Paris, França – 5 de junho de 2025. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a mirar suas críticas na elite econômica e política do país, ao receber o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Paris 8, nesta quinta-feira. Em discurso enfático, o petista responsabilizou as elites pelo atraso estrutural do Brasil e afirmou que o país só começará a avançar com justiça social quando abandonar a ideia de que pobreza é um destino natural.
Segundo Lula, o Brasil desperdiçou oportunidades históricas por conta de uma elite que sempre ignorou o papel estratégico da educação pública e da inclusão social no desenvolvimento nacional. “Que tipo de elite é essa que não levou em conta a formação do seu próprio povo?”, questionou. “O Brasil poderia ser muito mais desenvolvido, industrialmente competitivo, academicamente relevante e economicamente justo.”
Ao lado de professores, estudantes e autoridades francesas, Lula não apenas traçou um panorama do atraso educacional brasileiro, mas também apontou seus responsáveis — um seleto grupo que, em suas palavras, “jamais pensou o país como um projeto coletivo”.
⚡️🇧🇷🇫🇷 Em Paris, Lula culpa elites pelo atraso histórico do Brasil
— RT Brasil (@rtnoticias_br) June 6, 2025
O presidente destacou que o Brasil foi o último país latino-americano a fundar uma universidade federal. ''Enquanto o Peru teve a sua primeira universidade em 1554, o Brasil só teve em 1920'', ressaltou. pic.twitter.com/qIDtXVpsR0
Elites omitidas e povo marginalizado
Lula fez questão de destacar o atraso histórico do Brasil em relação a conquistas sociais e democráticas básicas. Lembrou que o país foi o último da América Latina a abolir a escravidão, a declarar independência e a implementar o sufrágio feminino. “Enquanto o Peru já tinha sua primeira universidade em 1554, o Brasil só criou a sua em 1920”, ironizou.
O presidente também associou o atraso à manutenção de uma mentalidade elitista e colonial. “Não é normal aceitarmos que algumas pessoas nasceram para ser pobres. Isso é uma construção social e histórica, mantida para preservar privilégios”, afirmou.
Segundo ele, a elite brasileira historicamente tratou o povo como um obstáculo, não como protagonista. “Não há projeto de nação possível se você não incluir os 200 milhões de brasileiros no centro desse projeto”, declarou.
Universidades como motores da igualdade
Lula reforçou que políticas públicas como o Prouni e a expansão das universidades federais nos últimos 20 anos foram decisivas para democratizar o acesso ao ensino superior e transformar o perfil das instituições.
“Hoje, a universidade pública começa a ter a cara do Brasil. Lá estão os negros, os indígenas, os filhos de empregadas domésticas. Isso incomoda quem sempre achou que lugar de pobre era na senzala ou na periferia invisível”, alfinetou.
Ao citar o exemplo de jovens da periferia que hoje concorrem a vagas universitárias com filhos da elite, Lula afirmou que o país vive uma disputa entre dois projetos: um que quer perpetuar a desigualdade como herança de casta, e outro que aposta na mobilidade social como direito.
Ataques reiterados à elite brasileira
O discurso em Paris não foi um caso isolado. Em abril, durante a inauguração do novo câmpus da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos dos Goytacazes (RJ), Lula já havia declarado que a “elite brasileira deveria sentir vergonha” por nunca ter investido no acesso dos mais pobres à educação.
Na ocasião, foi ainda mais direto: “Precisou um torneiro mecânico, sem diploma universitário, governar o Brasil para ser o presidente que mais criou universidades e institutos federais”, disse, relembrando a trajetória que o levou da fábrica ao Palácio do Planalto.
A fala faz parte de uma estratégia discursiva de longo prazo do petista, que visa não apenas confrontar as estruturas de poder, mas também reafirmar sua identidade política diante de uma elite que, segundo ele, nunca tolerou que o povo ocupasse os espaços historicamente reservados às famílias tradicionais e à classe média alta.
A elite como entrave ao Brasil
Para Lula, o maior obstáculo ao avanço social brasileiro continua sendo o pacto silencioso entre as elites econômicas e os setores mais conservadores do Judiciário, da grande imprensa e do empresariado. Um pacto que mantém privilégios e impede reformas estruturais.
A crítica não se limita à esfera econômica. Ao longo dos últimos anos, o presidente também denunciou o que considera uma “naturalização da desigualdade” nas instituições culturais, acadêmicas e jurídicas. Em sua avaliação, a elite brasileira “nunca se comprometeu com a construção de um Brasil soberano, democrático e inclusivo”.
O Carioca Esclarece
Por que Lula insiste em responsabilizar as elites pelo atraso do Brasil?
Porque há uma estrutura histórica de exclusão social no Brasil, promovida e mantida pelas elites econômicas e políticas. Lula argumenta que essas classes privilegiadas sempre atuaram para manter o povo sem acesso a educação, terra ou poder político.
O que muda com a presença de pobres e negros nas universidades?
Muda tudo. A universidade deixa de ser um espaço homogêneo, elitizado e passa a refletir a diversidade do país. Isso amplia a produção de conhecimento, combate o racismo estrutural e permite que políticas públicas sejam pensadas por quem vive na ponta da exclusão.
Lula está isolado ao fazer esse tipo de crítica internacionalmente?
Não. Em fóruns globais como o G20, a ONU e a União Africana, líderes do Sul Global vêm reforçando discursos parecidos. A crítica à elite brasileira ganha força quando Lula conecta a desigualdade interna com as heranças coloniais e o racismo institucional.