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Jair Bolsonaro diz que não vai “lacrar” seu depoimento ao STF

Réu por tentativa de golpe, ex-presidente diz que será “inquisição” e afirma ter “a verdade que o outro lado não tem”

Brasília, 6 de junho de 2025 – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal, afirmou nesta sexta-feira que não pretende “lacrar” em seu depoimento na próxima semana, mas convocou apoiadores para assistir à sessão, que será transmitida ao vivo pela TV Justiça e pelo Diário Carioca.

“Será minha inquisição”, ironizou, no evento Mulheres com Bolsonaro, em Brasília. O depoimento ocorre dentro da ação penal que apura a tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito após as eleições de 2022.

A declaração foi feita a três dias do início da fase de interrogatórios dos réus do chamado núcleo duro da trama golpista investigada pela Polícia Federal e validada pela Procuradoria-Geral da República. Bolsonaro é o sexto a ser ouvido.


A convocação ao vivo para a “inquisição”

Ao lado de parlamentares do PL e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o ex-presidente adotou tom desafiador e messiânico ao anunciar sua presença no Supremo:

“Estarei lá com a verdade ao nosso lado. Não fugimos de qualquer chamamento. Sabemos o que falar e temos uma coisa que o outro lado não tem: a verdade”, disse Bolsonaro.

Apesar de afirmar que não buscará confronto com os ministros da Corte, Bolsonaro apelou diretamente à sua base bolsonarista para acompanhar sua fala como um espetáculo político, referindo-se à audiência como um “evento imperdível”:

“Vale a pena assistir. Conto com a audiência de vocês. Deve ser na terça-feira a minha inquisição.”

O ex-presidente ignora que, como réu, poderá ser confrontado com provas materiais, depoimentos de delatores e relatórios técnicos da PF. A investigação já atribuiu a ele a participação direta em reuniões golpistas, redação de minutas ilegais e mobilização de militares para subverter a ordem constitucional.


Interrogatórios começam com Mauro Cid

A fase de depoimentos terá início na segunda-feira (10), às 14h, com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator premiado. Cid já admitiu à PF a existência de articulações golpistas no entorno do Palácio do Planalto, inclusive com apoio de militares da ativa.

Na sequência, os réus serão ouvidos em ordem alfabética. Bolsonaro será o sexto interrogado. O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal, também agendou oitivas para terça (11), quarta (12), quinta (13) e sexta-feira (14). Os depoimentos ocorrerão presencialmente na sala da Primeira Turma do STF.

Todos os réus têm direito constitucional ao silêncio, caso entendam que podem se autoincriminar.


Réus respondem por tentativa de golpe e organização criminosa

A acusação da Procuradoria-Geral da República classifica Bolsonaro e aliados como membros do núcleo central de uma organização criminosa que atuou para tentar reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a PGR, os crimes imputados aos réus incluem:

  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
  • Tentativa de golpe de Estado
  • Organização criminosa armada
  • Dano qualificado
  • Deterioração de patrimônio tombado

O núcleo operacional inclui militares, ex-ministros, assessores e parlamentares próximos ao ex-presidente. O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, teve parte das acusações suspensas pela Câmara dos Deputados, sob alegação de prerrogativa de foro.


Tentativa de evitar depoimento fracassou

Bolsonaro tentou adiar o depoimento com sucessivos pedidos ao STF, todos negados por Alexandre de Moraes. A defesa alegava “risco à integridade física” do ex-presidente e “constrangimento” por ter de depor antes de acesso integral aos autos – argumentos rechaçados pelo ministro.

Na semana passada, Moraes também indeferiu solicitação para suspender toda a ação penal, reafirmando que há provas robustas da atuação de Bolsonaro e seus aliados para subverter a democracia.


O CARIOCA ESCLARECE

1. Bolsonaro pode se recusar a responder perguntas no STF?
Sim. Como réu, ele tem direito ao silêncio garantido pela Constituição. No entanto, o uso desse direito pode ser interpretado politicamente como recuo ou ausência de defesa, sobretudo diante da transmissão pública do depoimento.

2. Qual a diferença entre depoimento e inquisição?
“Inquisição” é um termo com carga histórica e religiosa, associado a julgamentos autoritários e perseguições. Bolsonaro usa a palavra para insinuar que o STF age com parcialidade, o que deslegitima o processo judicial. Tecnicamente, o que ocorrerá é uma audiência de interrogatório de réu, prevista no devido processo legal.

3. Quais as consequências se for condenado?
Caso condenado por tentativa de golpe e outros crimes, Bolsonaro pode pegar mais de 20 anos de prisão e ser declarado inelegível por tempo indeterminado, dependendo da pena e da decisão do STF. A eventual condenação pode influenciar diretamente a eleição presidencial de 2026.

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