.

Cultura, ciência e liderança do Sul Global

A sexta-feira será marcada por eventos culturais e científicos que ampliam a presença brasileira na Europa. Lula receberá o título de doutor honoris causa pela Universidade Paris 8, em cerimônia que deve destacar seu papel na luta contra a fome e as desigualdades globais.

Ainda no mesmo dia, o presidente abrirá duas exposições de arte brasileira no Grand Palais, reafirmando a centralidade da cultura como instrumento de política externa. Também participa de uma cerimônia organizada pela Organização Mundial de Saúde Animal, que reconhecerá oficialmente o Brasil como território livre de febre aftosa sem vacinação — status técnico que fortalece o agronegócio em acordos comerciais.

De Paris a Mônaco: diplomacia climática e econômica

Embora o Planalto ainda não tenha confirmado o cronograma exato do fim de semana, Lula deve seguir para o litoral mediterrâneo. No domingo (8), participa do Fórum de Economia Azul em Mônaco, iniciativa que discute soluções sustentáveis para a exploração dos oceanos. No dia seguinte, integra a Conferência da ONU sobre os Oceanos, em Nice, onde o Brasil deve apresentar propostas voltadas à soberania marítima e à proteção de ecossistemas marinhos.

Antes de retornar ao Brasil, Lula fará uma visita estratégica à sede da Interpol, em Lyon, onde o brasileiro Valdecy Urquiza, delegado da Polícia Federal, ocupa o segundo posto mais alto da entidade. A visita sela um ciclo de articulação global do governo brasileiro com instituições multilaterais e reforça o discurso de Lula como liderança do Sul Global com legitimidade internacional.


O Carioca Esclarece

Por que o keffiyeh entregue a Lula tem peso diplomático?
O keffiyeh é mais do que um lenço: representa a identidade palestina e a resistência contra a ocupação israelense. Ao aceitá-lo e usá-lo publicamente, Lula reforça seu apoio à causa palestina — uma postura que contrasta com a omissão ou conivência de outros líderes ocidentais diante da tragédia humanitária em Gaza.

Qual o significado da homenagem da Academia Francesa?
Trata-se de um reconhecimento raro, reservado a personalidades que influenciam profundamente a cultura ou a política mundial. Ao homenagear Lula, a França envia um sinal de respeito institucional a um líder que articula soluções progressistas em nível global — da Amazônia à governança internacional.

Como essa visita impacta a imagem do Brasil no G20?
Lula projeta uma imagem de liderança responsável, articuladora e com visão de longo prazo. A recepção calorosa na França, os encontros multilaterais e os temas abordados (como economia azul e reconhecimento sanitário) reforçam o protagonismo do Brasil no G20 e nas discussões sobre justiça climática e reforma da governança global.

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