Defesa de Jair Bolsonaro exclui depoimento Pazuello no STF

Defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro exclui quatro testemunhas de peso no caso da minuta golpista, entre elas o general Eduardo Pazuello e o ex-ministro Gilson Machado.

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Enquanto a investigação sobre o cerco golpista ao sistema eleitoral brasileiro avança no Supremo Tribunal Federal, a defesa de Jair Bolsonaro decidiu operar uma manobra calculada: dispensou quatro nomes de peso da sua lista de testemunhas.

Em ofício enviado ao STF nesta semana, foram riscados nomes como Eduardo Pazuello, general da ativa e ex-ministro da Saúde, Gilson Machado, ex-ministro do Turismo, Amauri Feres Saad, advogado citado na redação da minuta golpista, e o médico Ricardo Peixoto Camarinha, que atuou durante o governo do ex-capitão.

A exclusão é estratégica: menos bocas, menos riscos. Ainda mais quando algumas delas têm ligações diretas com os bastidores da trama antidemocrática que assombrou o país após as eleições de 2022. A Polícia Federal aponta Amauri Feres Saad como um dos artífices do esboço de golpe de Estado, aquele mesmo que circulou nos corredores bolsonaristas e previa, entre outras insanidades, a anulação do pleito e a prisão de ministros do STF — com o beneplácito de Deus e das armas.

A minuta que não saiu do papel, mas assombra o Planalto

O documento em questão, cuja existência foi revelada pela PF, é parte central na investigação sobre os planos de Jair Bolsonaro para manter-se no poder a qualquer custo. A minuta teria sido redigida com apoio de Filipe Martins, ex-assessor internacional da Presidência, e do padre José Eduardo de Oliveira, ambos aliados incondicionais da extrema-direita cristã que moldou a retórica golpista do bolsonarismo.

Diante disso, é sintomático que a defesa escolha tirar de cena justamente o nome de um dos autores do texto. Para investigadores, é uma tentativa clara de evitar inconsistências entre depoimentos ou até contradições que possam implicar diretamente o ex-presidente no plano.

As vozes que permanecem em cena

Apesar do expurgo seletivo, nomes graúdos seguem na lista de testemunhas de Jair Bolsonaro. A Primeira Turma do STF ouviu nesta sexta-feira, 30 de maio, e voltará a ouvir na próxima segunda-feira, 2 de junho, aliados de alta patente do antigo governo. Estão escalados o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-ministro da Infraestrutura; o senador e ex-ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira; o também senador e ex-ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho; e Jonathas Nery, ex-secretário-executivo da Casa Civil.

A presença dessas figuras não é à toa: todas estiveram no centro do núcleo político bolsonarista e têm informações privilegiadas sobre as reuniões que precederam os ataques às instituições em janeiro de 2023. E, mais importante, têm o respaldo político e jurídico para depor sem comprometer demais o chefe.

Valdemar entra em cena para proteger Anderson Torres

Enquanto isso, a linha de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, responsável por manter guardada a minuta do golpe em sua própria casa, se apoia em outro nome do alto escalão da extrema-direita: Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido que abriga o bolsonarismo. Ele depõe também nesta sexta, numa tentativa de blindar não só Torres, mas todo o partido da lama institucional.

A estratégia de Jair Bolsonaro de “limpar” a lista de testemunhas é vista nos bastidores jurídicos como uma tentativa desesperada de conter danos. A cada novo depoimento, mais peças do quebra-cabeça golpista se encaixam, e o STF avança com convicção para apurar quem planejou, financiou e estimulou o levante contra a democracia.

Silêncio cúmplice ou pânico generalizado?

A dispensa de Eduardo Pazuello chama atenção não apenas pelo seu cargo, mas pela posição estratégica que ocupava no governo. Como general e membro do Exército, sua eventual fala em juízo teria peso político, institucional e jurídico. O mesmo se aplica a Gilson Machado, peça-chave na propaganda bolsonarista e articulador da extrema-direita evangélica.

Ambos poderiam confirmar — ou negar — reuniões, conversas, e até orientações que ligassem o ex-presidente diretamente aos planos golpistas. Ao retirá-los de cena, a defesa de Jair Bolsonaro deixa de lado qualquer tentativa de transparência para apostar no silêncio — a velha tática de quem tem muito a esconder.

A investigação segue no Supremo Tribunal Federal, e a sociedade aguarda não apenas as próximas falas, mas os nomes que ainda serão convocados. Cada depoimento é mais que uma peça jurídica: é um tijolo na reconstrução da verdade histórica sobre a tentativa de rasgar a Constituição brasileira em nome de um projeto autoritário que insiste em não morrer.

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