Fuga calculada

Carla Zambelli pede licença de 120 dias na Câmara após fugir do Brasil

Condenada a 10 anos, deputada é alvo de mandado de prisão do STF e entra na lista vermelha da Interpol

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Brasília, Brasil – 5.jun.2025 – Dois dias após fugir do Brasil e ser condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) solicitou formalmente licença de 120 dias da Câmara dos Deputados, alegando “interesse particular”. O pedido foi protocolado nesta quinta-feira (5), enquanto a bolsonarista era oficialmente incluída na lista de difusão vermelha da Interpol, acionada pelo próprio STF.

O movimento é parte de uma manobra jurídica e política para ganhar tempo e evitar a cassação imediata, ao mesmo tempo em que tenta escapar da prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. A parlamentar está foragida desde que deixou o Brasil na terça-feira (3), em voo com destino ainda desconhecido. Fontes da Polícia Federal suspeitam que ela tenha usado passaporte europeu e ativado contatos políticos na Itália para evitar a extradição.

Mandado de prisão e bloqueio de benefícios

A decisão de Moraes veio logo após a sentença da Primeira Turma do STF, que considerou Zambelli culpada pela invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), crime cometido em parceria com o hacker Walter Delgatti Neto, condenado no mesmo processo. A Corte, por unanimidade, determinou prisão preventiva, cassação do passaporte diplomático e bloqueio imediato dos salários e benefícios parlamentares da deputada.

Na nova fase do inquérito, Zambelli também é investigada por organização criminosa digital, com ramificações internacionais. A fuga do país, segundo fontes do STF, agrava a situação e pode antecipar uma ação mais coordenada entre o Brasil e autoridades estrangeiras para sua extradição compulsória.

Interpol entra no caso

A inclusão de Zambelli na lista de difusão vermelha da Interpol significa que sua localização e prisão podem ser solicitadas em qualquer um dos 196 países membros da organização internacional. O nome da deputada já aparece como foragida nos sistemas internos da PF, e a Procuradoria-Geral da República (PGR) já trabalha em conjunto com o Itamaraty para negociar uma eventual cooperação com governos europeus.

Apesar disso, interlocutores de Zambelli afirmam que ela estaria se refugiando em país que não possui tratado de extradição com o Brasil, o que complicaria sua devolução imediata. A medida de solicitar licença de 120 dias pode ser um indício de que a parlamentar aposta em um exílio temporário com articulação política de bastidores.

Câmara silencia diante da fuga

Até o momento, nenhuma medida concreta foi adotada pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados em relação ao caso. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), evitou comentar o pedido de licença ou a fuga da parlamentar. Nos bastidores, aliados de Zambelli pressionam por um tratamento político cauteloso, enquanto partidos de oposição cobram sua cassação imediata.

A licença solicitada por Zambelli não precisa de aprovação prévia do plenário, mas suspende seu mandato sem perda de direitos, o que impede a abertura automática de processo disciplinar por abandono de função. Juristas, no entanto, argumentam que a decisão do STF tem precedência constitucional, podendo anular o pedido.

A aposta no lawfare reverso

Zambelli tem feito acenos a aliados internacionais da ultradireita para denunciar o que chama de “perseguição judicial do STF”. O discurso busca internacionalizar sua narrativa, nos moldes do que fez o ex-presidente Jair Bolsonaro, também investigado por crimes digitais, tentativa de golpe de Estado e fuga para os Estados Unidos.

Nos bastidores, correligionários articulam com parlamentares de extrema direita da Itália e da Hungria uma eventual moção de solidariedade a Zambelli, alegando “perseguição ideológica” e “judicialização da política”. A estratégia se assemelha à usada por outros fugitivos da Justiça brasileira nos últimos anos.


O Carioca Esclarece

Zambelli pode manter o mandato mesmo foragida?
Legalmente, sim — ao menos por enquanto. Ao pedir licença de 120 dias, ela evita a abertura imediata de processo por quebra de decoro. No entanto, o STF já decretou sua prisão e a cassação de benefícios, o que pressiona a Câmara a agir.

O que significa estar na lista vermelha da Interpol?
É uma notificação internacional que permite à polícia de outros países localizar e prender alguém procurado pela Justiça. No caso de Zambelli, isso viabiliza sua prisão fora do Brasil, caso seja localizada, mesmo sem tratado bilateral de extradição.

O pedido de licença protege Zambelli da extradição?
Não. Trata-se de um recurso interno à Câmara dos Deputados, sem valor legal diante da ordem de prisão internacional. A tentativa é política: ganhar tempo e construir uma retórica de perseguição para evitar o desgaste jurídico e diplomático.

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