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Bolsonarista Lucas Pavanato provoca e leva safanão de motoboy em SP

Audiência sobre mototáxi vira ringue após vereador bolsonarista atacar sindicalista ligado a Ricardo Nunes

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Vereador bolsonarista causou tumultuo na Câmara Municipal de São Paulo. Foto: reprodução

São Paulo (SP) — O vereador bolsonarista Lucas Pavanato (PL) aprendeu da pior forma que provocar trabalhador em plenário pode terminar em safanão. Durante uma audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo, nesta quinta-feira, o autoproclamado “forjado na guerra” acabou agarrado pelo colarinho após chamar o líder sindical Gilberto Almeida dos Santos, presidente do Sindmoto-SP, de “pelego do Ricardo Nunes”.

A sessão, que discutia a regulamentação dos serviços de mototáxi na capital paulista, escancarou não só a tensão social envolvendo o tema, mas também o estilo performático e desrespeitoso de figuras da extrema-direita que preferem a provocação ao diálogo. Pavanato, conhecido por sua retórica beligerante, provocou a ira do sindicalista ao tomar o microfone para atacá-lo verbalmente diante de dezenas de motociclistas que já vaiavam o representante da categoria.

Mototáxi na mira da guerra ideológica

O pano de fundo da confusão é a batalha em torno da regulamentação do mototáxi. O serviço, popular em outras cidades, enfrenta resistência do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que já se posicionou contra sua liberação. No início de 2025, tentativas de introdução por aplicativos foram barradas judicialmente.

A audiência era uma tentativa de retomar o debate, mas rapidamente descambou para o circo. Pavanato, ao atacar Gilberto Santos, acendeu o estopim. Irritado, o sindicalista atravessou o plenário, subiu à tribuna e agarrou o vereador pelo colarinho. A Guarda Civil Metropolitana (GCM) interveio, evitando o que poderia ter se transformado numa pancadaria generalizada.

“Me agrediram porque eu falei a verdade”, lamentou o vereador, exibindo escoriações leves aos fotógrafos e prometendo registrar boletim de ocorrência. Mas o discurso melodramático não colou para quem acompanhava o episódio em tempo real pelas redes.

Sindicato versus bolsonarismo

O Sindmoto-SP representa milhares de trabalhadores que enfrentam a precarização do setor, sem segurança jurídica, sem política pública e reféns de aplicativos e decisões de gabinete. Gilberto Santos, embora aliado de Nunes, tem travado batalhas por direitos básicos. Ser chamado de “pelego” por um vereador que se elegeu a reboque do bolsonarismo, conhecido por atacar sindicatos, soa como provocação gratuita — e perigosa.

Vale lembrar que o mesmo Lucas Pavanato foi protagonista de outras cenas constrangedoras dentro e fora do legislativo paulistano. Em 2023, foi advertido por espalhar fake news sobre o sistema eleitoral e por ofensas dirigidas a parlamentares da oposição. A retórica beligerante que o fez famoso entre os ultraconservadores também é a que agora o leva aos trending topics por apanhar de um motoboy revoltado.

Câmara tenta limpar a cena

A Câmara Municipal de São Paulo soltou uma nota protocolar, afirmando que “concorda com a democracia, não com violência”, e anunciou que a audiência será remarcada. O presidente da casa, Ricardo Teixeira (União), já declarou ser favorável à regulamentação do mototáxi, mas citou preocupações com os índices de acidentes: “Todas as cidades que começaram [a ter mototáxi] na grande São Paulo estão com números de acidentes com motociclistas até 50% maiores.”

A tentativa de transformar o incidente em um caso isolado ignora o cenário mais amplo: a combinação explosiva de precarização urbana, radicalização política e o desespero cotidiano de trabalhadores que não aceitam mais ser tratados como bucha de canhão por parlamentares oportunistas.

Plenário não é palanque de guerra

O episódio revela o colapso da capacidade institucional da extrema-direita de contribuir com qualquer debate construtivo. Pavanato não estava ali para ouvir, muito menos para mediar. Sua função era provocar, se vitimizar e alimentar as redes com mais um capítulo da guerra cultural imaginária que sustenta sua relevância política.

Mas desta vez, o script saiu do controle. O plenário da Câmara virou palco de confronto físico, e o vereador bolsonarista — sempre tão valente contra professores, jornalistas e ativistas — descobriu que nem todo trabalhador aceita ser humilhado calado.

A nova audiência está marcada para a próxima semana, mas o dano já está feito. O mototáxi segue sem regulamentação. E o bolsonarismo, mais uma vez, mostra que não sabe o que é democracia — nem com capacete.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.