Brasília, 3 de junho de 2025 — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poupou palavras nesta terça-feira ao denunciar o comportamento de Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado pelo PL de São Paulo e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente foragido nos Estados Unidos. Em coletiva concedida no Palácio do Planalto, Lula classificou como “terrorismo antipatriótico” a atuação de Eduardo junto a figuras da extrema-direita norte-americana para promover sanções contra autoridades brasileiras, em especial o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Lambedor de botas do Trump”
Lula foi direto ao associar o comportamento de Eduardo ao entreguismo mais rasteiro: “Um cidadão que é deputado renuncia ao seu mandato para ficar tentando lamber as botas do Donald Trump, pedindo intervenção na política brasileira”. Segundo o presidente, Eduardo está nos Estados Unidos articulando medidas contra instituições brasileiras ao lado de Paulo Figueiredo Filho, neto do ex-ditador João Figueiredo, ambos empenhados em constranger o STF diante do processo que acusa Jair Bolsonaro de tentativa de golpe de Estado.
Para Lula, a postura de Eduardo extrapola os limites da política partidária: “É lamentável que um deputado brasileiro, filho do ex-presidente, esteja lá a convocar os Estados Unidos para se meter na política interna do Brasil. Isso que é grave!”, afirmou com veemência. “Isso é uma prática terrorista e antipatriótica”, completou.
Hipocrisia bolsonarista em série
O presidente também destacou a incoerência gritante da família Bolsonaro: “Eles só reconhecem eleições quando ganham. Nunca contestaram os votos que elegeram os filhos, mas colocam em dúvida a eleição presidencial”. A menção aponta para o padrão já conhecido do clã bolsonarista, que mistura negacionismo eleitoral seletivo com manobras para deslegitimar adversários — estratégia amplamente utilizada pela extrema-direita global.
Eduardo, ausente do Brasil desde março, intensificou sua presença em círculos trumpistas nos EUA após o avanço das investigações do STF contra seu pai. A fuga e o silêncio cúmplice dos aliados conservadores reforçam a sensação de impunidade, enquanto setores bolsonaristas tentam exportar sua retórica golpista para Washington.
Sanções, tarifas e o aviso de reciprocidade
Lula aproveitou a coletiva para mandar um recado claro ao governo dos Estados Unidos, que cogita sanções unilaterais contra Alexandre de Moraes, sob pressão do lobby bolsonarista. “O respeito à integridade das instituições dos outros países é muito importante. Um país não pode se intrometer na vida do outro, isso não tem cabimento”, alertou, mirando diretamente as intenções do Congresso americano dominado por republicanos radicais.
A crítica também foi estendida às recentes taxações impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros, classificadas como “hostis” e “unilaterais”. Segundo Lula, o Brasil tentará resolver a questão por via diplomática, mas já prepara retaliações caso a via da negociação falhe. “Se não houver um acordo, nós vamos vetar na Organização Mundial do Comércio ou vamos ter uma decisão de reciprocidade”, afirmou, convocando Geraldo Alckmin e Mauro Vieira para liderar as tratativas.
Exportando a extrema-direita
O episódio revela um movimento perigoso: o esforço de Eduardo Bolsonaro e aliados para transformar o Congresso dos Estados Unidos em instrumento de revanche política doméstica. Ao buscar sanções contra um ministro do Supremo brasileiro, Eduardo não apenas ataca a soberania nacional, mas colabora ativamente com o avanço da extrema-direita internacional que se articula em rede para minar democracias.
Não é a primeira vez que os Bolsonaro cortejam potências estrangeiras contra interesses brasileiros. Durante o governo de Jair Bolsonaro, foi comum a submissão explícita ao projeto trumpista, com ataques ao clima, à ciência, à educação pública e à própria Constituição. Eduardo apenas aprofunda a doutrina familiar, agora sem mandato, sem decoro e, segundo Lula, sem pátria.
O Brasil de pé
Ao finalizar, Lula afirmou que o Brasil “não aceitará interferência estrangeira para sabotar sua democracia”, reiterando que “a Justiça brasileira é soberana e independente”. O tom duro é um recado claro: quem aposta no caos de fora para dentro, como Eduardo Bolsonaro, encontrará resistência firme de um governo eleito democraticamente — e que não está disposto a dobrar-se diante de pressões externas, muito menos de filhos mimados de um golpista foragido.