Brasília (DF), 2 de junho de 2025 – Em um novo capítulo da crise institucional que cerca o bolsonarismo, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) protocolou nesta segunda-feira um documento junto à Polícia Federal denunciando o que chamou de “estrutura estável e funcionalmente dividida” com atuação internacional voltada a sabotar o Supremo Tribunal Federal e interferir em decisões do Poder Judiciário brasileiro. Segundo o parlamentar, o núcleo central da operação estaria nos Estados Unidos e envolveria diretamente Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo Filho, Filipe Barros e o próprio Jair Bolsonaro.
Golpismo fora de casa
A denúncia de Lindbergh mira um grupo que, segundo ele, atua de forma coordenada para obstruir investigações relacionadas à tentativa de golpe de Estado em julgamento no STF. O objetivo seria manipular a opinião pública internacional e criar pressão sobre o Judiciário brasileiro, num esforço desesperado de blindar Jair Bolsonaro de responsabilização criminal.
No centro da denúncia está a atuação de Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado e figura central na articulação com a extrema-direita internacional. Ele estaria usando os EUA como base de operações, com apoio do influenciador bolsonarista Paulo Figueiredo Filho — neto do ditador João Figueiredo — e do também deputado Filipe Barros (PL-PR), conhecido por sua defesa estridente do ex-presidente e por ataques sistemáticos às instituições democráticas.
Exportação do golpismo
Para Lindbergh, não se trata de ações isoladas. A denúncia sustenta que há indícios robustos de que Jair Bolsonaro financia e coordena, mesmo à distância, os movimentos que buscam minar a credibilidade do Supremo Tribunal Federal e interferir nos julgamentos em curso sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Trata-se, segundo ele, de um plano político com ramificações internacionais, pensado para influenciar o ambiente político no Brasil por meio de desinformação e intimidação institucional.
“O que vemos é a tentativa de transformar os EUA em bunker do golpismo bolsonarista”, afirmou Lindbergh. “Esse grupo, ao usar a liberdade de expressão como escudo, tenta sabotar a democracia brasileira de fora para dentro. Isso não pode passar impune.”
Interferência transnacional
A denúncia encaminhada à PF também aponta que há movimentações de bastidores para influenciar decisões de magistrados brasileiros por meio de ameaças veladas, campanhas de deslegitimação nas redes sociais e contatos com grupos extremistas estrangeiros. O documento alerta para o risco de que esse tipo de articulação configure crime transnacional, com possíveis conexões com entidades estrangeiras de extrema-direita.
Lindbergh pede que a Polícia Federal investigue com prioridade a atuação dessa célula, e defende que o Itamaraty seja acionado para que o governo dos Estados Unidos tome conhecimento oficial da denúncia. Para ele, é fundamental que autoridades brasileiras e norte-americanas cooperem para impedir que o território dos EUA continue servindo de plataforma para a sabotagem institucional no Brasil.
STF sob ataque contínuo
A ofensiva bolsonarista contra o STF não é novidade. Desde que foi derrotado nas eleições, Jair Bolsonaro tem incentivado seus aliados a desacreditar o tribunal, especialmente os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes. A diferença, agora, é o uso de estratégias mais sofisticadas de pressão internacional e a tentativa de envolver a comunidade jurídica global na narrativa da suposta perseguição ao ex-presidente.
Segundo fontes da base governista, o relatório de Lindbergh será discutido nos próximos dias em reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, e pode embasar novos pedidos de investigação pela Procuradoria-Geral da República. Há expectativa de que a denúncia reacenda o debate sobre os limites da imunidade parlamentar em ações fora do território nacional e sobre a cooperação internacional em crimes contra a ordem democrática.
O silêncio dos citados
Até o momento, Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo Filho e Filipe Barros não se manifestaram publicamente sobre a acusação. Nos bastidores, aliados próximos minimizam a denúncia e falam em “perseguição política” por parte do PT. O ex-presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, encontra-se em Orlando, na Flórida, onde tem participado de eventos com lideranças conservadoras americanas e articulado sua defesa internacional.
A escalada da extrema-direita
O episódio reforça o alerta já feito por diversos analistas políticos e especialistas em segurança democrática: a extrema-direita brasileira, ao se ver encurralada pelas investigações e derrotada nas urnas, aposta na internacionalização do conflito como último recurso. A tática espelha estratégias já vistas em países como Hungria, Polônia e, sobretudo, nos Estados Unidos de Donald Trump — ídolo confesso de Eduardo Bolsonaro.
Ao levar a denúncia à Polícia Federal, Lindbergh Farias deixa claro que o Brasil precisa agir com urgência para proteger suas instituições da corrosão orquestrada por dentro e por fora. “Estamos diante de um crime continuado contra a democracia brasileira. Não vamos normalizar isso”, conclui o parlamentar.