Brasília, Brasil – 5 de junho de 2025 – A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo Tribunal Federal a dez anos de prisão, foi oficialmente incluída pela Interpol na lista vermelha de difusão internacional a pedido do ministro Alexandre de Moraes. A medida transforma Zambelli em alvo de captura em 196 países, com base em decisão da Procuradoria-Geral da República que busca “assegurar a devida aplicação da lei penal”, e não antecipar o cumprimento da pena.
A inclusão da parlamentar bolsonarista na difusão vermelha evidencia não apenas o avanço do cerco judicial contra os remanescentes do bolsonarismo militante, mas também marca uma inflexão na postura da Interpol diante de crimes políticos praticados sob alegações de perseguição ideológica. Antes relutante, a organização agora acata pedidos oriundos do STF que envolvem parlamentares ligados a práticas antidemocráticas.
STF aperta o cerco: bens bloqueados e redes apagadas
Além da inclusão na lista da Interpol, Moraes determinou a prisão preventiva de Zambelli, o bloqueio integral de seus bens — incluindo imóveis, veículos, contas bancárias, ativos financeiros, aeronaves e embarcações — e a suspensão de transferências via Pix. O salário da parlamentar também foi cortado.
A ofensiva digital acompanha a operação judicial: plataformas como Meta, X (Twitter), TikTok, Telegram, YouTube, Gettr e LinkedIn foram notificadas para remover todos os perfis da deputada em até duas horas. O descumprimento da ordem acarreta multa de R$ 50 mil por dia para publicações próprias ou por terceiros que deem voz à parlamentar foragida.
Interpol muda de postura diante de bolsonaristas
A inclusão de Zambelli na lista vermelha da Interpol é sintomática de uma reavaliação interna da agência internacional. Nos últimos anos, os pedidos de prisão internacional de bolsonaristas como Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio foram rejeitados sob a justificativa de que ambos haviam solicitado asilo político. Desta vez, a organização aceitou o pleito mesmo diante da possível tentativa da deputada de se refugiar na Europa.
Segundo o coordenador de cooperação policial internacional da PF, Fábio Mertens, a Interpol tem como política não incluir na lista vermelha indivíduos com pedido formal de asilo. A rapidez da decisão indica que Zambelli ainda não formalizou nenhum pedido oficial — ou que o caso brasileiro foi tratado como ameaça real à ordem democrática, à luz da decisão unânime do STF.
Fuga estratégica: da fronteira com a Argentina à cidadania italiana
Zambelli deixou o Brasil discretamente, cruzando a fronteira com a Argentina por terra para evitar registros migratórios. De lá, voou para a Flórida, onde sondou a possibilidade de se fixar com apoio da comunidade bolsonarista local. Segundo aliados, o entorno de Donald Trump sinalizou que os EUA não concederiam extradição ao Brasil, mas também não garantiram proteção formal.
Diante do impasse, a deputada embarcou para a Itália, onde possui cidadania — e onde agora enfrenta crescente pressão pública. O deputado italiano Angelo Bonelli, da coalizão Aliança Verde e Esquerda, solicitou oficialmente ao governo italiano a extradição imediata da bolsonarista, alertando que “a Itália não pode ser usada como esconderijo para condenados”.
Bonelli foi enfático: “Não se pode utilizar a cidadania italiana para escapar da Justiça. O país corre o risco de se tornar um paraíso para criminosos internacionais”. A solicitação foi encaminhada ao Ministério do Interior e ao Ministério das Relações Exteriores da Itália, que agora devem se pronunciar publicamente sobre a colaboração com o Brasil.
Condenação e vínculos com Walter Delgatti
A condenação de Zambelli, emitida pela Primeira Turma do STF em maio, foi unânime: dez anos de prisão e perda do mandato. A parlamentar foi responsabilizada por participação direta na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em colaboração com o hacker Walter Delgatti. A sentença também a tornou inelegível por oito anos.
Zambelli, que se notabilizou como uma das vozes mais estridentes da extrema direita bolsonarista, agora busca exportar sua retórica contra o STF à Europa — em uma tentativa de replicar a campanha feita por Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Mas, diferentemente do filho do ex-presidente, ela já carrega sobre si uma sentença condenatória transitada em instância colegiada, o que enfraquece qualquer narrativa de perseguição.
O Carioca Esclarece
Por que a Interpol aceitou o pedido contra Zambelli, mas rejeitou os anteriores?
A diferença está no estágio processual e na consistência das provas. No caso de Zambelli, há uma condenação unânime do STF, além de fuga do território nacional e evidências concretas de articulação com redes criminosas. Nos casos anteriores, os pedidos foram considerados frágeis ou politicamente contaminados por alegações de asilo.
A cidadania italiana protege Zambelli da extradição?
Não automaticamente. A Itália pode negar extradição de seus cidadãos, mas a decisão cabe ao governo. Em casos de crimes reconhecidos como graves e com base em tratados bilaterais ou europeus, a extradição pode ser autorizada — especialmente se houver pressão pública e diplomática, como no caso atual.
Zambelli ainda pode exercer seu mandato?
Tecnicamente, sim — até que a condenação transite em julgado e a perda de mandato seja formalizada pela Câmara dos Deputados. Mas, com o salário bloqueado, perfis suspensos, e impedida de circular livremente, sua atuação política está virtualmente encerrada.