Santa Rosa (RS), 3 de junho de 2025 — O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou inelegíveis até 2028 o prefeito de Santa Rosa (RS), Anderson Mantei (PP), o ex-prefeito Alcides Vicini (PP) e o empresário bolsonarista Luciano Hang, conhecido como Véio da Havan. A decisão, proferida no final de abril e divulgada nesta semana pela RBS TV, reconheceu abuso de poder econômico no uso da promessa de abertura de uma loja da Havan para influenciar o resultado das eleições municipais de 2020.
Promessa de loja virou chantagem eleitoral
Quatro dias antes do pleito de 2020, Luciano Hang desembarcou em Santa Rosa para participar de um evento político bancado por aliados locais. No palanque, o empresário afirmou que só abriria uma loja da Havan na cidade caso o candidato Anderson Mantei, apoiado pelo então prefeito Alcides Vicini, vencesse as eleições. A chantagem explícita transformou uma suposta expansão comercial em moeda de troca eleitoral.
Segundo o relator do processo no TSE, ministro André Ramos Tavares, o episódio configura “grave abuso de poder econômico” e fere a igualdade de condições entre os candidatos. A presença de Hang, empresário com capital bilionário e influência política nacional, foi vista como uma interferência indevida em um processo eleitoral municipal.
Prefeito segue no cargo, mas sem futuro político
Apesar da condenação, Anderson Mantei continua exercendo o cargo de prefeito. A penalidade, no entanto, bloqueia sua participação em qualquer disputa eleitoral até 2028, já que os efeitos da inelegibilidade retroagem ao pleito de 2020. O mesmo vale para Alcides Vicini e Luciano Hang, que também ficam fora de qualquer corrida eleitoral durante o período.
A manutenção de Mantei na prefeitura expõe uma brecha na legislação eleitoral brasileira: políticos podem ser condenados por abuso de poder e ainda assim seguir governando, desde que os pedidos de cassação não estejam explicitamente vinculados à inelegibilidade.
Luciano Hang: do palco bolsonarista ao banco dos réus
Conhecido por sua atuação midiática e alinhamento com Jair Bolsonaro, Hang se notabilizou por usar os negócios da Havan como plataforma de influência política. Em várias ocasiões, sugeriu que suas decisões empresariais dependiam da vitória de aliados da extrema direita.
O caso de Santa Rosa escancarou essa prática: em vez de apresentar um projeto de investimento independente, Hang usou a promessa da loja como ferramenta de cooptação eleitoral, beneficiando diretamente um candidato aliado. O TSE considerou essa atuação um exemplo clássico de abuso de poder econômico travestido de “opção empresarial”.
Recurso como tática de desgaste
Apesar da decisão, os três condenados ainda podem recorrer da sentença. O recurso, porém, não suspende a inelegibilidade, que já está em vigor. A manobra serve mais para atrasar eventuais consequências administrativas do que para reverter um entendimento consolidado do tribunal.
A estratégia é conhecida: usar o sistema jurídico como arena para empurrar decisões para depois das próximas eleições. Mas, ao menos até 2028, Mantei, Vicini e Hang estão fora do jogo eleitoral — salvo uma improvável reviravolta judicial.
Bolsonarismo e os métodos da velha política
O episódio reforça uma tendência já identificada no bolsonarismo: a apropriação de métodos tradicionais de coronelismo e clientelismo, agora embalados em marketing de ultradireita. A promessa de benefícios econômicos atrelados ao voto não é nova. O que muda é o verniz ideológico, cada vez mais afinado com práticas antidemocráticas.
Luciano Hang — que já havia se envolvido em investigações por financiar campanhas paralelas e espalhar desinformação — reaparece, agora, como pivô de uma condenação oficial por abuso de poder econômico. A punição, embora tardia, é um recado claro: o uso do capital como instrumento de manipulação eleitoral tem limite, mesmo no Brasil.