São Paulo (SP) — O vereador bolsonarista Lucas Pavanato (PL) aprendeu da pior forma que provocar trabalhador em plenário pode terminar em safanão. Durante uma audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo, nesta quinta-feira, o autoproclamado “forjado na guerra” acabou agarrado pelo colarinho após chamar o líder sindical Gilberto Almeida dos Santos, presidente do Sindmoto-SP, de “pelego do Ricardo Nunes”.
A sessão, que discutia a regulamentação dos serviços de mototáxi na capital paulista, escancarou não só a tensão social envolvendo o tema, mas também o estilo performático e desrespeitoso de figuras da extrema-direita que preferem a provocação ao diálogo. Pavanato, conhecido por sua retórica beligerante, provocou a ira do sindicalista ao tomar o microfone para atacá-lo verbalmente diante de dezenas de motociclistas que já vaiavam o representante da categoria.
Mototáxi na mira da guerra ideológica
O pano de fundo da confusão é a batalha em torno da regulamentação do mototáxi. O serviço, popular em outras cidades, enfrenta resistência do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que já se posicionou contra sua liberação. No início de 2025, tentativas de introdução por aplicativos foram barradas judicialmente.
A audiência era uma tentativa de retomar o debate, mas rapidamente descambou para o circo. Pavanato, ao atacar Gilberto Santos, acendeu o estopim. Irritado, o sindicalista atravessou o plenário, subiu à tribuna e agarrou o vereador pelo colarinho. A Guarda Civil Metropolitana (GCM) interveio, evitando o que poderia ter se transformado numa pancadaria generalizada.
“Me agrediram porque eu falei a verdade”, lamentou o vereador, exibindo escoriações leves aos fotógrafos e prometendo registrar boletim de ocorrência. Mas o discurso melodramático não colou para quem acompanhava o episódio em tempo real pelas redes.
Sindicato versus bolsonarismo
O Sindmoto-SP representa milhares de trabalhadores que enfrentam a precarização do setor, sem segurança jurídica, sem política pública e reféns de aplicativos e decisões de gabinete. Gilberto Santos, embora aliado de Nunes, tem travado batalhas por direitos básicos. Ser chamado de “pelego” por um vereador que se elegeu a reboque do bolsonarismo, conhecido por atacar sindicatos, soa como provocação gratuita — e perigosa.
Vale lembrar que o mesmo Lucas Pavanato foi protagonista de outras cenas constrangedoras dentro e fora do legislativo paulistano. Em 2023, foi advertido por espalhar fake news sobre o sistema eleitoral e por ofensas dirigidas a parlamentares da oposição. A retórica beligerante que o fez famoso entre os ultraconservadores também é a que agora o leva aos trending topics por apanhar de um motoboy revoltado.
Câmara tenta limpar a cena
A Câmara Municipal de São Paulo soltou uma nota protocolar, afirmando que “concorda com a democracia, não com violência”, e anunciou que a audiência será remarcada. O presidente da casa, Ricardo Teixeira (União), já declarou ser favorável à regulamentação do mototáxi, mas citou preocupações com os índices de acidentes: “Todas as cidades que começaram [a ter mototáxi] na grande São Paulo estão com números de acidentes com motociclistas até 50% maiores.”
A tentativa de transformar o incidente em um caso isolado ignora o cenário mais amplo: a combinação explosiva de precarização urbana, radicalização política e o desespero cotidiano de trabalhadores que não aceitam mais ser tratados como bucha de canhão por parlamentares oportunistas.
Plenário não é palanque de guerra
O episódio revela o colapso da capacidade institucional da extrema-direita de contribuir com qualquer debate construtivo. Pavanato não estava ali para ouvir, muito menos para mediar. Sua função era provocar, se vitimizar e alimentar as redes com mais um capítulo da guerra cultural imaginária que sustenta sua relevância política.
Mas desta vez, o script saiu do controle. O plenário da Câmara virou palco de confronto físico, e o vereador bolsonarista — sempre tão valente contra professores, jornalistas e ativistas — descobriu que nem todo trabalhador aceita ser humilhado calado.
A nova audiência está marcada para a próxima semana, mas o dano já está feito. O mototáxi segue sem regulamentação. E o bolsonarismo, mais uma vez, mostra que não sabe o que é democracia — nem com capacete.

