O ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado por tentativa de golpe de Estado, protagonizou uma cena insólita e reveladora na manhã desta terça-feira (9) durante as oitivas no Supremo Tribunal Federal (STF). Meia hora antes do início do depoimento, Bolsonaro se isolou por cerca de 10 minutos no banheiro da Primeira Turma do STF, segundo testemunhas e registros da Folha de S.Paulo. O gesto, aparentemente banal, revela o grau de tensão e descompasso emocional do ex-mandatário diante da reta final do inquérito que pode levá-lo à prisão.
Enquanto aguardava a chegada dos ministros e demais réus, Bolsonaro, que compareceu sem esposa, filhos ou parlamentares aliados, teria assistido a vídeos em redes sociais dentro do banheiro. A defesa nega que o gesto tenha qualquer simbolismo, mas interlocutores próximos relatam que o ex-presidente vinha demonstrando nervosismo crescente desde a homologação da delação premiada de Mauro Cid.
Segurança reforçada e clima de hostilidade velada
O Supremo reforçou o esquema de segurança no anexo II-B, apelidado de igrejinha, local onde ocorrem os depoimentos reservados dos acusados de orquestrar um plano para impedir a posse de Lula da Silva em 2023. O ambiente era um misto de espetáculo institucional e constrangimento político.
Presentes no local, jornalistas, estudantes de Direito e advogados presenciaram uma cena desconectada do teor gravíssimo das investigações: Bolsonaro cumprimentando com descontração outros réus, como os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, ambos ex-ministros de seu governo.
Mesmo diante da proibição expressa de conversas entre os acusados — imposta pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo — o ex-presidente deu um tapa nas costas de Mauro Cid, que retribuiu com uma continência.
Entre o deboche e a intimidação institucional
O episódio no banheiro, por mais anedótico que pareça, marca o reencontro de Jair Bolsonaro com o Judiciário em sua posição mais frágil desde que deixou o cargo. Sem imunidade e com múltiplas frentes de investigação abertas, Bolsonaro enfrenta não apenas denúncias por tentativa de golpe, mas também processos por fraudes em cartão de vacinação, roubo de joias da União e associação criminosa com militares.
Sua presença no STF reacende memórias da escalada autoritária de 2022, quando tentou intimidar ministros da Corte com discursos inflamados, passeatas com motociclistas e ameaças veladas. Desta vez, o ex-presidente entrou calado e saiu calado. Mas o gesto de se trancar no banheiro, segundo fontes do tribunal, foi interpretado por alguns ministros como um recuo simbólico, típico de alguém acuado.
A delação de Mauro Cid e a tensão no ar
A defesa de Bolsonaro tenta descredibilizar a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e braço operacional do bolsonarismo militar. No entanto, documentos, áudios e vídeos entregues por Cid já serviram de base para pedidos de quebra de sigilo e novas diligências autorizadas pelo STF.
A sequência de depoimentos desta semana tem como foco central a reconstrução do suposto plano para impedir a posse de Lula, envolvendo articulações com generais da ativa e da reserva, empresários bolsonaristas e operadores do gabinete paralelo.
Nos bastidores, ministros do Supremo consideram que o cerco jurídico se estreitou significativamente, e que o comportamento de Bolsonaro, mesmo nos detalhes, pode pesar na avaliação final do plenário.
O Carioca Esclarece
Por que Bolsonaro foi ao STF?
Porque é réu em uma investigação por tentativa de golpe de Estado. O depoimento de hoje é parte do processo que apura a articulação para anular as eleições de 2022 e impedir a posse de Lula da Silva.
Bolsonaro pode ser preso após os depoimentos?
Sim. Embora não haja ordem de prisão imediata, o acúmulo de provas e a gravidade dos indícios podem levar à sua prisão preventiva, especialmente se houver risco de fuga, como sugerem as investidas diplomáticas frustradas para obter asilo em países como Itália e Hungria.
O que o gesto de se trancar no banheiro revela?
Mais do que um momento isolado, o comportamento sugere vulnerabilidade emocional e isolamento político. Em contraste com sua imagem pública de “inquebrável”, o ex-presidente se mostra visivelmente abalado diante do risco real de condenação.