Brasília, 5 de junho de 2025 — A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada a 10 anos de prisão por fraudes nos sistemas do Judiciário, chegou à Itália antes de ter o nome incluído na lista vermelha da Interpol, confirmaram fontes ligadas à investigação. O desembarque ocorreu nesta quinta-feira (5), em Roma, horas antes da oficialização do alerta internacional.
A movimentação da bolsonarista indica ação coordenada para burlar a cooperação internacional, aproveitando a janela entre a decretação da prisão preventiva pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a efetivação do pedido na rede internacional da Interpol.
A operação evidencia o uso da cidadania italiana como trunfo diplomático e político para tentar evitar extradição e manter ativa a articulação bolsonarista no exterior. Investigadores já falam em “fuga estratégica”, com possíveis vínculos com redes de apoio internacionais.
Do CNJ a Roma: a fuga milimetricamente calculada
Zambelli foi condenada por invadir sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserir documentos falsos, entre eles um mandado de prisão fictício contra o próprio Moraes, no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). Na prática, o caso equivale a um ataque direto à estrutura do Poder Judiciário, com potencial para manipular decisões judiciais e comprometer o Estado de Direito.
A decisão de Moraes, que determinou prisão preventiva imediata, foi tomada com base na gravidade dos crimes e nas declarações da própria parlamentar, que admitiu publicamente, já em solo estrangeiro, que pretende atuar contra o STF na Europa.
Com o nome agora incluído na difusão vermelha da Interpol, Zambelli passa a ser considerada foragida internacional. Mas o deslocamento antecipado revela uma tentativa de se antecipar à cooperação jurídica e dificultar a extradição.
Rota clandestina: da Argentina aos EUA e, enfim, à Itália
Segundo informações obtidas pela reportagem, Zambelli atravessou a fronteira com a Argentina pela região de Foz do Iguaçu, escapando de controles migratórios mais rígidos. Em seguida, voou para a Flórida, nos Estados Unidos, onde chegou a divulgar vídeos e participar de eventos com apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Da Flórida, embarcou para Roma, já usando a dupla cidadania italiana, em uma estratégia que lembra os movimentos de outros bolsonaristas investigados por crimes no Brasil e protegidos por laços internacionais.
Fontes próximas ao Supremo veem o itinerário como indício de obstrução deliberada da justiça e possível cooptação de estruturas diplomáticas europeias.
Nova investigação no STF por coação e articulação criminosa
Além da condenação por fraude digital e falsificação de documento público, Zambelli é alvo de novo inquérito no STF por coação no curso do processo e por tentar obstruir investigações sobre organizações criminosas ligadas ao bolsonarismo.
A investigação foi autorizada após entrevista em que Zambelli afirmou que, mesmo fora do país, continuará seu trabalho de “denúncia” contra o Supremo Tribunal Federal. A fala foi interpretada por Moraes como tentativa explícita de intimidar e desacreditar o sistema de Justiça.
Exportação da retórica extremista para a Europa
Entre parlamentares e articuladores bolsonaristas, cresce a expectativa de que Zambelli tente replicar o papel exercido por Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, mas agora junto à extrema direita europeia.
Com cidadania italiana, a deputada aposta em proteção jurídica contra extradição e, ao mesmo tempo, na construção de uma narrativa internacional de “perseguida política” — estratégia já utilizada por outros ex-aliados de Bolsonaro investigados por tentativa de golpe, incitação à violência ou uso de milícias digitais.
O uso da Itália como base política não é casual: partidos da extrema direita local, como a Liga e o Fratelli d’Italia, têm conexões com o bolsonarismo e já manifestaram solidariedade a figuras da ultradireita brasileira.
O Carioca Esclarece
Zambelli será extraditada da Itália?
Depende. Embora a difusão vermelha da Interpol aumente a pressão internacional, a cidadania italiana pode complicar o processo. A Itália não é obrigada a extraditar seus cidadãos, e disputas políticas podem travar decisões judiciais.
A fuga de Zambelli foi ilegal?
Não necessariamente — mas foi uma manobra para contornar a execução imediata do mandado de prisão. Ela saiu do país antes da inclusão na lista da Interpol e não havia mandado de prisão internacional no momento do embarque. Ainda assim, sua conduta será considerada no novo inquérito.
Qual o impacto político da presença dela na Europa?
Zambelli tenta internacionalizar a retórica golpista do bolsonarismo, alinhando-se a grupos europeus de extrema direita. Seu objetivo não é apenas escapar da Justiça brasileira, mas influenciar o debate político internacional, enfraquecendo instituições democráticas por meio da desinformação.