1º de junho de 2025, Brasília (DF) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rompeu o silêncio diplomático e deu nome ao crime que se arrasta impune há décadas no Oriente Médio: genocídio. A declaração ocorreu após o governo de Israel autorizar a construção de 22 novos assentamentos ilegais na Cisjordânia, território internacionalmente reconhecido como parte do futuro Estado palestino. O Palácio do Planalto, por meio do Ministério das Relações Exteriores, emitiu uma nota dura, condenando o avanço como uma “violação flagrante do direito internacional” e um ataque frontal à possibilidade de paz.
O governo brasileiro condena, nos mais fortes termos, o anúncio pelo governo israelense, realizado no dia 29 de maio, da aprovação de 22 novos assentamentos na Cisjordânia, território que é parte integrante do Estado da Palestina.
— Lula (@LulaOficial) June 1, 2025
Essa decisão constitui flagrante ilegalidade… pic.twitter.com/Uiq3md2WWl
Brasil contra a ilegalidade israelense
A decisão israelense, divulgada em 29 de maio, não apenas contraria resoluções da Organização das Nações Unidas, mas desafia o parecer da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que em julho de 2023 declarou ilícita a permanência de Israel nos territórios palestinos ocupados. O documento, citado pelo Itamaraty, não deixa margem para dúvida: “O Estado de Israel tem a obrigação de pôr fim, o mais rápido possível, à sua presença ilegal nos Territórios Palestinos Ocupados”.
A posição brasileira rompe com a conivência habitual da diplomacia ocidental e confronta diretamente o projeto expansionista de Benjamin Netanyahu, hoje cada vez mais alinhado à extrema-direita global e sustentado por um discurso supremacista disfarçado de autodefesa.
“Não é guerra, é genocídio”
Em pronunciamento oficial transmitido em rede nacional, Lula foi além da linguagem técnica. Chamou os ataques a Gaza e à Cisjordânia pelo nome que os tratados internacionais evitam usar por conveniência política: genocídio. “O que nós estamos vendo não é uma guerra entre dois exércitos. Isso é um genocídio”, declarou o presidente, denunciando o massacre sistemático do povo palestino por um regime que instrumentaliza o trauma do Holocausto para justificar novas formas de limpeza étnica.
A fala de Lula ecoa internacionalmente e pressiona outros países do G7 a deixarem de lado a tibieza política. Durante a cúpula do grupo, o presidente também criticou a composição anacrônica do Conselho de Segurança da ONU, que mantém como membros permanentes países diretamente envolvidos em conflitos armados – entre eles, os próprios Estados Unidos, aliados históricos de Israel.
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Ocupação e apartheid: a realidade da Cisjordânia
A decisão israelense de ampliar assentamentos em território ocupado consolida um processo de anexação disfarçada, que avança desde 1967 com apoio de setores ultranacionalistas e religiosos. A expansão dos assentamentos é parte de uma política deliberada de fragmentação territorial da Palestina, tornando inviável a criação de um Estado soberano com Jerusalém Oriental como capital.
A fala do ministro da Defesa israelense, Israel Katz, revelou o projeto real por trás das obras: a consolidação de um “Estado judaico israelense” sobre os escombros da autodeterminação palestina. Trata-se de uma política de apartheid moderno, que expulsa populações inteiras de suas terras, destrói infraestrutura civil e reprime com brutalidade manifestações pacíficas.
Apoio ao povo palestino e redesenho da ordem global
O Brasil reiterou seu apoio incondicional à criação do Estado da Palestina nas fronteiras pré-1967. Essa posição, embora coerente com o histórico diplomático brasileiro, ganha novo peso sob a liderança de Lula, que articula um bloco global do Sul para romper com a tutela política de Washington e Bruxelas sobre os conflitos armados.
Além do caso palestino, Lula abordou a guerra na Ucrânia, revelando conversas com Vladimir Putin para a construção de um cessar-fogo negociado, e voltou a exigir reformas profundas nas instituições multilaterais. “É preciso reformar o Conselho para garantir uma representação mais justa e eficaz, capaz de prevenir novos conflitos globais”, afirmou.
A fala insere o Brasil no centro do debate sobre o redesenho das instituições internacionais — não apenas como espectador, mas como ator crítico da ordem vigente.
Tel Aviv isolada, mas impune
Enquanto a comunidade internacional se mostra dividida entre o silêncio cúmplice e declarações inócuas, o Brasil dá um passo ousado ao nomear o que grande parte do mundo finge não ver: a expansão colonial de Israel sobre a Palestina é ilegal, imoral e genocida. Mas a denúncia, por mais correta que seja, ainda esbarra na blindagem diplomática que Tel Aviv mantém com o apoio de potências como os Estados Unidos.
O desafio agora é transformar indignação em ação política concreta. Seja no G20, na ONU ou na relação bilateral com Israel, o Brasil pode e deve pressionar por sanções econômicas, suspensão de acordos e responsabilização jurídica dos arquitetos da limpeza étnica.