Direita Rachada

Jair Bolsonaro: “não tenho nada a ver com a Carla Zambelli”

Ex-presidente depõe à PF, nega vínculo com Zambelli e tenta blindar Eduardo em meio ao cerco judicial

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Brasília, Brasil – 5 de junho de 2025
Em nova tentativa de se desvincular dos desdobramentos criminais que cercam seu entorno político mais próximo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira (5) que “não tem nada a ver” com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), atualmente foragida na Itália após ser condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por invadir sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A declaração foi feita após depoimento de duas horas à Polícia Federal (PF), em Brasília.

Bolsonaro também negou qualquer repasse de recursos à parlamentar, que teria recebido doações via Pix para custear a fuga. A movimentação financeira da rede bolsonarista está no centro de inquéritos que apuram possíveis conexões entre parlamentares da extrema direita, empresários e operadores digitais acusados de sabotagem institucional.

“Não tenho nada a ver com a Carla Zambelli, tá certo? Não botei dinheiro no Pix dela e tô aguardando. Obviamente eu acompanhei pela imprensa o caso Zambelli”, disse o ex-presidente, em tom de irritação contida, ao sair da superintendência da PF.


PF investiga elo com Eduardo e rota de fuga da deputada

A oitiva desta quinta não se limitou ao caso de Zambelli. Bolsonaro também foi interrogado no âmbito do inquérito que apura a atuação de seu filho, Eduardo Bolsonaro, nos Estados Unidos. O parlamentar licenciado teria feito articulações com membros do ultraconservador Heritage Foundation e mantido encontros com influenciadores e ex-funcionários da Casa Branca ligados ao ex-presidente Donald Trump — inclusive durante o período que coincide com a fuga da deputada brasileira.

Zambelli deixou o Brasil utilizando passagens pagas por terceiros, conforme apontam registros de embarque obtidos pelo Diário Carioca, e se estabeleceu inicialmente em Roma. O STF determinou o bloqueio de bens e pediu apoio do Ministério da Justiça para articular com a diplomacia italiana um possível processo de extradição.

Segundo fontes da investigação, a PF rastreia doadores e intermediários ligados ao financiamento da fuga e tenta identificar autorizações políticas internas que possam ter garantido proteção à parlamentar antes de sua condenação ser anunciada.


Tentativa de blindagem e abandono tático de aliados

A declaração de Bolsonaro reflete uma estratégia recorrente adotada desde o colapso do seu governo: abandonar figuras próximas quando o desgaste político se torna insustentável. Foi assim com Milton Ribeiro, Anderson Torres, Mauro Cid e agora com Carla Zambelli — uma das mais fiéis defensoras do bolsonarismo, cuja lealdade custou sua liberdade.

Zambelli é investigada por integrar um núcleo digital radical que disseminou desinformação contra o STF e tentou, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), “fragilizar a governança do Judiciário” através de sabotagens cibernéticas.

A postura de Bolsonaro, ao negar qualquer responsabilidade ou elo com a deputada, é lida por integrantes do próprio PL como uma tentativa de preservar sua imagem eleitoral diante da deterioração do discurso da extrema direita. O ex-presidente tenta manter viabilidade política para as eleições de 2026, onde aparece como nome competitivo, mas cercado por investigações em série.


Aliados em silêncio e pressão sobre Valdemar

A fuga de Zambelli tem gerado constrangimento dentro do PL, especialmente entre líderes que agora evitam manifestações públicas. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, tem sido pressionado por setores do partido a cortar relações com a deputada e a reorganizar a bancada bolsonarista diante do risco de novas investigações atingirem parlamentares em mandato.

Nos bastidores, parlamentares temem que o caso Zambelli seja apenas o início de uma nova etapa da “faxina digital” conduzida pelo STF, que tem como alvo a estrutura de comunicação da extrema direita. O Supremo mira canais de financiamento, redes de influência transnacionais e estruturas jurídicas que blindam parlamentares investigados por ações antidemocráticas.


O Carioca Esclarece

Bolsonaro pode ser responsabilizado pela fuga de Zambelli?
Não diretamente, até o momento. Mas se forem comprovados vínculos financeiros, políticos ou logísticos entre ele e a deputada, a PF pode solicitar que ele seja incluído formalmente no inquérito que trata da fuga e do financiamento de ações antidemocráticas.

O que pesa contra Zambelli?
Ela foi condenada por invadir os sistemas do CNJ em tentativa de manipular dados judiciais. Há suspeitas de que a ação tenha sido coordenada com apoio externo, envolvendo operadores digitais ligados ao bolsonarismo.

Qual o papel de Eduardo Bolsonaro na investigação?
Eduardo é suspeito de atuar como elo internacional da rede de desinformação e de organizar encontros com aliados de Trump para articular proteção política e jurídica a bolsonaristas investigados. A PF apura se ele teve papel direto na rota de fuga de Zambelli.


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