Brasília, 9 de junho de 2025 — A Câmara dos Deputados vai declarar a perda de mandato da bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) após sua condenação no Supremo Tribunal Federal (STF) e fuga para a Europa. Segundo o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), não há mais margem de deliberação política: a decisão será executada conforme a determinação judicial do ministro Alexandre de Moraes, que impôs pena de 10 anos de prisão, perda do mandato e ordem de extradição imediata.
O caso escancara o esgotamento institucional da parlamentar bolsonarista, que protagonizou uma das ações mais graves contra o sistema judiciário brasileiro ao invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o hacker Walter Delgatti Neto. A cassação do mandato é tratada como consequência automática da sentença — e não mais como ato político da Mesa Diretora.
Câmara acata STF e Zambelli perderá mandato
Durante evento do jornal Valor Econômico, nesta segunda-feira (9), Hugo Motta afirmou que o caso de Carla Zambelli “não tem precedentes” na história da Câmara. A parlamentar fugiu para a Itália na última semana, após ter seu último recurso rejeitado pelo STF. “A decisão judicial tem que ser cumprida”, afirmou Motta.
Ele destacou que a determinação de Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo, retirou qualquer possibilidade de adiamento por parte da Câmara. “Cabe a nós apenas seguir o rito regimental. O processo judicial foi concluído e a condenação é definitiva”, explicou.
Na prática, o presidente da Câmara sinaliza que a cassação de Zambelli já está em curso. O ato será formalizado assim que a notificação for incluída em pauta pela Secretaria-Geral da Mesa.
Moraes manda executar pena; Zambelli já é considerada foragida
O ministro Alexandre de Moraes ordenou o cumprimento imediato da pena no sábado (7), após a fuga confirmada de Zambelli. A parlamentar está oficialmente foragida e já teve seu nome incluído na lista de procurados da Interpol, condição que acelera os trâmites de extradição.
Zambelli deixou o Brasil na terça-feira (3), dias antes de a Primeira Turma do STF rejeitar o último recurso da defesa. A Corte a condenou por invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica, dois crimes praticados com o objetivo de desacreditar o Judiciário e fomentar a tentativa de golpe de 2022, segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
A pena de 10 anos de reclusão deverá ser cumprida em regime fechado. Com a ordem de Moraes, não resta à Câmara nenhuma alternativa além de formalizar a perda do mandato, conforme prevê a Constituição.
Fuga é usada para tentar travar extradição
Na Itália, Zambelli tenta explorar sua dupla cidadania ítalo-brasileira para travar o processo de extradição. A defesa alega que a deputada está sendo perseguida por motivos políticos, estratégia frequentemente usada por aliados de Jair Bolsonaro para tentar escapar da jurisdição brasileira.
Contudo, o governo italiano já foi alertado pela diplomacia brasileira sobre o caráter criminal e não político da condenação. A expectativa é que a extradição seja solicitada formalmente ainda esta semana pelo Ministério da Justiça.
A atitude de Zambelli remonta a um roteiro típico do bolsonarismo: atacar as instituições, fugir da responsabilização e buscar apoio em redes internacionais de extrema direita.
O Carioca Esclarece
Carla Zambelli ainda pode recorrer da cassação do mandato?
Não. A decisão do STF transitou em julgado e já foi determinada sua execução. Como o mandato foi automaticamente cassado na sentença, a Câmara apenas cumpre formalidade regimental.
O que significa ser considerada foragida pela Interpol?
Zambelli está com o nome incluído na difusão vermelha, o que obriga países-membros da Interpol a informarem sua localização e, se possível, prendê-la para fins de extradição.
A Itália pode negar o pedido de extradição?
Pode, mas é improvável. A jurisprudência italiana permite a extradição de seus cidadãos em casos de crimes comuns. O governo brasileiro tem argumentos sólidos para demonstrar que se trata de crime contra o Estado Democrático de Direito, não de perseguição política.