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Carla Zambelli diz que vai se apresentar a justiça italiana

Deputada bolsonarista afirma que vai se apresentar voluntariamente e denuncia “perseguição política” ao tentar transformar em refúgio uma condenação por crimes digitais

Roma, Itália – 6 de junho de 2025. A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP), que teve a prisão preventiva decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), declarou nesta sexta-feira que pretende se apresentar voluntariamente às autoridades italianas.

Foragida desde o início da semana, a aliada de Jair Bolsonaro tenta agora evitar a extradição para o Brasil, alegando ser vítima de uma “perseguição política” e reivindicando refúgio humanitário na Itália.

A parlamentar busca usar sua dupla cidadania italiana como escudo diante da condenação por invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), crime cometido em conluio com o hacker Walter Delgatti Neto. No entanto, especialistas apontam que a manobra jurídica tem poucas chances de sucesso e pode até acelerar sua detenção definitiva.

“Estou aqui de boa-fé”, declarou Zambelli, em entrevista à CNN Brasil. “Fui condenada sem provas. Quero provar isso aqui e buscar refúgio na Itália.”

Apelo a Roma, negação ao STF

Enquanto se diz disposta a colaborar com a Justiça italiana, Zambelli mantém ataques diretos ao Supremo brasileiro. Em tom desafiador, afirmou que não reconhece as decisões do ministro Alexandre de Moraes, responsável pela decretação de sua prisão preventiva e relator do processo que culminou em sua condenação.

“Respeito as leis brasileiras, mas não aceitarei mais os abusos cometidos por Moraes”, disse. “Quero mostrar meu compromisso com a Justiça italiana e fazer tudo dentro da legalidade.”

Na quarta-feira (4), o ministro atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e decretou a prisão preventiva da parlamentar, com base nas declarações em que a própria admitia ter deixado o Brasil para pedir asilo político em território europeu.

Julgamento unânime no STF e pena de dez anos

A situação jurídica de Zambelli se agravou após a Primeira Turma do STF rejeitar por unanimidade, nesta sexta-feira (6), o último recurso de sua defesa. A Corte confirmou a condenação por crimes cibernéticos contra o CNJ e autorizou o início imediato do cumprimento da pena: dez anos de prisão, além do pagamento de R$ 2 milhões em indenização solidária com Delgatti.

A decisão também antecipa a perda do mandato parlamentar, que será formalizada após o trânsito em julgado da ação. Zambelli, que já havia sido condenada em outro processo por porte ilegal de arma, vê seu capital político e jurídico ruir em ritmo acelerado.

Direito italiano e o precedente do caso Pizzolato

Apesar da tentativa de escudar-se na nacionalidade italiana, especialistas apontam que a legislação da Itália não impede automaticamente a extradição de seus cidadãos. O artigo 26 da Constituição Italiana veda apenas extradições em casos de “crimes políticos”, o que não se aplica à situação da deputada.

A advogada e ex-parlamentar italiana Renata Bueno, especialista em direito internacional, destaca que o precedente do caso Henrique Pizzolato — ex-diretor do Banco do Brasil condenado no Mensalão e extraditado da Itália — demonstra que a nacionalidade europeia não é garantia de impunidade.

“A jurisprudência do caso Pizzolato mostra que a cidadania italiana não é um escudo automático”, afirmou Bueno. “A Justiça italiana pode autorizar a extradição ou abrir um processo local com base nos crimes cometidos no Brasil.”

Segundo ela, as acusações contra Zambelli, que envolvem fraude, invasão de sistemas públicos e falsidade ideológica, têm correspondência com o Código Penal italiano, o que permitiria inclusive sua prisão preventiva em território europeu.

O papel de Delgatti e o dano ao serviço público

Condenado a oito anos de prisão, Walter Delgatti Neto atuou como executor dos crimes cibernéticos orquestrados por Zambelli. Ele inseriu mandados de prisão falsos contra figuras do Judiciário no sistema do CNJ, numa tentativa de desmoralizar o Supremo e gerar caos institucional — ação que se encaixa na retórica golpista do bolsonarismo.

A manipulação de dados públicos, se reconhecida como crime agravado na Itália, pode comprometer ainda mais a situação da deputada. “Ambos os crimes podem ser agravados se houver danos ao serviço público”, alerta Renata Bueno.

Zambelli, por sua vez, afirma confiar “em Deus” e espera não ser extraditada. Mas sua permanência na Europa dependerá menos da fé e mais da disposição de Roma em ignorar evidências robustas de crimes digitais com impacto transnacional.


O Carioca Esclarece

Zambelli pode mesmo evitar a extradição por ser cidadã italiana?
Não necessariamente. A Constituição italiana só impede a extradição em casos de crimes políticos. Como os delitos de Zambelli envolvem fraude digital e falsidade ideológica, a cidadania italiana não serve como escudo automático, como já ficou claro no caso Pizzolato.

Ela pode ser julgada na Itália pelos crimes cometidos no Brasil?
Sim. Se a Justiça italiana reconhecer os crimes como compatíveis com seu Código Penal, pode abrir um processo local. Isso não impede a extradição, mas a adia. Zambelli também pode ser presa preventivamente na Itália.

O que está em jogo politicamente com a fuga de Zambelli?
A fuga é um embaraço diplomático e político para a direita bolsonarista. Expõe a prática recorrente de judicialização das redes para atacar instituições e revela o uso instrumental da cidadania europeia como rota de fuga diante da responsabilização judicial no Brasil.

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