Miami, EUA – 7 de junho de 2025 – Mesmo com o registro cancelado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) será apresentado como “advogado brasileiro” na próxima edição da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), marcada para os dias 28 e 29 de junho, em Miami. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro aparece no material oficial do evento como “lawyer”, numa tentativa de projetar credibilidade institucional e influência política diante do público conservador latino nos Estados Unidos.
A divulgação do CPAC, que reúne expoentes da extrema direita global, omite o fato de que Eduardo teve sua inscrição na OAB cancelada. A irregularidade não é meramente burocrática: trata-se de um impedimento legal para o exercício da advocacia. No Brasil, representar-se publicamente como advogado sem estar inscrito regularmente no quadro da Ordem configura exercício ilegal da profissão — uma conduta passível de penalidade criminal.
Campanha internacional com credencial falsa
No card promocional da conferência, Eduardo Bolsonaro é descrito como “advogado brasileiro, ativista e político”. O texto o exalta como defensor do “livre mercado, do empreendedorismo e dos valores familiares”, além de referi-lo como uma “voz expressiva do movimento libertário na América Latina”. A estratégia é clara: transformar o deputado em uma figura internacional da ultradireita, mesmo que para isso seja necessário forjar legitimidades profissionais inexistentes.
A consulta ao Cadastro Nacional dos Advogados da OAB mostra que o registro de Eduardo está “cancelado”, em destaque vermelho. Isso significa que ele não pode exercer legalmente a advocacia nem no Brasil, nem em qualquer país cuja atuação dependa da validação da OAB, como nos Estados Unidos. Ainda assim, a falsa titulação foi mantida nas peças publicitárias do evento, em violação explícita à ética profissional.
Palestra com foco neoliberal e ataque ao STF
A apresentação de Eduardo no CPAC será sob o título “Liberdade econômica é a nossa revolução”, um discurso alinhado com o receituário neoliberal que ele promove desde que deixou o Brasil. O evento, organizado em parceria com o Latino Wall Street, um grupo financeiro com vínculos com o trumpismo, busca consolidar a liderança conservadora entre latinos nos EUA — sobretudo entre imigrantes de perfil empresarial.
Desde fevereiro, o deputado está nos Estados Unidos, onde afirma articular, junto a aliados de Donald Trump, uma ofensiva política e jurídica contra o Supremo Tribunal Federal (STF). O principal alvo seria o ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações contra milícias digitais bolsonaristas. A movimentação de Eduardo nos bastidores da extrema direita norte-americana tenta colocar pressão internacional sobre as decisões do STF, utilizando o discurso de “liberdade” como fachada para a impunidade familiar.

Candidato de fachada em 2026?
Embora esteja fora do Brasil, Eduardo Bolsonaro já é cogitado nos bastidores do Partido Liberal (PL) como possível plano B da extrema direita para a eleição presidencial de 2026. Com Jair Bolsonaro inelegível até 2030, setores do bolsonarismo veem em Eduardo a possibilidade de manter o controle da narrativa antipetista e da agenda ultraconservadora. Seu giro internacional seria, portanto, não apenas exílio estratégico, mas pré-campanha disfarçada.
A tentativa de se apresentar como advogado no exterior reforça o modus operandi da família Bolsonaro: construir credenciais fictícias, inflar currículos e atacar instituições brasileiras enquanto angariam apoio de redes internacionais de desinformação. A inscrição cancelada na OAB, no entanto, é um dado concreto que desmonta a farsa — e pode ter repercussões legais se houver representação no Ministério Público ou denúncia da própria Ordem.
O Carioca Esclarece
Eduardo Bolsonaro comete crime ao se apresentar como advogado?
Sim. No Brasil, exercer ou anunciar-se no exercício da advocacia sem registro ativo na OAB configura exercício ilegal da profissão, previsto no Código Penal. No exterior, a responsabilidade depende da jurisdição local, mas a OAB pode denunciar a conduta à American Bar Association, caso haja má-fé ou uso do título para obter vantagens.
Por que Eduardo Bolsonaro teve a inscrição cancelada?
A OAB não divulga os motivos específicos de cancelamentos individuais sem autorização, mas há três hipóteses comuns: renúncia voluntária, inadimplência e processo disciplinar. Independentemente da causa, o cancelamento torna ilegal o uso do título. A reapresentação como advogado exige novo pedido de reinscrição — o que não consta no sistema.
Qual o impacto político dessa fraude no CPAC?
A fraude reforça a imagem internacional da extrema direita brasileira como movimento que manipula símbolos de autoridade para fins políticos. Ao usar um título profissional que não possui, Eduardo tenta mascarar a perda de credibilidade institucional da família Bolsonaro após os escândalos envolvendo tentativa de golpe, milícias digitais e fake news. O caso pode repercutir também nos EUA, onde a falsificação de credenciais pode ensejar sanções legais e comprometer parcerias.